DEFENDOR (2009)



Em uma época na qual de todo filme de heroi se espera um blockbuster (senão ele não teria motivo pra existir) um anúncio de que o vindouro filme do Quarteto Fantástico vai ignorar sua origem nas HQs provocou um efeito imediato no nerdismo das multidões.

E assim, desde antes do nascimento, o filme parece fadado ao esquecimento.
Não seria o primeiro e nem será o último filme de HQs a ter esse fim, caso se concretize.
Vários foram os motivos pelos quais longa-metragens variados de heróis de quadrinhos (ou simulando ser) mergulharam com peso nos pés no mar do esquecimento. Filmes que nem "Steel" (aquele mesmo estrelado pelo Shaquile O'Neal), ou "Hancock", ou o "Dylan Dog" estrelado pelo quase-Superman Brandon Routh, que juntamente com outros infinitos filmes hoje amarga o limbo.
Tá certo que muitos casos são de filmes realmente lixosos. Mas também há a categoria de filmes legais que se perdeu nas prateleiras das locadoras (que também hoje caíram no esquecimento), apesar de suas qualidades.
O filme dessa postagem é um desses.



Nada disso a respeito de esquecimento tem a ver com a atuação do protagonista, pelo menos.
Afinal, mais uma vez o Woody Harrelson toma conta da cena com competência e comprometimento com seu personagem.
Quem recentemente não tem visto o ator em blockbusters, pode lembrar dele da série elogiada True Detective (com uma atuação mais marcante, diga-se de passagem, do que no Defendor).
No filme, ele interpreta o personagem Arthur Poppington, que abraça a alcunha que entitula a obra.
Difícil não empatizar com o cara, fracassado, e acreditando que munido de recursos que vão de bolas de gude, a uma espécie de coquetel molotov de aparência constrangedora, mas eficácia razoável, ele pode realmente salvar o mundo.
Talvez não o Mundo todo.
É algo mais pessoal.
E é aí que reside um trunfo do filme do diretor Peter Stebbings.



Em nenhum momento ele descamba pra pirotecnia hegemônica do CG.
Na verdade os momentos em que ele concentra mais interesse são os voltados a apresentar mais da personalidade de seu alquebrado herói, que insiste sempre voltando ao ponto de início, mergulhado em um fracasso que todos os outros parecem perceber, menos ele próprio.

Algo que representa um ponto de mudança é a chegada de Katerina (Kat Dennings), que pouco se lixa pros romanceados sonhos heróicos do Arthur Poppington, desde que ela consiga arrumar algum $.

Mas óbvio que pra ambos, esse relacionamento vai significar enxergar as coisas de um modo diferente quando os 101 minutos chegarem ao fim.
Não tem muita pieguice nesse processo, e mesmo que o drama não seja daqueles de prender a atenção e o fôlego, é bem executado e sustenta bem uma trama que é bastante simples.
Quando as motivações de Arthur são apresentadas, o enredo faz com que tenha valido acompanhar a busca do herói pelo Capitão Indústria, seu arquirrival.
Isso porque em momento algum "Defendor" é um filme vendido como obra de ação ininterrupta ou como um longa-metragem que apesar de mal editado terá um final em aberto pra fazer esquecer os seus erros.
O filme de Peter Stebbings é basicamente correto e sincero (e corretamente editado, antes que alguém interprete errado a frase acima), e transparece isso desde o começo, sem megalomania alguma.


Fosse diferente, e suas aspirações parecessem grandiosas demais, quem sabe o espectador pudesse ter a impressão de um ingresso desperdiçado.
Mas muito pelo contrário.
Ainda que não se compare em intensidade, ele em muito me lembra o clássico "Anti-Heroi Americano".
Ambos aparentam ser muito menos do que são, e por trás da fachada surpreendem com a densidade que em muitos filmes de HQs é substituída no roteiro pelo que o storyboard das cenas de ação vai entregar.
Se "Defendor" caiu no esquecimento, é muito mais por uma dificuldade/desinteresse de se fingir de arrasa-quarteirões devorador de ingressos, quando o seu enfoque está em uma abordagem humana que, apesar de algumas falhas na condução da história, é forte o suficiente pra que a razão de existir de seus personagens não seja meramente esperar a cena de luta.
De qualquer modo, o esquecimento é fácil de driblar.
Um final em aberto qualquer resolveria isso, ao que parece nos últimos tempos.


Quanto vale:


Defendor. Recomendado para: retirar o filme da lista do esquecimento na qual injustamente ele se encontra, e curtir uma obra desinteressada em ser franquia.

Defendor
(Defendor)
Direção: Peter Stebbings
Duração: 101 minutos
Ano de produção: 2009

Gênero: Ação/Drama/Comédia

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