CJ7 (2008)



Algo de bastante sincero é algo que sempre é possível encontrar no cinema de Stephen Chow.
Isso porque seus trabalhos não costumam vir cheios de recomendações dos “cinéfilos sérios”, ou, mesmo apesar dos efeitos especiais, mantém uma simplicidade muito evidente, ainda que muitas vezes os embates dos personagens sejam bastante grandiloquentes.
Aliás, esse costume de retratar-se costumeiramente no papel de um mendigo parece colocá-lo sempre em uma situação tão deplorável que causa empatia ainda que seus personagens por vezes não sejam exemplos de integridade desde o início, tal qual foi em Kung Fusão (2004).
Mas seu personagem em "CJ7" lembra bem mais Shaolin Soccer (2001), ainda que dessa vez ele nem seja o protagonista.



CJ7 é uma incursão no humor, e não cinema de artes marciais com humor (mesmo que o humor possa estar em maior quantidade que as lutas).
E nesse filme do cineasta, roteirista, produtor, e também ator, mais uma vez acumulando todas essas funções, ele é o pai do protagonista, Dicky Chow, interpretado pelo Jiao Xu, que é um ator mirim de muita competência.

Na trama, que em um olhar raso poderia evocar uma espécie “Zathura” oriental, o envolvimento do guri protagonista é com um objeto espacial, que pra harmonizar com o contexto do filme é encontrado no lixo. 
E com o passar do filme qualquer similaridade com produções hollywoodianas vai se enfraquecendo, porque, apesar de não ser o mais genial dos filmes, CJ7 ainda assim conta com o estilo forte do seu diretor.
Não é pelo fato de estar realizando um filme assumidamente infantil que Stephen Chow abandona suas características, então pode se decepcionar quem esperar as grandes batalhas vistas nos seus dois mais populares trabalhos, mas também pode surpreender quem for na expectativa de apenas um filme família de piadas e final repetido.
Na história da dupla de pai e filho, paupérrimos, e ainda assim buscando viver com muita integridade, mesmo que o menino tente se adequar na escola, almeje o brinquedo caro que seus bullies com jeito de máfia mirim podem comprar, e que sua figura paterna viva os conflitos de tentar garantir uma perspectiva melhor de futuro pro seu herdeiro (de bons valores, apenas. É só o que ele tem pra deixar, mesmo), e outros elementos que soam muito clichês, existe sempre o nonsense à espreita, e ele faz um diferença positiva que qualquer pré-conceito prefere negar.
Esse nonsense está em um devaneio infantil de como solucionar as dificuldades da vida escolar, nas possibilidades que um aliado alienígena permitiria pra enfrentar desafetos na escola, nos interesses românticos inesperados que emergem na história, ou em lutas que lembram sempre do desperdício que foi o próprio Stephen Chow não ter dirigido o filme “Dragonball Evolution” (2009), ao invés de apenas produzi-lo.



Mas o foco central da história é na amizade do menino Dicky Chow, e CJ7, o artefato alien batizado por ele, e que vai forçar o enredo rumo ao aprendizado que ele precisa pra justificar ao final do filme todos os percalços pelos quais o protagonista passou.
Interessante que, apesar de os efeitos especiais não representarem nenhum ponto forte (nunca são plenamente convincentes na representação do CJ7), o draminha funciona na medida pra um filme infantil, e pra arrancar reconhecimento pelos méritos que uma obra tão ingênua e despretensiosa que nem essa.
E sobre os efeitos, não tem nada demais, mesmo. Afinal, se eu não considero filme bom por causa de efeitos especiais, não poderia considerar ruim avaliando meramente esse mesmo aspecto.
Até porque o CG pouco importa quando a hilária cena das baratas, ou a luta na escola, ou a interação do menino e a criatura espacial se impõe por si só diversão a mais do que tantos filmes inteiros supervalorizados com prêmios.
CJ7 nem parece requerer imersão do público pelo realismo. É uma fábula que pede do espectador o embarque na sua narrativa sem imaginar que aquilo é mais do que a diversão que oferece, e planta suas morais da história gradualmente.


Ainda que não seja nada inovador, e carregue umas tantas falhas e limitações, certamente não é nada a ignorar essa contribuição do cineasta a um gênero de cinema que não costuma ousar nada na maioria maçante que é lançada mensalmente atraindo os ingressos das crianças e de seus adultos responsáveis.
"CJ7" é um longa-metragem capaz de arrancar risadas de adultos e das crianças, respeitar a memória afetiva de quem aprecia os filmes anteriores do diretor, contar uma história com mensagem valiosa pros espectadores bem mais jovens, e não se importar com o que pode parecer exagerado e incompatível com a canastrice de filmes infantis oportunistas nascidos pra ser blockbuster.
Esse é só um filme infantil legal, que traz muito do cinema do seu autor tomando a cena de tantos em tantos minutos.
Ainda que não represente o seu melhor, é um lembrete de que Stephen Chow ainda sabe criar entretenimento, e que não precisa de muito dinheiro, e nem de hora e meia pra isso.


Quanto vale:

CJ7. Recomendado para: encontrar uma aliança inesperada entre morais da história, nonsense, e doses moderadas de pancadaria famigerada.

CJ7
(Cheung Gong 7 Hou)
Direção: Stephen Chow
Duração: 86 minutos
Ano de produção: 2008
Gênero: Comédia/Infantil

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