O Conto da Princesa Kaguya (2013)



Quem sabe pareça hype, ou uma forma de afirmar que os caras valorizam mais do que a técnica de animação padrão predominante nos blockbusters animados, mas o estúdio Ghibli têm marcado presença nas listas de indicados a melhor animação do Academy Awards.
Quem sabe.
O que não se pode questionar é a qualidade e interesse em atingir um novo padrão de excelência assim que uma produção é finalizada, algo mais uma vez demonstrado nessa adaptação d"O Conto do Cortador de Bambu".


E o diretor deste "O Conto da Princesa Kaguya" é ninguém menos que um dos grandes nomes do estúdio lendário, Isao Takahata, que juntamente com o igualmente lendário Hayao Miyazaki foi pilar na conquista de tamanho crédito frente a plateias e críticos do mundo todo.
Isao Takahata, conforme esperado de alguém que já realizou tanto, não se contenta em reprisar o que já fez. Por isso que este seu recente trabalho rejeita o padrão comercial, seja de técnica de animação, ou de condução da trama, pra criar uma obra que é acima de qualquer outra coisa madura e melancólica.

Algo que não é pré-moldado pra agradar as multidões de crianças que se encantam com o traço sensacional, ou o primeiro ato fabular.
O encantamento e deslumbramento nesse primeiro momento da história da princesa que "nasce" no interior de um tronco de bambu, e é encontrada por um lenhador, é a carga de importância pro dilema que a protagonista vive, e sua leveza, ainda que existente no restante do filme, passa a dividir a cena com o sofrimento da personagem, emaranhada em um mundo que ignora suas escolhas, e está determinado a torná-la alguém sem voz, sem opinião, e consequentemente sem felicidade real alguma.
Assim, enquanto desde bebê ela se apresenta uma pessoa impetuosa, e que respira liberdade com ânsia de viver imersa nela, a princesa que não respeita o tempo que os humanos julgam ser o correto pra crescer vai ter que aprender sobre esse cruel mundo no qual as pessoas abandonam o que são, pra fingir ser o que a sociedade estabeleceu como conduta honrada e adequada.
No roteiro a transição da personagem é marcada por eventos e personagens que representam as amarras sociais sempre à espreita dela, e que conduzem o enredo cada vez mais distante do humor e da ação que são capítulo imprescindível da cartilha do blockbuster de animação.
"O Conto da Princesa Kaguya" é um filme maduro o suficiente pra gerar rejeição em quem espera que todo filme de animação seja estritamente infantil e de morais da história jogadas na cara já no cartaz do filme. 
E essa forma particular de fazer cinema é parte do que o estúdio Ghibli tem providenciado há tantas produções, e que dessa vez conta com um visual que só não rouba a cena, por ser de maneira preciosista pensado pra catalisar o que de melhor a história possui. É uma forma de expressão que existe com a mesma importância do próprio roteiro ou dos personagens, porque a maneira como cenário e pessoas são retratados está nesse caso também falando com a plateia. 
O mundo ao redor se molda de formas diferentes de acordo com a percepção que a protagonista apresenta ao longo de seu aprendizado, e influencia na forma do público participar da história enquanto assiste.



Afinal, com todo o potencial artístico disponível, Isao Takahata viu a chance de narrar a história sobre predestinação e busca por liberdade, em um filme que muitas vezes não necessita de palavras pra expressar bem mais do que a Merida, de Valente, conseguiu com bravatas, flechadas, em 93 minutos de cinema comum e desimportante.
"O Conto da Princesa Kaguya" pode não fazer chorar que nem o irretocável "O Túmulo dos Vagalumes" do mesmo diretor, mas em sua forma autêntica e singela de abordar dilemas humanos, e em uma roupagem artística única, esse novo trabalho do diretor se estabelece uma extraordinária e reflexiva obra de arte, na qual a tristeza que emana só a faz ainda mais marcante.


Quanto vale:



O Conto da Princesa Kaguya. Recomendado para: ser o mais questionador longa-metragem de animação que 2014 proporcionou.

O Conto da Princesa Kaguya
(Kaguyahime no Monogatari)
Direção: Isao Takahata
Duração: 137 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Fantasia/Drama

A Crítica da maioria dos outros filmes indicados ao Oscar 2015 estão NESSE LINK.


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