Mad Max e o eterno retorno


Aquela trilogia do Mad Max lançada no alvorecer dos anos 80 era formada por filmes com uma característica em comum: os três apontavam o dedo para o futuro, mas mantinham os olhos encarando o passado.

Até mesmo aquele espectador alheio aos produtos pré-moldados da cultura pop, que vê dificuldades em diferenciar Star Wars de Star Trek e reclama até mesmo do Indiana Jones saindo intacto de uma explosão, até esse tipo de espectador, sabe que em Mad Max o futuro da humanidade se resume a um retorno para a barbárie, um regresso para o caos, uma volta para uma época em que a civilização se resume ao individualismo, ao cada um por si. Esse sempre foi o motor principal da trilogia distópica dirigida por  Miller, a ideia do retorno, a ideia de um futuro que, por não existir, faz a raça humana regressar aos seus instintos mais básicos.



Esse quarto filme da saga vai mais além na concepção de retorno. Isso porque não se trata de um retorno apenas aos tempos em que toda a ideia de civilização se resume um fiapo, mas também, é um retorno ao novo-velho cinema, ao tradicional jeito de filmar cenas de ação. Que é aquele jeito mais difícil (e mais poético) em que câmeras são posicionadas, os dublês rezam para os seus respectivos anjos da guarda não os abandonarem e os recursos da computação gráfica são utilizados com parcimônia. 

O diretor George Miller conseguiu ser moderno, mesmo sendo old school. Tão old school que ousou colocar um guerreiro empunhando uma guitarra flamejante sobre um caminhão de som pós-apocalíptico. E aquela guitarra lança-chamas é de verdade, aqueles tambores gigantes são de verdade, aquele deserto não é fundo verde, é fundo de verdade, enfim, Miller retornou ao cinema de verdade.


Mad Max – Estrada da Fúria traz também um retorno ao arquétipo do herói solitário, um tipo de personagem que está grudado no nosso inconsciente coletivo feito chiclé no asfalto. Um cidadão norte-americano, por exemplo, pode dizer que Max é um cowboy desprovido de cavalo, mas que anda de carro. Um oriental pode muito bem afirmar que Max é um samurai sem espada, mas que possui uma espingarda. Um nórdico poderá considerar Max um viking perambulando não em busca de Valhalla, mas de água e gasolina. Enfim, Max é o herói de mil faces tão caro a Joseph Campbell e a qualquer contador de histórias. Max é o retorno do cinema ao seu estado mais básico: a ação.


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