Apesar
de o próprio Mel Gibson não estar presente nesse novo filme
estrelado por Max Rockatansky, o primeiro filme que me veio à
mente enquanto assistia foi justamente um filme dirigido por ele.
Afinal,
Apocalypto, em sua proposta era também uma história de
perseguição. Pura e simples. Violenta e sem nada que o cinema
comercial tem vinculado na forma de padrão pra consumo de massa.
Uma
realidade suja e perversa, na qual a violência é sempre a forma
mais indicada pra se manter vivo.
Não
são necessariamente filmes parecidos, mas um lembra o outro.
Em sua
estrutura, que certamente não é nova, “Mad Max: Estrada da
Fúria” vem com um olhar de seu diretor George Miller,
que é desconectado do momento presente dos blockbusters, e
possivelmente por isso ampliou o alcance de seu hype pra além do que
um filme sem romance, sem humor leve, ou morais da história jogadas
na cara, costuma conseguir.
“Mad
Max: Estrada da Fúria” é desde a primeira cena até o seu
desfecho uma desenfreada epopeia de destruição, alta octanagem, e
questões nas entrelinhas, pontuadas por sequências que pedem ao
espectador pra evitar piscar o máximo que conseguir.
Intitulando
a obra está Max Rockatansky, dessa vez interpretado pelo
Tom Hardy, e que além de umas falas em off, se não me engano
não diz nada por uma grande parte de filme, até que enfim pede
água.
É
calado, porém não consentindo com sua situação, que o solitário viajante vê a
sociedade erguida pelo vilão Immortan Joe
(Hugh Keays-Byrne), em toda sua desigualdade e distopia, repleta de
insanos soldados com obstinações suicidas, dentre eles Nux,
interpretado por Nicholas Hoult, que vai desempenhar papel importante
na trama.
É
também por chegar à cidadela forrada de psicopatas que ele virá a
conhecer a protagonista do filme, Imperatriz Furiosa,
interpretada com a gabaritada competência da Charlize Theron
que não liga a mínima se não é o nome de sua personagem
estampando os cartazes e trailers.
Ela
quer o filme pra si, e relega a Max uma honrosa condição de
sidekick.
Não
vou nunca saber como é que seria esse filme se não fosse pela
presença da amazona Furiosa, mas com certeza perderia muito
da força que ela agrega através de olhares, tiros certeiros, e
falas sucintas e contundentes.
Enquanto
as castas mais baixas na cidadela almejam sobrevivência, Immortan
Joe vive pelo poder, seus soldados pelo Valhala cromado, e Max
vive por si mesmo e pela expiação de seus pecados, Furiosa
é a única a vislumbrar uma chance de futuro. Algo diferente do que
vivem, e com certeza qualquer futuro seria melhor do que a realidade
devastada que eles experimentam diariamente.
George
Miller prefere não parar o carro pra dar explicações.
Todo
mundo prossegue tendo seus propósitos bem estabelecidos, enquanto o
passeio pela paisagem árida, e os reduzidos diálogos estabelecem o
que é pilar de um filme que apesar de preferir enfoque na destruição
de veículos e pessoas, sabe que sem nada a dizer, apesar da
preferência pelo mínimo de CG, e da violência onipresente, seria
apenas mais um.
Mas
parte do que é importante na já marcante personagem Imperatriz
Furiosa, é que o cineasta deixou pra ela a maior parte do que impulsiona os questionamentos.
Ela é
quem força uma mudança no status quo, e que vai em desabalada
carreira conduzir todos em um inesperado redirecionamento que eleva a
figura feminina a um patamar que a comunidade liderada por Immortan
Joe jamais toleraria.
Então
o jeito é passar por cima das convenções e escolher o rumo que
apresenta uma série de perguntas inquietantes, e vai com certeza
deixar muitas baixas pelo deserto.
O
requinte ao qual o diretor se propõe está em deixar a crueza da
perseguição ainda mais visceral, algo que todo frame do filme
emana.
O
enredo simples, e fortemente orientado pela ação é um equilíbrio
poucas vezes visto entre explosões e conteúdo, que mesmo sendo
menos destacado, é uma presença evidente.
Porém,
apesar de tantos acertos, e de atuações fortes de Tom Hardy,
Hugh Keays-Byrne, Nicholas Hoult, e claro, de Charlize Theron,
“Mad Max: Estrada da Fúria” funciona enquanto retomada,
que permite em um segundo filme um roteiro mais voltado ao universo
ficcional à disposição, do que a reviravoltas em sequências
pirotécnicas.
Quando
isso ocorrer, sou obrigado a entregar mais no contador de ingressos da cotação
do filme.
E caso ocorra, o
farei com a certeza de ter testemunhado uma sequência de um dos
poucos blockbusters de ação desses tempos mais
interessados na integridade e compromisso de ser um bom filme, e não
em seguir fórmula pra agradar público-médio.
Quanto
vale:
Mad
Max: Estrada da Fúria. Recomendado para: esquecer por duas
horas o vendaval de firula CG que as salas de cinemas nos oferecem a
cada temporada.
Mad
Max: Estrada da Fúria
(Mad
Max: Fury Road)
Direção:
George Miller
Duração: 120 minutos
Ano
de produção: 2015
Gênero:
Ação/Ficção Científica
Sign up here with your email
EmoticonEmoticon