Mad Max: Estrada da Fúria (2015)



Apesar de o próprio Mel Gibson não estar presente nesse novo filme estrelado por Max Rockatansky, o primeiro filme que me veio à mente enquanto assistia foi justamente um filme dirigido por ele.
Afinal, Apocalypto, em sua proposta era também uma história de perseguição. Pura e simples. Violenta e sem nada que o cinema comercial tem vinculado na forma de padrão pra consumo de massa.
Uma realidade suja e perversa, na qual a violência é sempre a forma mais indicada pra se manter vivo.
Não são necessariamente filmes parecidos, mas um lembra o outro.


Em sua estrutura, que certamente não é nova, “Mad Max: Estrada da Fúria” vem com um olhar de seu diretor George Miller, que é desconectado do momento presente dos blockbusters, e possivelmente por isso ampliou o alcance de seu hype pra além do que um filme sem romance, sem humor leve, ou morais da história jogadas na cara, costuma conseguir.

Mad Max: Estrada da Fúria” é desde a primeira cena até o seu desfecho uma desenfreada epopeia de destruição, alta octanagem, e questões nas entrelinhas, pontuadas por sequências que pedem ao espectador pra evitar piscar o máximo que conseguir.
Intitulando a obra está Max Rockatansky, dessa vez interpretado pelo Tom Hardy, e que além de umas falas em off, se não me engano não diz nada por uma grande parte de filme, até que enfim pede água.
É calado, porém não consentindo com sua situação, que o solitário viajante vê a sociedade erguida pelo vilão Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), em toda sua desigualdade e distopia, repleta de insanos soldados com obstinações suicidas, dentre eles Nux, interpretado por Nicholas Hoult, que vai desempenhar papel importante na trama.
É também por chegar à cidadela forrada de psicopatas que ele virá a conhecer a protagonista do filme, Imperatriz Furiosa, interpretada com a gabaritada competência da Charlize Theron que não liga a mínima se não é o nome de sua personagem estampando os cartazes e trailers.
Ela quer o filme pra si, e relega a Max uma honrosa condição de sidekick.
Não vou nunca saber como é que seria esse filme se não fosse pela presença da amazona Furiosa, mas com certeza perderia muito da força que ela agrega através de olhares, tiros certeiros, e falas sucintas e contundentes.
Enquanto as castas mais baixas na cidadela almejam sobrevivência, Immortan Joe vive pelo poder, seus soldados pelo Valhala cromado, e Max vive por si mesmo e pela expiação de seus pecados, Furiosa é a única a vislumbrar uma chance de futuro. Algo diferente do que vivem, e com certeza qualquer futuro seria melhor do que a realidade devastada que eles experimentam diariamente.


George Miller prefere não parar o carro pra dar explicações.
Todo mundo prossegue tendo seus propósitos bem estabelecidos, enquanto o passeio pela paisagem árida, e os reduzidos diálogos estabelecem o que é pilar de um filme que apesar de preferir enfoque na destruição de veículos e pessoas, sabe que sem nada a dizer, apesar da preferência pelo mínimo de CG, e da violência onipresente, seria apenas mais um.
Mas parte do que é importante na já marcante personagem Imperatriz Furiosa, é que o cineasta deixou pra ela a maior parte do que impulsiona os questionamentos.
Ela é quem força uma mudança no status quo, e que vai em desabalada carreira conduzir todos em um inesperado redirecionamento que eleva a figura feminina a um patamar que a comunidade liderada por Immortan Joe jamais toleraria.
Então o jeito é passar por cima das convenções e escolher o rumo que apresenta uma série de perguntas inquietantes, e vai com certeza deixar muitas baixas pelo deserto.
O requinte ao qual o diretor se propõe está em deixar a crueza da perseguição ainda mais visceral, algo que todo frame do filme emana.


O enredo simples, e fortemente orientado pela ação é um equilíbrio poucas vezes visto entre explosões e conteúdo, que mesmo sendo menos destacado, é uma presença evidente.
Porém, apesar de tantos acertos, e de atuações fortes de Tom Hardy, Hugh Keays-Byrne, Nicholas Hoult, e claro, de Charlize Theron, “Mad Max: Estrada da Fúria” funciona enquanto retomada, que permite em um segundo filme um roteiro mais voltado ao universo ficcional à disposição, do que a reviravoltas em sequências pirotécnicas.
Quando isso ocorrer, sou obrigado a entregar mais no contador de ingressos da cotação do filme.
E caso ocorra, o farei com a certeza de ter testemunhado uma sequência de um dos poucos blockbusters de ação desses tempos mais interessados na integridade e compromisso de ser um bom filme, e não em seguir fórmula pra agradar público-médio.



Quanto vale:


Mad Max: Estrada da Fúria. Recomendado para: esquecer por duas horas o vendaval de firula CG que as salas de cinemas nos oferecem a cada temporada.

Mad Max: Estrada da Fúria
(Mad Max: Fury Road)
Direção: George Miller
Duração: 120 minutos
Ano de produção: 2015
Gênero: Ação/Ficção Científica
Previous
Next Post »