Quando
questionado a respeito do que fazer em uma sequência do filme
“Vingadores” (2012), o cineasta Joss Whedon aferiu
que o caminho seria diminuir a escala. A princípio um filme menor e
não cada vez mais grandiloquente em se tratando de ameaças e do
teatro de destruição engendrado pelo vilão.
Não
sei dizer até que ponto pode-se utilizar a palavra “menor” com
relação a esse “Vingadores: A Era de Ultron”, mas uma
coisa é certa: o olhar do roteiro está mais focado nos detalhes e
estruturação dos personagens, o que não necessariamente é algo
menor, mas sim mostra um objetivo mais direcionado às
individualidades que compõem o todo, em detrimento do simples
aumento do alcance dos ataques dos inimigos em cidades populosas.
Porém,
mais do que uma sequência de franquia e sucesso, “Vingadores: A
Era de Ultron” é o 11º filme de uma franquia maior que
relaciona personagens variados, seriados, e que não fica restrita ao
primeiro e segundo filmes da super-equipe da Marvel.
Vendo
desta forma, apesar de o sucesso comercial ser algo óbvio (nada
abaixo de $1 bilhão seria aceitável) as chances de um baque na
confiança do público, no caso de esse novo filme-evento ser
destruição redundante tal qual um “Transformers 2”,ou "O Hobbit: A Desolação de Smaug" era
quem sabe o maior risco.
Os
interesses manifestos de Joss Whedon indicavam um rumo
diferente da cagada do Michael Bay, mas não adianta ficar
proclamando interesses e na hora da sessão o filme entregue ser o
oposto.
“Vingadores:
A Era de Ultron”, no entanto, apesar de um filme de pirotecnia
fervilhante, no qual cada objeto de cena ou edificação corre severo
perigo quando qualquer personagem está por perto, lembra de reservar
várias das linhas de seu roteiro pra que seus personagens possam não
ser os mesmos aos olhos do público, e saiam diferentes do que eram
no início dessa nova aventura.
Um
ponto de vista quase mundano, que mostra os super-heróis mais
poderosos do planeta enfraquecerem em questionamentos e dúvidas
catalisadas pela presença do novo nêmesis: Ultron (James
Spader).
Curiosamente,
a ousadia de se arriscar a “diminuir” um filme que na teoria
teria que superlativar tudo no comparativo com seu predecessor,
funciona a contento, e conhecer mais do passado dos heróis (com
destaque para a Viúva Negra, e o Gavião Arqueiro) só
colabora pra essa não ser uma aventura esquecível.
E isso
seria fácil de acontecer se dependesse apenas do vilão Ultron competentemente interpretado pelo James Spader.
Mas
não dizendo que o personagem é mal utilizado, ou desinteressante.
Ele é sim uma força capaz de abalar os alicerces da equipe, mas
desde o fato de ele ser fruto de uma cagada do Tony Stark,
tendo jeito de problema surgido no episódio, até o
seu aparecimento apressado na história, há muito que poderia frustrar os planos do
Marvel Studios de estabelecer um novo filme consistente.
Os
detalhes acima tiram qualquer chance de esse segundo longa-metragem
ser chamado de épico, ou similares fomentadores de hype. Porém, o
fator entretenimento é forte, e dessa vez mais dependente dos
momentos de calmaria.
Obviamente,
a batalha entre Hulk e Hulkbuster, o plano-sequência
inicial, as cenas de enfrentamento contra infindáveis “Ultrons”
e qualquer outra cena do Hulk, são peça essencial na trama,
e não parecem estar ali pra cumprir cota de cenas de ação na
produção. Elas existem em harmonia com o roteiro, e isso é sempre
legal, ainda mais com os sempre excelentes efeitos especiais que não
sobram em sobreposição ao elenco.
O que
reduz o envolvimento, no entanto, é com certeza o desenrolar do
plano de Ultron.
A
vitória do núcleo heróico é sempre algo esperado, mas não custa
deixar isso menos claro ao longo do enredo. Afinal, o mirabolante
estratagema de Ultron não deixa dúvidas de que logo algo vai
ser resolvido no último instante. Sem a incerteza da solução,
acompanhar algumas sequências de embates torna-se mera formalidade
para o espectador, que apesar do entretenimento imediato, não
embarca na batalha final com o mesmo ar de surpresa e urgência que a
batalha de Nova York do primeiro filme propiciou.
Ainda
assim, as adições ao elenco rendem vários bons momentos, e o
perigo do atropelo de personagens soar repetição dos erráticos “O
Cavaleiro das Trevas Ressurge”, e “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro” se desfaz com Joss
Whedon mais uma vez separando o tempo certo pra cada um mostrar a
que veio. Dessa forma, os novos rostos de Feiticeira Escarlate
(Elizabeth Olsen), Mercúrio (Aaron Taylor-Johnson), Visão
(Paul Bettany), e Ulysses Klaw/Garra Sônica (Andy Serkis) estão
devidamente e corretamente bem apresentados ao universo que Gavião
Arqueiro (Jeremy Renner), Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) Capitão
América (Chris Evans), Viúva Negra (Scarlet Johanson), Hulk (Mark
Ruffallo), e Thor (Chris Hemsworth) integram com
naturalidade.
O
personagem Visão, principalmente, diz muito sobre esse plano
bem elaborado pelo estúdio, e que transporta pro live-action seus
personagens em profusão, de modo que o leitor habitual de HQs
conheça versões dignas dos personagens icônicos, e que a plateia
não afeita aos quadrinhos seja apresentada a heróis e vilões que
podem agora ser empregados em futuras produções sem causar
estranhamento.
O
humor, novamente afiado, mantém uma mais densa trama com um pouco
mais de leveza e momentos hilários tais quais a cena do concurso do
Mjolnir, a aparição do Stan Lee, ou falas isoladas, que completam um quadro equilibrado apesar de falhas pontuais.
De
qualquer forma, ao final do filme, ainda que Ultron seja mais
um ameaçador inimigo de ocasião, a segunda aventura da super-equipe deixa uma
certeza de que o Marvel Studios ainda sabe bem o que está
fazendo.
Vários
elementos são adicionados mantendo expectativa alta pro que vem por
aí na Guerra Infinita, e no filme do Pantera Negra e outros ganham aprofundamento, com
exemplo principal no personagem Hulk, o qual ganhou na
interpretação de Mark Ruffallo para o Dr. Bruce Banner,
e em sua contraparte digital, uma versão próxima de algumas das
melhores HQs do personagem, seja nas várias cenas de destruição
incontida do gigante, ou na sutileza de diálogos do cientista.
Os
links a outros vindouros filmes estão espalhados por todo canto, não
repetindo os problemas do desperdício de oportunidade que foi “Homem de Ferro 3”, por exemplo, mas sim fixando outro importante
degrau nessa que é a maior franquia da história do cinema, e que
teve início no longínquo 2008 com o primeiro “Homem de Ferro” do diretor Jon Favreau.
Vingadores:
A Era de Ultron. Recomendado para: uma dose de entretenimento que
pode ser mais despretensiosa ainda que seu predecessor, mas nem por
isso é inútil.
Vingadores:
A Era de Ultron
(Avengers:
Age of Ultron)
Direção:
Joss Whedon
Duração: 141 minutos
Ano
de produção: 2015
Gênero:
Aventura/Ação
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