True Detective - Primeiro episódio da segunda temporada


A primeira temporada de True Detective fez alarde entre os fãs de série de histórias de suspense. O clima que remete ao clássico Twin Peaks, os elementos sobrenaturais jogados em doses homeopáticas, referências ao Rei de Amarelo do escritor Robert W. Chambers, foram apenas alguns dos aspectos que fisgaram o público e fizeram a crítica jogar confetes para essa série criada por Nic Pizzolatto.


A primeira temporada de True Detective foi finalizada com a certeza de que o principal objetivo não era desvendar um crime hediondo, mas sim, apontar os holofotes para as camadas psicológicas dos dois protagonistas.

A fase inicial da série foi uma boa história e, como qualquer boa história, teria que ter um fim. Portanto, os roteiristas terão que fazer malabarismos para habituar o público a não testemunhar mais os diálogos niilistas de Rust Cohle, nem mesmo o visual interiorano da Louisiana. A segunda temporada de True Detective iniciou uma outra história, costurada por outro mistério, mas os produtores de bobos não tem nada e, logo nesse episódio de estreia, investiram naquilo que a série possui de melhor: a construção psicológica dos protagonistas.

Do time inicial de True Detective, apenas o criador e roteirista, Nic Pizzolatto, continua nos bastidores da atração. A segunda temporada tem a direção de Justin Lin (Velozes e Furiosos) e não conta mais com o diretor Cary Fukunaga, nem mesmo com a canção soturna do Handsome Family nos créditos iniciais.

Se antes Rusty era uma espécie de Nietzsche dos detetives com a sua visão existencial e trágica da raça humana (em contradição com o seu colega Hart), agora a série entra em campo com três protagonistas que vivem no limite. Cada um deles sofrendo por seus erros e desvio de personalidade.

O primeiro episódio é justamente uma apresentação desses seres erráticos e de suas motivações iniciais.
O episódio se inicia com Collin Farrel no papel do detetive Ray Velcoro, um ébrio violento, divorciado e sem muitas perspectivas em sua vida cotidiana. A história de Ray é contada em um rápido flashback: sua esposa foi estuprada e engravida na mesma época, ele não tem certeza sobre quem é o pai da criança. 


No desespero, Velcoro aceitou a informação sobre a identidade do homem que violentou sua mulher, vinda de um chefão do crime. Como agradecimento, o arrasado detetive aceitou prestar os seus serviços para esse mesmo chefão do crime. Velcoro é um desgraçado que ostenta um bigode típico de vilão de filmes western. Só nesse episódio ele joga na cara do espectador uma série de desvios: aparece bebendo durante o trabalho, amanhece em bares, recebe grana da bandidagem, agride jornalistas, rouba documentos, atormenta o seu próprio filho (será que é seu filho?), dá uma surra no pai de um guri e ameaça estuprar os pais do mesmo. E isso foi apenas o primeiro episódio.

Depois é a vez de Rachel McAdams aparecer em cena. O nome dela é Ani Bezzerides (na verdade é Antigone - filha de Jocasta e Édipo, que é uma referência a tragédia grega Antígona de Sófocles). Ani é uma mulher com problemas tanto no aspecto pessoal quanto no profissional. 

Na sua primeira aparição, um cidadão protesta contra a agressividade dela na cama. Mais tarde ela aparece em uma batida em um bordel flagrando a própria irmã, Thena (ou Athena, olha a mitologia grega aí de novo), que protagoniza vídeos de putaria na internet.

A gênese de seus conflitos, a princípio, é o próprio pai, uma espécie de líder hipponga que aparece citando Gingsberg enquanto os seus devotos o rodeiam mesmerizados. Talvez por ser adepto de uma filosofia que prioriza a calma, o cidadão reage com uma paciência estoica quando Ani fala da profissão da irmã. 

- "O que você julga ser pornografia?" - ele questiona para a filha quando ela condena o estilo de vida da irmã.



O detetive que completa o power trio de desajustados nessa temporada é interpretado por Taylor Kitsch, que encarna o patrulheiro rodoviário Paul Woodrugh. O sujeito é um veterano de guerra que encontrou na patrulha das rodovias um escudo para se proteger de alguns problemas do passado. 

Contudo, ele é desviado do seu caminho ao abordar uma motorista dirigindo bêbada que, para escapar da confusão, o acusa de fabricar acusações para ganhar favores sexuais. Afastado do trabalho por conta disso, Woodrugh é enviado para casa em férias forçadas. Apesar dele ter em seu lar uma gostosa que parece estar sempre pronta para protagonizar atos libidinosos, o cara não consegue esquecer os seus traumas de guerra, já que as cicatrizes e queimaduras que ele carrega no corpo parecem ser visíveis não apenas em seu corpo, mas também em sua alma.

Mas o que mais salta aos olhos é a sua nítida busca pela morte, o que fica claro quando Woodrugh pilota sua moto pela estrada com a mesma disposição de quem almeja superar a velocidade da luz, como se estivesse torcendo para atingir um carro ou voar da pista e despencar em um precipício.

Apresentados os personagens desse antro de perfídia e corrupção, afinal, qual é então o fio condutor da segunda temporada?



O motor da trama é acionado por um ex-gangster e atual dono de cassino chamado Frank Semyon, vivido por Vince Vaughn em atuação que poderá surpreender quem está habituado a ver o cara em comédias.

Semyon está tentando sustentar o seu império tornando através do desenvolvimento de uma ferrovia a ser construída no sul da Califórnia. Frank faz um esforço hercúleo para levar esse empreendimento em diante, comprando políticos locais e utilizando o seu policial-fantoche, Ray Velcoro, para ameaçar jornalistas.
Para concretizar esse projeto, Frank necessita de um administrador civil chamado Ben Caspere no qual ele apostou todas as suas fichas. O problema é que o homem parece ter evaporado quando uma apresentação do projeto está preste a ser feita para angariar investidores.

Sem saída, Frank ordena que Velcoro encontre Caspere. Assim, uma busca na mansão do homem revela que esse tal de Caspere possui gostos bizarros. A mansão é decorada com peças de cunho sexual e réplicas falocêntricas dos mais variados tamanhos. Além disso, ao adentrar na mansão, Velcoro repara que o lugar foi bagunçado e que o sujeito sumiu do mapa. 

Caspere é visto algumas vezes ao longo do episódio, na maioria das vezes, sendo conduzido, aparentemente inconsciente de carro pelas estradas até seu corpo ser jogado em um local afastado. O corpo de Caspere é abandonado sentado em um banco de parque, como se ele fosse um mero turista em um momento de descanso.

E é exatamente a descoberta do referido cadáver, nos instantes finais do episódio, que vai unir os três policiais e o modus operandi dessa temporada é revelado.

“E os aspectos sobrenaturais da trama?” Pode perguntar o incauto leitor.
Ainda é cedo fazer uma previsão a respeito do misticismo dessa temporada, mas alguns elementos estranhos foram apresentados. O nome do episódio, O Livro dos Mortos Ocidental, e o estado do cadáver, dão pistas de que o oculto poderá surgir na narrativa.

O Livro dos Mortos é um famoso texto do Egito antigo. Ele é parte fundamental na religião dos antigos deuses do Delta do Nilo. Ele narra a viagem da alma após a morte através de um rio no submundo onde esta será julgada pelos seus pecados. A vítima, Caspere, teve os seus olhos queimados com ácido e sofreu "ferimentos na região pélvica", tais características apontam para algo mais estranho do que um simples assassinato. Será que foi algum ritual de sacrifício?

O fato é que esse primeiro episódio abriu várias portas e inúmeros caminhos serão percorridos até o episódio derradeiro.


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1 comentários:

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Anónimo
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23 de julho de 2015 às 15:17 delete

A série é ótimo, eu adoro o tecido que você usa, os atores são ótimos, conseguiu pegar a primeira temporada inteira, a segunda temporada não perdê-lo para o mundo.

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