Hindsight (2011)



Basta ver uns dois ou três dos filmes sul-coreanos que chegaram a ser lançados em território brasileiro, pra receber com certo estranhamento este “Hindsight”.
Um engano providenciado muito mais pelas escolhas de títulos mais extremos no quesito violência, e que não necessariamente resumem a produção cinematográfica da Coreia do Sul.
Verdade que a popular “Trilogia da Vingança” de Chan-Wook Park tem muito dos porquês de o cinema do país ser tão reverenciado, mas com certeza suas características não são regras pra que os longa-metragens sul-coreanos sejam realmente bons.
Basta constatar os flertes com outros gêneros cinematográficos, vistos em “O Hospedeiro”, do Bong Joon-Ho, ou mesmo em “I’m Cyborg But That’s Ok”, e “Sede de Sangue”, do próprio Chan-Wook Park, ou “Demência”, e trabalhos mais sutis tais quais “Cold Eyes”, pra ir notando que a pluralidade de abordagens também é algo recorrente.




Ainda assim, “Hindsight”, enquanto filme de máfia, é muito mais um drama, de contornos quase românticos, várias vezes. E isso soa bastante inusitado.
Mas não por isso ruim.

Dirigido pelo Hyun-Seung Lee, o filme já parte fora do lugar comum ao apresentar seu protagonista envolvido com afinco em sua aula de culinária, e em seus planos de abrir o próprio restaurante.
Protagonizado pelo excelente ator Kang Ho-Song (que pode ser visto na “Trilogia da Vingança”, em “O Hospedeiro”, “Memórias de Um Assassino”, “Expresso do Amanhã”, “Zona de Risco”, e outros trabalhos notáveis), a produção já conta com um elemento que atesta qualidades no roteiro, mesmo antes do minuto inicial. Afinal, a filmografia do autor tem sido repleta de trabalhos elogiáveis, e nesse sentido, pesa a favor de “Hindsight” o critério do ator na escolha de projetos dos quais aceita participar.
Ele interpreta Doo-Hyeon, um cara que não demonstra, obviamente sua relevância no mundo da máfia, e que por razões que o filme explica, passa a viver um relacionamento de proximidade com a personagem Se-Bin (interpretada pela Se-Kyung Shin), o que proporciona tanto momento de tiroteio, quanto de dramaticidade leve.
Leve porém com a interpretação dele adicionando densidade aos diálogos entre eles.
E isso é algo de que “Hindsight” realmente precisava.
Ainda que tenha suas cartadas mais ousadas vez ou outra, o filme também sofre com algumas amenidades e escolhas menos inspiradas, que fazem dele um divertido filme-pipoca, sem a violência típica, mas que alicerçado no contexto geral do enredo, e no seu protagonista, passa a funcionar com integridade.


A história vem embalada por direção de fotografia agradável, e edição que não deixa espaço pra que o lado dramático o faça especificamente um drama.
Hindsight” ainda é um filme sul-coreano, e flerta entre o drama, comédia, romance e ação, com a naturalidade que o cinema estadunidense parece em grande parte julgar incompreensível para o público-médio.
Na mencionada leveza da trama, o cineasta Hyun-Seung Lee torna bastante acessível e palatável o seu filme, sem pra isso abrir mão da estilização.
Ainda que em várias ocasiões desvie do que poderia torná-lo verdadeiramente memorável, consegue manter tal qual os melhores de Chan-Wook Park, ou de Bong Joon-Ho, ou “O Caçador”, “A Dirty Carnival”, “Demência”, ouI Saw The Devil”, uma assinatura de originalidade que permeia o cinema sul-coreano, e que a contragosto da padronização que povoa os blockbusters por aqui, tem funcionado seguidas vezes.
É o filme com jeito de açucarado, que não gera constrangimento nenhum em recomendar pra uma sessão de cinema menos pretensiosa, mas nem por isso ruim.



Quanto vale:


Hindsight. Recomendado para: ser mais um exemplo de interação harmoniosa entre gêneros cinematográficos bem distintos.

Hindsight
(Poo-Reun So-Geum)
Direção: Hyun-Seung Lee
Duração: 122 minutos
Ano de produção: 2011
Gênero: Drama/Ação

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