Basta
ver uns dois ou três dos filmes sul-coreanos que chegaram a ser
lançados em território brasileiro, pra receber com certo
estranhamento este “Hindsight”.
Um
engano providenciado muito mais pelas escolhas de títulos mais
extremos no quesito violência, e que não necessariamente resumem a
produção cinematográfica da Coreia do Sul.
Verdade
que a popular “Trilogia da Vingança” de Chan-Wook Park
tem muito dos porquês de o cinema do país ser tão reverenciado,
mas com certeza suas características não são regras pra que os
longa-metragens sul-coreanos sejam realmente bons.
Basta
constatar os flertes com outros gêneros cinematográficos, vistos em
“O Hospedeiro”, do Bong Joon-Ho, ou mesmo em “I’m
Cyborg But That’s Ok”, e “Sede de Sangue”, do
próprio Chan-Wook Park, ou “Demência”, e
trabalhos mais sutis tais quais “Cold Eyes”, pra ir
notando que a pluralidade de abordagens também é algo recorrente.
Ainda
assim, “Hindsight”, enquanto filme de máfia, é muito
mais um drama, de contornos quase românticos, várias vezes. E isso
soa bastante inusitado.
Mas
não por isso ruim.
Dirigido
pelo Hyun-Seung Lee, o filme já parte fora do lugar comum ao
apresentar seu protagonista envolvido com afinco em sua aula de
culinária, e em seus planos de abrir o próprio restaurante.
Protagonizado
pelo excelente ator Kang Ho-Song (que pode ser visto na
“Trilogia da Vingança”, em “O Hospedeiro”, “Memórias
de Um Assassino”, “Expresso do Amanhã”, “Zona de Risco”,
e outros trabalhos notáveis), a produção já conta com um elemento
que atesta qualidades no roteiro, mesmo antes do minuto inicial.
Afinal, a filmografia do autor tem sido repleta de trabalhos
elogiáveis, e nesse sentido, pesa a favor de “Hindsight”
o critério do ator na escolha de projetos dos quais aceita
participar.
Ele
interpreta Doo-Hyeon, um cara que não demonstra, obviamente
sua relevância no mundo da máfia, e que por razões que o filme
explica, passa a viver um relacionamento de proximidade com a
personagem Se-Bin (interpretada pela Se-Kyung Shin), o
que proporciona tanto momento de tiroteio, quanto de dramaticidade
leve.
Leve
porém com a interpretação dele adicionando densidade aos diálogos
entre eles.
E isso
é algo de que “Hindsight” realmente precisava.
Ainda
que tenha suas cartadas mais ousadas vez ou outra, o filme também
sofre com algumas amenidades e escolhas menos inspiradas, que fazem
dele um divertido filme-pipoca, sem a violência típica, mas que
alicerçado no contexto geral do enredo, e no seu protagonista, passa
a funcionar com integridade.
A
história vem embalada por direção de fotografia agradável, e
edição que não deixa espaço pra que o lado dramático o faça
especificamente um drama.
“Hindsight”
ainda é um filme sul-coreano, e flerta entre o drama, comédia,
romance e ação, com a naturalidade que o cinema estadunidense
parece em grande parte julgar incompreensível para o público-médio.
Na
mencionada leveza da trama, o cineasta Hyun-Seung Lee torna
bastante acessível e palatável o seu filme, sem pra isso abrir mão
da estilização.
Ainda
que em várias ocasiões desvie do que poderia torná-lo
verdadeiramente memorável, consegue manter tal qual os melhores de Chan-Wook
Park, ou de Bong Joon-Ho, ou “O Caçador”, “A
Dirty Carnival”, “Demência”, ou “I Saw The Devil”, uma assinatura de originalidade que
permeia o cinema sul-coreano, e que a contragosto da padronização
que povoa os blockbusters por aqui, tem funcionado seguidas vezes.
É o
filme com jeito de açucarado, que não gera constrangimento nenhum
em recomendar pra uma sessão de cinema menos pretensiosa, mas nem
por isso ruim.
Quanto
vale:
Hindsight.
Recomendado para: ser mais um exemplo de interação harmoniosa entre
gêneros cinematográficos bem distintos.
Hindsight
(Poo-Reun
So-Geum)
Direção:
Hyun-Seung Lee
Duração:
122 minutos
Ano
de produção: 2011
Gênero:
Drama/Ação
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