Diário de Um Jovem Médico (2012-2013)



Apesar de incomum aqui no Satélite falarmos a respeito de séries, no caso desta série britânica, se considerarmos o tempo total, somando as suas duas temporadas é quase como se falássemos de um filme em longa-metragem.
Contando com episódios de 23 minutos, 4 em cada temporada, "Diário de Um Jovem Médico", apesar de coesa, no entanto não é pensada pra que a amarração entre episódios simule uma obra pra ser assistida inteira de uma vez, tal qual certas produções da Netflix (vide “Demolidor”).
A história se passa entre 1917 e 1918, adapta a semi-biográfica obra "A Country Doctor's Notebook" do autor russo Mikhail Bulgakov, e mostra o médico mencionado no título, interpretado pelo Jon Hamm (o Don Draper, de Mad Men), em um momento no qual sua carreira tá indo pro lixo devido ao vício em morfina, e que ao enterrar a mente nas páginas de um velho diário, revisita os tempos em que ele, um jovem médico ia confrontar a realidade de uma comunidade isolada na gélida Rússia.
Então, se inicia uma interessante dinâmica de interação entre ele, conversando e argumentando com seu eu mais novo, interpretado pelo Daniel Radcliffe (fazendo o certo pra não ficar preso apenas ao papel de Harry Potter, na carreira).
No pequeno hospital, de condições cada vez mais precárias, ele encontra os funcionários que além de propiciarem momentos de humor, contribuem pro estado cada vez mais desolado da personalidade do médico, bastante convencido por suas notas na faculdade, mas aos poucos questionando seus valores morais e ética, frente ao contexto de limitações, pacientes que são tragedias anunciadas desde que batem à porta, e uma iminente guerra que ameaça chegar à afastada localidade de Mryovo.



No andar dos episódios, esses fragmentos conduzem o médico interpretado pelo Jon Hamm em busca de algum tipo de auto-perdão, e de alguma forma de olhar pros seus erros sem ver nisso motivo pra se refugiar mais uma vez na morfina.
No misto de comédia e drama, a densidade do segundo se faz cada vez mais presente, principalmente na segunda temporada, denominada no original “A Young Doctor’s Notebook, and Other Stories”, e mesmo que personagens tais quais Anna (Vicki Pepperdine), e o Feldsher (Adam Godley)  representem em maior parte das cenas o lado cômico, é na pessoa da Pelageya (Rosie Cavaliero) que recai grande intensidade a respeito das escolhas do médico.
Quando se encerra o seriado, ao nos apresentar a vida flagelada do protagonista, é perceptível muito mais que o ponto de vista escolhido por ele pra encarar sua situação foi o maior responsável por levá-lo ao fundo do poço, e não necessariamente as dificuldades enfrentadas, e nisso há o aprendizado suficiente pra justificar o sofrimento auto-imposto por ele ao revisitar a época da qual o que se destacou de suas atitudes acabou não sendo algo pra se orgulhar.



Em tempo, ainda que os poucos efeitos CG presentes não sejam convincentes, a série acerta no que realmente importa que é roteiro, ritmo da trama, e com certeza as atuações de todos os envolvidos, na produção televisiva que se disfarça de comédia de época pra figurar na mente após o seu término repleta de qualidades notáveis.
Mas, além disso, com apenas 8 episódios de menos de meia hora e com tanto a dizer, "Diário de Um Jovem Médico" automaticamente faz lembrar dos porquês de eu deixar de lado uns pastiches que utilizam 10 minutos por episódio pra contar história, e outros 40 pra chamar de filler.



A Young Doctor’s Notebook. Recomendado para: colocar em perspectiva se uma série desperdiçar 20 e poucos episódios de 50 minutos sem dizer quase nada, é indício de que é uma série que vale mesmo a pena assistir.

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