Apesar
de incomum aqui no Satélite falarmos a respeito de séries,
no caso desta série britânica, se considerarmos o tempo total, somando as suas duas
temporadas é quase como se falássemos de um filme em
longa-metragem.
Contando com episódios de 23 minutos, 4 em cada temporada, "Diário de Um Jovem Médico", apesar de coesa, no entanto não é pensada pra que a amarração entre episódios simule uma obra pra ser assistida inteira de uma vez, tal qual certas produções da Netflix (vide “Demolidor”).
A
história se passa entre 1917 e 1918, adapta a semi-biográfica obra "A Country Doctor's Notebook" do autor russo Mikhail Bulgakov, e mostra o
médico mencionado no título, interpretado pelo Jon Hamm (o
Don Draper, de Mad Men), em um momento no qual sua
carreira tá indo pro lixo devido ao vício em morfina, e que ao
enterrar a mente nas páginas de um velho diário, revisita os tempos
em que ele, um jovem médico ia confrontar a realidade de uma
comunidade isolada na gélida Rússia.
Então,
se inicia uma interessante dinâmica de interação entre ele,
conversando e argumentando com seu eu mais novo, interpretado pelo
Daniel Radcliffe (fazendo o certo pra não ficar preso apenas
ao papel de Harry Potter, na carreira).
No
pequeno hospital, de condições cada vez mais precárias, ele
encontra os funcionários que além de propiciarem momentos de humor,
contribuem pro estado cada vez mais desolado da personalidade do
médico, bastante convencido por suas notas na faculdade, mas aos
poucos questionando seus valores morais e ética, frente ao contexto
de limitações, pacientes que são tragedias anunciadas desde que
batem à porta, e uma iminente guerra que ameaça chegar à afastada
localidade de Mryovo.
No
andar dos episódios, esses fragmentos conduzem o médico
interpretado pelo Jon Hamm em busca de algum tipo de auto-perdão, e
de alguma forma de olhar pros seus erros sem ver nisso motivo pra se
refugiar mais uma vez na morfina.
No
misto de comédia e drama, a densidade do segundo se faz cada vez
mais presente, principalmente na segunda temporada, denominada no original “A
Young Doctor’s Notebook, and Other Stories”, e mesmo que
personagens tais quais Anna (Vicki Pepperdine), e o Feldsher (Adam Godley) representem em maior parte das
cenas o lado cômico, é na pessoa da Pelageya (Rosie Cavaliero) que recai grande intensidade a respeito das
escolhas do médico.
Quando
se encerra o seriado, ao nos apresentar a vida flagelada do
protagonista, é perceptível muito mais que o ponto de vista
escolhido por ele pra encarar sua situação foi o maior responsável
por levá-lo ao fundo do poço, e não necessariamente as
dificuldades enfrentadas, e nisso há o aprendizado suficiente pra
justificar o sofrimento auto-imposto por ele ao revisitar a época da
qual o que se destacou de suas atitudes acabou não sendo algo pra se
orgulhar.
Em
tempo, ainda que os poucos efeitos CG presentes não sejam
convincentes, a série acerta no que realmente importa que é
roteiro, ritmo da trama, e com certeza as atuações de todos os
envolvidos, na produção televisiva que se disfarça de comédia de
época pra figurar na mente após o seu término repleta de
qualidades notáveis.
Mas,
além disso, com apenas 8 episódios de menos de meia hora e com
tanto a dizer, "Diário de Um Jovem Médico" automaticamente faz lembrar dos porquês de eu deixar de lado uns
pastiches que utilizam 10 minutos por episódio pra contar história,
e outros 40 pra chamar de filler.
A
Young Doctor’s Notebook. Recomendado para: colocar em
perspectiva se uma série desperdiçar 20 e poucos episódios de 50
minutos sem dizer quase nada, é indício de que é uma série que
vale mesmo a pena assistir.
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