A circunstância, contexto, e todos os etcs em que assisti o filme "Dia de Treinamento" acabaram gravados na minha memória.
Parecia que o intento do cérebro era deixar registrado mais do que o fato de que eu havia assistido um baita filme. A ocasião toda passou a ter importância, e torna a experiência memorável de assistir algo que prometia ser tão simplória, e permanece impactante até hoje.
A lista de responsáveis a apontar pela obra com certeza contém nomes do elenco liderado pela atuação perfeita do Denzel Washington, mas o nome do diretor Antoine Fuqua, na certa merece a parcela de aplausos.
A partir dali, no entanto, por mais que que eu tenha tentado acompanhar com otimismo a filmografia do cineasta, nada que chegasse a poucos passos da qualidade de "Dia de Treinamento" foi realizado por ele.
O seu trabalho do ano passado, "O Protetor", ainda que resgate a aura de divertidos filmes policiais de vingança, ainda é um trabalho pequeno frente ao seu filme mais importante.
Já em 2015, outro dos longa-metragens de aspecto e produção ambiciosos vem com a assinatura do diretor, com outro elenco celebrado, e uma nova oportunidade de fazer frente ao que de melhor é listado nos créditos de suas realizações cinematográficas.
"Nocaute" ("Southpaw", no original) exige atenção de início pelo simples fato de que é estrelado por Jake Gyllenhaal, Rachel McAdams, e Forest Whytaker.
E os três, realmente desempenham muito bem seus respectivos papeis.
Gyllenhall interpreta Billy Hope, um campeão de boxe que torna a raiva sua aliada nas lutas em que faz questão de usar os golpes desferidos contra sua cara como combustível pra nocautes. O papel, inicialmente seria do rapper Eminem, que acabou abandonando o filme, porém assina a música Phenomenal, que integra a trilha.
Quanto ao pugilista, que é o fio desencapado que vive o protagonismo da história, ele é esquentado, e até pelos resultados positivos na carreira, nem ele, e nem o empresário do cara encontram motivos pra que fosse diferente,
O pouco de equilíbrio que ele possui atende pelo nome Maureen (Rachel McAdams), sua esposa, e a pessoa que toma as decisões na vida dele e da filha do casal, interpretada pela Oona Laurence.
No quesito atuação, conforme eu mencionei, o filme está bem servido.
Não bastasse Gyllenhaal mais uma vez desfazer opiniões depreciativas a respeito de sua carreira (ainda que exemplos tais quais "Os Suspeitos", e "O Abutre" já deixassem isso bem claro), Rachel McAdams e Forest Whytaker não estão no filme só pra receber o cheque.
Além deles, alguns nomes conhecidos realizam suas funções sem grandes destaques, mas sem quebra de qualidade, e por isso 50 Cent, Naomie Harris, e Miguel Gomez não são pra elogiar, mas também não são um impacto negativo.
Quem merece alguns elogios seria a intérprete da filha do protagonista, em um papel que cresce ao longo do roteiro, e que vira um norte da história diante da tragedia que ferra por completo a vida do pugilista.
Assim, em meio a situações um tanto quando esperadas, os atores mantêm a atmosfera dramática ainda com um aspecto de crueza, que se fosse pelo desgoverno do trabalho do diretor ficaria restrita ao melodrama. O que Antoine Fuqua e o roteirista Kurt Sutter apresentam se diminui a cada tentativa frustrada de emocionar, ou de impressionar, resultando em um embate final inócuo e que reflete a falta de envolvimento que a história provoca.
Os diálogos expositivos e falta de momentos marcantes e memoráveis que "Raging Bull", "Rocky", "Menina de Ouro", e outros traziam, são fatores, que sempre deixam "Nocaute" numa faixa de normalidade, em um desequilíbrio que várias vezes eclipsa as suas qualidades.
Pesando momentos isolados, é possível tanto achar um filme razoável, quanto uma obra redundante em tentativa desesperada de provocar choro no espectador.
Ainda assim, ao avaliar ele por seus 124 minutos, fica mais fácil enxergá-lo da maneira que realmente é, sem esquecer alguma boa cena por ter assistido alguma previsível logo depois.
Principalmente a força das atuações é o que faz o mais recente trabalho do diretor Antoine Fuqua não ser o pastelão dramático de 2015. Muito pouco mérito do cineasta, e muito do seu elenco.
A incapacidade do roteiro de evitar os clichês da trama de redenção batida, e do diretor em mascará-los só consegue ficar acima de casos como, por exemplo, "Invencível", porque existe uma diferença gritante de qualidade nas atuações apresentadas em cada um dos filmes.
Em se tratando de tramas de redenção formatadas pra tentear prêmios, muito mais harmônico entre proposta e resultado seria (até pela personalidade do personagem que protagoniza) algo na linha escolhida em "O Voo", no qual a pieguice passou longe, desviando em grande parte do tempo do que em "Nocaute" fica tentando roubar a cena de mais uma competente atuação de Gyllenhaal.
Por esses poréns todos que "Nocaute" não é pra ser merecedor de Oscar nem prêmio nenhum enquanto filme, ainda que não seja de se estranhar se algum nome do elenco figurar na disputa.
Quanto vale:
Nocaute. Recomendado para: aplaudir a atuação. Esquecer o filme.
Nocaute
(Southpaw)
Direção: Antoine Fuqua
Duração: 124 minutos
Ano de produção: 2015
Gênero: Drama/Luta
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