Rec 4: Apocalypse (2014) - Satélite Vertebral

Mesmo nos seus percalços, a franquia REC fez por merecer o fato de ainda ser lembrada.

Quando o mundo viu um levante de filmes no formato found-footage, era evidente que muito seria lixo do qual ninguém lembraria título, elenco, ou onde se passava a história.

Agora, tal qual todo e qualquer modismo, os poucos que se destacassem fariam dinheiro, e principalmente, ganhariam o ticket pra tentar mais uma volta pelos cinemas em uma sequência.

"Rec" (2007) foi um dos que nesse tempo todo não foi apenas pra fazer número, com seus personagens expressivos, e modo hardcore de explorar o efeito claustrofóbico das filmagens encontradas.

Sua sequência adicionou um elemento inesperado ao caldo, e manteve a qualidade em bom nível.

O problema foi quando a dupla de diretores responsáveis decidiu por separar os rumos, agora ousando cada filme por um diretor, no que viriam a ser o lamentável "Rec 3: Gênesis", dirigido pelo Paco Plaza, e este mais recente cinepisódio, "Rec 4: Apocalypse".

Dessa vez, sob direção do Jaume Balagueró, após os eventos ocorridos no casamento do terceiro filme, a história volta a concentrar atenção na repórter Ángela Vidal (Manuela Velasco), após o desfecho de "Rec 2".

O cenário, de princípio é novamente o mesmo prédio onde foi primeiramente vista a praga contagiosa, mas logo muda de local, passando a ocorrer em um navio, no qual mistérios clichê aguardam os seus passageiros.

Dentre a tripulação, além de Ángela, encontram-se dois policiais, uma sobrevivente do casamento, alguns cientistas, vários militares pra servir de guizado, e uns tripulantes a serviço da embarcação.

Ou seja: é óbvio que não demora a praga se alastra de novo, e o quarto filme vai se tornar uma espécie de versão de algum dos enganos da franquia "Residente Evil", no cinema.

Não que o fato de ser uma infestação zumbi em um navio tenha que resultar em algo sem suspense, voltado apenas pra ação. O que difere em relação aos dois primeiros longa-metragens e muda o enfoque pra ação acéfala é mais a decisão de que a partir do terceiro filme a franquia "REC" não é mais um found-footage.

Assim sendo, o já difícil trabalho de causar medo ou suspense no cinema passa a exigir muito mais, e refletindo as escolhas de "Gênesis", esse é só mais um filme de correria, grito e tiroteio.

Com todo respeito a quem curte, mas entre a atmosfera angustiante do começo da franquia, e a embaraçosa preguiça vista nos mais recentes filmes, é óbvio que a primeira tem muito mais a oferecer enquanto cinema.

Fica a encargo do elenco não maneirar na caricatura, gritar, e fingir que acredita nas suas próprias falas, que exercem continuamente funções bem específicas de tentar fracassadamente disfarçar o previsível.

É mais um caso em que os realizadores tivessem aceitado o que o filme é poderia ao menos ter sido uma sessão de cinema com maior entretenimento.

Isso porque, nesse carnaval de dublês maquiados recebendo múltiplos disparos, encontra-se um sub-nicho que poderia ser melhor explorado. Algo mais divertido, pelo menos.

Porém, Manuela Velasco, Paco Manzanedo, e Ismael Fritschi estão interpretando em um filme que não abraça a sua verve caricatural, no que seria chamado de ousadia caso fosse um bom filme, e que é só pastiche equivocado por "Rec 4" ser o que é.

Enquanto foi filme de "filmagens encontradas", "Rec" foi material do mais alto nível, e por isso não foi de se estranhar que tenha resultado em uma franquia com 4 filmes, além de uma versão americana com duas produções.

Agora, ao abandonar o formato, o trabalho de Paco Plaza e Jaume Balagueró desceu ao mais trivial e insosso que os filmes de terror têm a oferecer.

Apenas ligeiramente divertido momento ou outro, fraco enquanto obra cinematográfica, e que só não incomoda mais porque "Rec 3: Gênesis" já havia dado indícios de que o prosseguimento das coisas poderia vir com mais cara de filme direto pra DVD.

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