A Gripe (2013)



Diretores sul-coreanos com certeza seguem um modus operandi peculiar.
Seus estratagemas, bem mais do que destinados a entregar um passeio vertiginoso por paisagens maquiadas digitalmente em pirotecnia alongando cenas exageradas recortadas pelos trailers de divulgação, estão mesmo afim de provocar experiências cinematográficas inquietantes.
Não à toa provém da Coreia do Sul os responsáveis por Old Boy (e todos outros trabalhos do Chan-Wook Park), I Saw the DevilExpresso do Amanhã (e todos outros trabalhos do Boong Joon-Ho, O Caçador, Demência, e mais tantos que fariam essa listagem ser a postagem em si.
Dentre esses, o que mais diretamente se relaciona ao filme "A Gripe", é o ótimo "Demência", ainda que elementos de "O Hospedeiro" ecoem na mente vez ou outra.



Em "A Gripe", o caldo começa a entornar quando uma leva de imigrantes ilegais chega à nação coreana em um carregamento, contendo em seu interior alguém tossindo, o que sempre é indício claro de que essa pessoa tem alguma doença grave, no cinema.
Não dá pra dizer que esse tipo de início é totalmente clichê, mas também não transborda criatividade.
Por aí transitamos no terreno do óbvio.
Protagonizando a produção, estão Kang Ji-Koo (interpretado pelo Hyuk Jang), e Kim In-Hae (na atuação da Soo Ae) que de primeira não aparentam nada do que é característica positiva nos personagens de produções sul-coreanas.
Está mais pra aquela dinâmica (essa estritamente clichê) do casal que não se acerta, indicando que provavelmente vão se acertar ao longo do filme.
Um indício ruim, com certeza, porque mesmo em produções com um direcionamento mais romântico, tal qual no Hindsight, existe mais organicidade do envolvimento dos personagens do que em "A Gripe". E apesar de a fusão de gêneros cinematográficos ser uma marca no cinema coreano, sem que isso tire a credibilidade do contexto narrado, esse é um caso em que a mistura passa do ponto.
O filme continua sem nenhum personagem verdadeiramente marcante, em tentativas equivocadas de humor que torna a frase inicial de que "essa história não é baseada em fatos reais" ainda mais forçada e ridícula no contexto do filme.
Ninguém ousaria cogitar que o decorrer dos fatos é registro ficcional de algo real, tendo em vista os elementos quase caricaturais que servem pra história andar, sempre que momentos de conflito surgem.




Enquanto filmes que nem "Mother, A Busca pela Verdade", "I'm Cyborg But Thats Ok", "Cold Eyes", e outros vários ficam entortando as convenções seguidamente nos seus enredos, "A Gripe" vai sempre em direção ao previsto, e na sua preguiçosa existência não se incomoda em atar suas arestas com aparições por sorte no local e instante necessário, por parte de todo mundo.
O que é regra nesse caso é que, se alguém conhece alguém que precisa encontrar em Busang, na periferia de Seul, essa pessoa com certeza vai surgir no momento oportuno, do nada, bem ali.
A trama envolvendo a misteriosa epidemia que mobiliza o país vai rapidamente ficando insossa e desinteressante, pela falha primordial de errar no tom do roteiro do início ao fim, e de despejar coincidências tantas que não há justificativa alguma que se possa encontrar pra que estejam ocorrendo.

No entanto, pra não ser injusto, vou destacar uma atriz que esteve acima da média dos seus colegas de elenco e da própria trama.
A pequena Min-ah Park, interpretando o papel mirim que poderia ser só pra os adultos terem alguém pra se preocupar durante o levante de caos na cidade convulsionando, é responsável por um desempenho que se destaca no filme.
A atuação dela, no entanto, além de não ter espaço suficiente pra ser uma daquelas de carregar o filme nas costas, não esconde o tanto que os roteiristas deixam na conta do "finge que ele tava por acaso ali quando o cara passava", e nem os efeitos especiais que só não seriam problema se a história fosse muito boa mesmo.
Pra quebrar quem for assistir na expectativa de uma nova grande obra de diretores sul-coreanos, adianto que esse não é o caso, mas vai enganar legal se a preguiça do roteiro sempre que convém, for desconsiderada pela plateia.



Apesar de o ato final engrenar um pouco, o que prometia ser uma original revisita ao sub-gênero de filmes de epidemia, não faz muito pra ser filme por si só. Menos lembrado pelas suas características e mais pela comparação agora óbvia com os altamente elogiáveis filmes "O Hospedeiro" e "Demência".
Enquanto esses dois trilharam suas próprias rotas sem descambar na exigência de o público passar duas horas desconsiderando furos de roteiro pra quem sabe não pensar em assistir outra coisa, o filme do diretor Sung-Su Kim só serve pra ir pra lista de filmes sul-coreanos que estão muito abaixo do padrão de excelência que outros compatriotas seus alcançaram formando um precedente que seria excelente pra minha cinefilia se fosse repetido em "A Gripe".


Quanto vale:



A Gripe. Recomendado para: quem não teve estômago pra algum dos filmes que eu elogiei nessa postagem.

A Gripe
(Gamgi)
Direção: Sung-Su Kim
Duração: 122 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Ficção Científica/Ação

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