Em tempos de outrora, era possível contar nos dedos a quantidade de filmes baseados em heróis de histórias em quadrinhos que eram bem sucedidos, tanto em bilheteria quanto em termos de roteiro e efeitos especiais. Um desses raros exemplos é o Superman, lançado em 1979 e dirigido por Richard Donner.
Na década seguinte, produzir filmes baseados em heróis de histórias em quadrinhos era um verdadeiro suplício. Para ilustrar tal fato, basta o leitor lembrar a vergonha que a saudosa Cannon Films passou ao cometer a quarta aventura do Superman, bem como o quanto ela lutou em vão para produzir um único filmezinho do Spider Man. Caso não saiba, clique aqui.
Nos anos 90, houve um sopro de qualidade quando Tim Burton lançou o seu Batman, em 1991. Foi algo raro para aqueles tempos, já que o referido longa-metragem, ao mesmo tempo em que fez tilintar a caixa registradora da Warner, também gerou boas críticas por parte de crítica e público. Mas ficou nisso.
Os “Batman carnavalescos” perpetrados ao longo da década, aliados as adaptações canhestras como os filmes do Spaw (1997) e do Juiz Dredd (1995), foi o prego que faltava para fechar a tampa do caixão dos filmes de super-herói na década de 90.
A página foi virada apenas no início do século, quando Sam Raimi lançou a bem sucedida trilogia Spider Man. O advento dos filmes dos X-Men também alavancou a invasão de heróis na indústria cinematográfica. Atualmente a situação já é diferente dos anos 80 e 90 e o cinema mainstream norte-americano lança filmes de super-heróis em escala industrial.
Em meio a tantas produções (algumas legais, outras sofríveis), filmes de heróis mais obscuros e sem tanto apelo popular, tais como O Justiceiro (2008), são lançados quase na moita, sem muito alarde e publicidade. Um outro exemplo é esse divertido e sanguinolento Dredd (2012).
O Dredd de 1995, com Stallone como protagonista, ainda era uma produção incipiente. Esse longa-metragem, dirigido por Danny Cannon, teve uma recepção morna por parte da crítica e do público. Quem não conhecia o violento personagem Dredd, criado em 1977 no Reino Unido por John Wagner e Carlos Ezquerra, achou o longa-metragem apenas uma ficção científica futurista e absurda. Já o seleto público que conhecia a essência violenta das histórias do Juiz Dredd, considerou o filme uma ode ao bundamolismo.
Para início de conversa, Stallone e o diretor tiveram várias divergências ao longo da gravação. Além disso, o ato de Dredd nunca aparecer sem capacete, uma das principais carcaterísticas desse personagem, foi ignorada para aplacar a fúria de Stallone. Em tempo: Esse filme recebeu uma indicação ao famigerado Framboesa de Ouro.
Em Juiz Dredd, como bem sabem os fãs do personagem, o cenários das histórias é um futuro distópico e perturbador. Na trama, policiais acumulam ao mesmo tempo a função de juízes, Dredd é um desses policiais que, para o azar dos marginais, parece uma versão cyberpunk do Capitão Nascimento.
Dredd trabalha para manter a ordem na cidade Mega City 1, aliás, cidade aqui é um eufemismo, aquilo é mesmo um inferno na Terra. Para acabar com a criminalidade, o juiz Dredd possui permissão para eliminar os meliantes e, verdade seja dita, ele não hesita em nenhum momento quando o assunto é fazer um trabalho bem feito.
Mega City 1 |
Se a primeira incursão do juiz no cinema não teve colhões para destacar a crueza e o conteúdo contido na revista em quadrinhos, o segundo filme, com Karl Urban como protagonista, a concepção foi diferente.
O diretor Pete Travis e o roteirista Alex Garland entregaram uma história simples, é verdade, em que o argumento pode até lembrar o frenético filme The Raid, mas em compensação, ambos foram fiéis ao conceito sádico e politicamente incorreto das histórias em quadrinhos originais.
O diretor Pete Travis é mais conhecido pelos trabalhos em séries como The Jury, Cold Feet, e pelos filmes Omagh e Endgame. Já Alex Garland esteve envolvido em filmes como Extermínio e Sunshine - Alerta Solar.
Karl Urban |
Karl Urban, que durante o filme inteiro apenas mostra o queixo (coisa que o Stallone não fez), já é figura presente em vários filmes. O cara já atuou no longa-metragem Doom (a patética adaptação do famoso Game) e também foi o doutor Leonard McCoy no Star Trek do J.J. Abrams.
Como o personagen Dredd teve poucas HQs publicadas no Brasil, ele não é um personagem tão famoso em nosso país. Mas na Inglaterra, sua terra natal, o juiz possui boa popularidade.
Criado para a revista 2000 A.D, especializada em ficção científica, terror e outros temas que causam alergia nos representantes do bom gosto, Dredd faz a sua ronda diária na confusa Mega-City 1, que pode ser vista como uma ironia exagerada ao atual caos urbano em que vivemos.
Vários escritores e artistas famosos já trabalharam com o personagem. O irlandês Garth Ennis, que está por trás de clássicos como Preacher, Hellblazer, Punisher entre outros, é um desses artistas.
No geral, Dredd é um filme corajoso, pois é evidente que foi feito para agradar a um tipo específico de público. Mesmo assim, já ouvi (e li) alguns batráquios por aí comentando que a câmera lenta utilizada nas cenas do Dredd é pretensiosa.
Realmente, quando utilizado, esse recurso é capaz de provocar bocejos até mesmo no mais apaixonado fã do (chato-mor) Lars Von Trier. Mas no caso do filme Dredd, vale ressaltar que tais cenas em câmera lenta são pontuais e aparecem apenas em momentos específicos. Além disso, esse artifício não é gratuito como muitos alegam, já que ele faz parte do roteiro.
Esse longa-metragem, para os padrões atuais, é de baixo orçamento, já que custou 45 milhões de doletas. Enquanto isso, o arrecadamento total da produção foi de míseros 35 milhões. Sem muito sucesso nas bilheterias, Dredd, pelo menos, já pode ser encontrado nos torrents da vida.
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2 comentários
Write comentáriosEsse filme eu assisti como quem não quer nada e foi uma das boas surpresas de 2012.
ReplyGabriel
Tenho que ver esse novo filme com urgência, pra reverter uma imagem existente do personagem desde 1995, de "um filme do Stallone em que ele mata uns caras".
ReplySe bem que nem é pra culpar tanto o velho Dredd.
Naqueles tempos dizer que um filme de quadrinhos poderia fazer sucesso era apenas para inadvertidamente motivar risadas violentas nos presentes na sala.
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