Alabama Monroe (2012)


Não são necessários nem dez minutos pra que a produção belga Alabama Monroe se mostre um filme cativante.
Sua cena inicial é uma apresentação de uma banda de bluegrass, e de imediato a excelente trilha sonora que irá acompanhar o espectador ao longo do filme cria uma atmosfera atrativa.
O contraponto a esse clima aprazível no início do filme do cineasta Felix Van Groeningen é o flashforward que leva a historia a um momento sombrio da vida do protagonista e líder da banda mencionada acima e sua esposa.
Eles terão que se manter resistindo em meio à doença da filha de 6 anos, com leucemia.


Mesmo com o começo com boa música, regada com um potencial clima de melodramalhão, Alabama Monroe não é daqueles filmes pra levar a namorada pra (quem curte) se emocionar com as mensagens de auto-ajuda.
É muito mais fácil ficar incomodado.
A estrutura do filme é o primeiro elemento catalisador disso.
A historia salta do passado ao futuro, e retrocede durante toda a metragem, e desse modo vamos conhecendo desde os primórdios do relacionamento a família integrada pelo músico Didier (Johan Heldenbergh), a tatuadora Elise (Veerle Baetens), e a pequena Maybelle (Nell Cattrysse).
A atuação dos três é perfeita.
O elenco todo deixa no chinelo muito veterano de Hollywood (cada um na função que lhe é pedida, obviamente).
O roteiro, adaptado de uma peça co-escrita pelo próprio Heldenbergh vai relatar dessa forma acronológica o intenso início do envolvimento do casal, o nascimento da filha, e a descoberta, aceitação, e desdobramentos da doença dela.

Mas ainda que tenha muito pra acontecer na trama, Alabama Monroe em vários momentos é bastante lento.
Quem sabe por isso a escolha do diretor pelo uso constante das músicas da banda do personagem Didier, que conferem um clima videoclíptico pro longa-metragem, em sequências que muitas vezes nem mostram o que os personagens estão dizendo,contando com o que a música e o visual transmitem.
É um recurso que funciona, além de a música ser realmente muito, mas muito boa mesmo.
Certas vezes, porém, parece que a utilização se excede. Com bastante coisa sendo desenvolvida (afinal, são fatos de vários períodos diferentes da vida da família) ouvir (e no caso ver) as músicas sendo tocadas pela banda por um tempo a mais significa breves momentos de distanciamento com o enredo.
É muito legal, mas não necessariamente efetivo no envolvimento com os personagens no desenrolar de sua atribulada vida.


No entanto, por mais que isso torne o roteiro por vezes menos envolvente do que poderia, conforme se espera de qualquer obra, Alabama Monroe se propõe a causar um efeito, e é exatamente isso o que o filme faz no seu ato final.
O choque entre a crença do casal é apenas um dos motivos pra isso, mas com certeza, todas as diferenças expostas são consequência da aterradora realidade que os envolve, agora que o motivo de serem uma família perde os cabelos em uma cama de hospital enquanto eles ouvem do médico as poucas alternativas pra mantê-la viva.
Tudo isso destroi a estabilidade do casamento deles, mas sem nunca ser um dramão, no sentido pejorativo da palavra.
Uma joelhada no estômago pra quem sonhava em encontrar um filme a la Meg Ryan.


E muito está incluso na cena do pássaro.
O desentendimento entre os personagens nessa cena é motivado pelo que é o fio condutor do enredo, e além de ser um dos momentos mais emocionais do filme, permite à atriz-mirim Nell Cattrysse uma oportunidade pra não deixar dúvidas da sua capacidade.
A fotografia impecável é a moldura perfeita pro retrato implacável do relacionamento transposto às telas pelo diretor, que observa tudo se desfazer enquanto ao público resta o desconforto pela verdade que ele transmite.

Quanto vale:


Alabama Monroe. Recomendado para: repensar o valor que destinamos às pessoas.

Alabama Monroe
(The Broken Circle Breakdown)
Direção: Felix Van Groeningen
Duração: 111 minutos
Ano de produção: 2012
Gênero: Drama


Confere NESSE LINK  a crítica de outros indicados ao Oscar 2014.

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