"A palavra Sicario surgiu para definir
os fanáticos de Jerusalém.
Assassinos que caçaram os romanos
invasores de suas terras.
No México, Sicario significa
franco-atirador."
É com essa breve informação que se inicia o novo trabalho do diretor canadense Denis
Villeneuve, e que já deixa
claro que, mais do que um filme policial, esse é um filme que não
seria estranho chamar de um filme de guerra.
No entanto, são muitos os flertes do filme com o gênero western, com seus personagens de moral dúbia, e interesses que vão além de salvar o dia.
"Sicario:
Terra de Ninguém" é
no fim das contas uma história daquelas, de agentes caçando chefões
do narcotráfico, ao menos no que a sinopse nos diz.
No entanto, a quantidade de corpos
mutilados, e a própria forma como é narrada a história lembram
demais os filmes de ocupação estadunidense no Iraque, ou qualquer
outro país no qual tentem implantar a paz a la
americana, ou seja, na base
dos projeteis disparados, em prol de algum interesse a mais.
"Sicario"
se enquadra tanto nisso que um dos principais elementos do roteiro de Taylor Sheridan se
encontra diretamente associado ao tipo de aliança que os agentes
norte-americanos estão dispostos a realizar pra atingir fins que, se
não são a legítima paz vendida nos jornais, ao menos é o bastante
pra que as notícias tenham que mudar de assunto procurando algum
mais chocante.
Na trama, a agente do FBI Kate
Macer (Emily Blunt) viu à
sua frente um pouco do pior que o ser humano é capaz de perpetrar, e
em virtude disso está decidida a seguir em uma missão de nenhuma
informação disponível liderada pelo personagem de Josh
Brolin.
Enquanto eles rumam pro México,
deixando ela cada vez mais às cegas sobre o que ela tá fazendo, são
acompanhados pelo coadjuvante que ofusca a protagonista, interpretado
pelo Benicio Del Toro.
O veterano ator não possui na
descrição de seu personagem, ou nas cenas das quais participa
nenhum grande momento pra chorar ou gritar, ou espernear, ou mesmo
pra se encher de maquiagem e impressionar jurado de premiação, mas
constrói pra si um agente enigmático, e com camadas a mais que ele
não precisa nem descrever pra parecer uma pessoa real. O personagem que ele interpreta é soturno e de poucas palavras, e
ainda assim não deixa espaço pra lembrar da apática protagonista.
Emily Blunt
traz estampado o esforço de tornar a dedicada e correta agente Kate
em figura importante na trama, porém sua contraparte no filme carece
de carisma, e é simplesmente empurrada de um lado a outro pelo
enredo sem nunca ser capaz de tomar atitude e levar a situação pro
que considera o ético a fazer. Apenas sobra esforço.
Enquanto isso, Josh
Brolin, apesar de menos
marcante em atuação do que o Benicio
Del Toro, também faz de
sua carranca cafajeste um recurso a mais pra incrementar seu
personagem, sendo uma das poucas fontes de informação de Kate,
ainda que na medida do possível prefira guardar pra si.
No filme, apenas os que seguem as regras são o que parecem, e todos os outros possuem algum interesse escuso na jogada, e que serve de propulsor na investida contra os chefões do crime na cidade de Juarez, México, onde a trama se passa.
Afinal, por que chamar uma agente do
FBI pra uma operação da qual ela obviamente discorda, e pra qual
eles julgam que ela não estaria preparada?
Denis Villeneuve,
diretor do elogiadíssimo "Incêndios"
e do intenso "Os Suspeitos" relata isso
em cima de um roteiro que preza principalmente pelo realismo, em
detalhes mínimos e na cadência de ações que por mais que envolvam
tiroteios nunca viram o carnaval de câmera lenta e atos heróicos.
Difícil até saber se a própria
protagonista está realmente do lado dos "heróis".
O realismo explorado pelo cineasta
cobra um preço quando a falta de carisma de sua personagem principal
não faz se importar muito com o destino dela em si, mas sim da
operação, e dos porquês de estar ocorrendo. Ao escolher essa
abordagem em que a personalidade dela já está plenamente definida
desde o início, e é de alguém que por mais que tente vai ficar pra
escanteio no rumo da história, o diretor abre mão de desenvolver um
enredo de tensão baseada nos personagens, tal qual ocorreu em "Os
Suspeitos".
No entanto, várias são as sequências que funcionam muito bem apesar de contar com a personagem de Blunt apenas fazendo coro na plateia. Toda a mobilização em meio ao engarrafamento, e o ato final são provas da força do longa-metragem, em que toda a preparação e angustiante espera pelo pressionar do gatilho se fazem interessantes, e não deixam que o desenrolar fique morno.
Tanto na criação de
cenas fortes e impactantes em sua sutileza, ou em momentos isolados,
o que seria apenas mediano se torna um bom filme de ação, com um
elenco de atuações consistentes que ainda conta com Daniel
Kaluuya e Joe
Bernthal em papéis
importantes.
Fosse possível explorar melhor essas
atuações através de sequências em que a escalada rumo ao desfecho
da operação ganhasse urgência e maior potencial dramático,
"Sicario: Terra de
Ninguém" seria mais
do que o bom filme de combate ao tráfico, de fotografia,
edição e demais aspectos técnicos bem feitos, mas que faz de sua
personagem principal coadjuvante em sua própria história.
Com certeza seria mais um da lista de filmes de ação que roubaram a cena no prêmio principal do Oscar.
Quanto vale:
Sicario: Terra de Ninguém.
Recomendado para: curtir mais um bom faroeste moderno.
Sicario:
Terra de Ninguém
(Sicario)
Direção:
Denis Villeneuve
Duração:
121 minutos
Ano
de produção: 2015
Gênero:
Ação/Policial
Sign up here with your email
1 comentários:
Write comentáriosMuito boa dica! Eu também achei muito bom. Para mim foi um dos filmes mais interessantes de Denis Villeneuve. Eu fiquei muito animada quando eu vi no cinema. Revisei a trajetória desse diretor e me impressiona que os seus trabalhos tenham tanto êxito. Além deste filme, outro dos meus preferidos é o filme Blade Runner 2049 por que usou elementos clássicos dos filmes do gênero. Você também viu? Eu gosto muito da história dese filme por que não é tão previsível como outras. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver. Se ainda não viu, eu recomendo amplamente, vocês vão gostar com certeza.
ReplyEmoticonEmoticon