Segredos de Sangue (2013) - Satélite Vertebral

Nunca é uma experiência repetida assistir a um filme do diretor sul-coreano Chan-Wook Park.

Ao menos nunca foi nos filmes que já assisti dele, e isso inclui JSA: Zona de Risco (2000), Mr. Vingança (2002), Oldboy (2003), Lady Vingança (2005), I’m Cyborg , But That’s Ok (2006), Sede de Sangue (2009), e Night Fishing (Paranmanjang, 2011).

Em nenhum desses passos da filmografia do cara, eu tive a impressão de que ele estava preso a formas pré-convencionadas de contar histórias, e isso é uma baita qualidade, e diferencial em uma indústria que se acostumou a ser comum, na maioria das vezes quando escorada nos rótulos “Filme de ação, terror, ou suspense”.

Na verdade, apesar de saber que os filmes dele têm sempre uma ligação forte com os gêneros mencionados acima, é muito difícil rotular de maneira precisa seus trabalhos, e não preciso nem dizer que isso torna essas obras ainda mais interessantes.

Mas com certeza sempre é um teste complicado quando um diretor ingressa em Hollywood.

Em “Segredos de Sangue” (Stoker) Chan-Wook Park ainda é Chan-Wook Park.

Mas o roteiro não necessariamente é.

Na trama, uma tragédia familiar deixa a família Stoker vivendo o luto e o encarando de maneiras bem distintas. A mãe interpretada pela Nicole Kidman não consegue se relacionar com sua filha, interpretada pela Mia Wasikowska.

Sempre fica um ar misterioso entre as duas, e isso aumenta com a chegada de um parente interpretado pelo Matthew Goode (o Ozymandias, em Watchmen).

Parece meio chato? Isso porque é mesmo.

Alguém pode dizer ”mas um diretor não tem obrigação de contar histórias revolucionárias o tempo todo”.

Ao que eu digo: “Mas certas histórias nem merecem ser contadas”.

Não tem nada de errado no modo como Chan-Wook Park dirige as cenas. Fosse uma história mais interessante teria funcionado.

No caso de “Segredos de Sangue”, no entanto, pra tornar mais envolvente o cineasta teria que se adaptar, pra adicionar alguma emoção a um enredo tão simplório.

Infelizmente, a história se resume a "clima de que algo errado vai acontecer", visual milimetricamente elaborado, e aquela certeza de que "em tal cena vai ter alguma surpresa dessas de sempre".

No caso, ainda que persista a utilização do sangue enquanto recurso de estilo, e um uso de violência com a capacidade de dizer mais do que a simples violência, além de uma edição e direção de fotografia inventivas, por vezes, pouco ou nada faz desse um filme que valha a pena assistir, deixando vários outros de lado.

As atuações afetadas atendem o que se pede, ainda que dessa vez seja bem menos do que os multi-facetados personagens de outros trabalhos do diretor.

Em “Stoker” a ideia é ser “o vilão”, ou “a mocinha incompreendida e solitária”, e mesmo que na mistura eles sejam personagens ainda assim estranhos nessa fórmula, é impossível negar que o mero fato de Chan-Wook se render a essa fórmula alheia só deixa seu modo de fazer cinema bem menos impactante ou criativo.

Dentre os filmes de suspense, “Segredos de Sangue” com certeza não é dos mais típicos, mas nem por isso é dos mais interessantes.

A grande diferença é que, sendo obra de um grande diretor ao menos tem o mérito de ser bem filmado e tomar algumas decisões não tão óbvias. Há um claro esforço do diretor em ser mais do que o seu roteiro o força a ser, mesmo que talvez nessa sua estrutura convencional esteja algo que possa agradar a quem busca filmes com ar cult, sem o compromisso de ser algo realmente interessado em originalidade (e no desconforto que ela pode eventualmente causar).

Ao seu modo, "Stoker" é um filme fácil de assistir, mas finge não ser quando de vez em quando algum dos recursos rotineiros do cineasta surgem, só pra tentar fazer parecer que vários dos minutos de metragem serviram pra algo mais do que enrolação pseudo-contemplativa.

Quem não for afeito à filmografia do cara, pode até considerar que pra um suspense estadunidense, esse é até um exemplo bem ousado.

Porém, não é nada que o faça sequer próximo dos grandes filmes do cineasta.

Esse parece mais o filme que um diretor norte-americano, fã de Chan-Wook Park filmaria.

Um simples arremedo do cinema dele.

Quanto vale:

Recomendado para: quem não assistiu nada do Chan-Wook Park além do Oldboy, e ainda só por causa do hype. Essa pessoa vai conseguir achar Stoker um baita filme.

Segredos de Sangue

(Stoker)

Direção: Chan-Wook Park

Duração: 99 minutos

Ano de produção: 2013

Gênero: Suspense