Na medida do possível, o
cinema de quadrinhos se estabeleceu muito bem.
Eu digo isso tendo em
vista que hoje em dia já não é aquele frenesi de uns tempos atrás
pós-2000, em que se houvessem os dizeres mágicos associando um filme
a uma revista em quadrinhos, haveria uma chance considerável de um
séquito de fãs se deslocar ao cinema nem que fosse pra curtir um filme qualquer de HQs antes que a moda passasse.
Mas com a onda de
franquias, sendo que os mutantes alcançaram com X-Men: Dias de um Futuro Esquecido o sétimo filme da cinessérie, e o Marvel Studios
criou uma epopeia sem precedentes com até agora 10 longa-metragens
vinculados uns aos outros, sem contar a erroneamente por muitos subestimada série Agentes da
S.H.I.E.L.D., e uns curtas, é claro que da primeira leva alguns souberam se estabelecer financeiramente viáveis.
O aracnídeo da Marvel,
mas que nesse caso não é da Marvel, e sim da Sony, mas continuando
sendo da Marvel, tem sempre sua parcela de lucro garantido quando
algum produtor esperto decidir fazer um fan-poster de um eventual
novo filme.
No geral isso já é o
bastante pra alavancar venda de itens colecionáveis, e ajudar a
sumir das prateleiras edições de alguma saga dispensável.
Depois da Era Sam Raimi,
e depois do momento de auto-afirmação por parte de todos os
envolvidos na reformulação da franquia, no primeiro filme, ficava
preparada a base pra prevista sequência, que dessa vez coloca o
Peter Parker de Andrew Garfield, ainda juntamente com seu par
romântico Gwen Stacy (Emma Stone) às voltas com a quantidade de
vilões que a cartilha sugere pra um terceiro filme. No entanto, já
na segunda incursão no cinema, esse novo Homem-Aranha enfrenta em um
único filme: Rhino (o Anti-Heroi Americano Paul Giamatti), Electro
(Jamie Foxx), e Duende Verde (Dane DeHaan, de Poder Sem Limites).
Afinal, havia $ e efeitos especiais o
suficiente pra que qualquer um dos vilões do aracnídeo fosse agora
visto nas telas, e depois de críticas bastante divididas no
longa-metragem de 2012, uma forma bem eficaz de garantir uma
bilheteria expressiva nas primeiras semanas (uma necessidade pra um
blockbuster que se preze) seria encher de rostos quadrinhísticos
familiares o trailer, e prometer cenas de ação pirotécnica
mirabolante.
E enquanto na produção de
2012 existia a expectativa criada sobre o passado dos pais do
protagonista, dessa vez o que realmente importa é de quantas formas
diferentes a Oscorp é capaz de criar super-vilões.
Apesar do elenco notável
que eu mencionei acima, com certeza o personagem principal é a empresa do moribundo e esgualepado Norman Osborn (Cris Cooper).
É ela o que aproxima
todos os personagens de alguma forma, e justifica o filme inteiro
enquanto arrasa-quarteirões de CG milionário.
Em segundo lugar vem o
romance de Peter e Gwen, novamente entrosados o bastante pra
compensar eventuais falas e situações previsíveis, e que mostram
um resquício breve do que o diretor Marc Webb demonstrou saber
coordenar nas filmagens de (500) Dias com Ela, filme cada vez mais
difícil de atribuir sem estranhamento ao cineasta, devido ao recente rumo que ele tomou em sua carreira.
O Peter Parker de Andrew Garfield ainda é interpretado com competência e concilia humor e drama no limite do que o ator consegue nas linhas do texto que conduz a trama, e nesse quesito percebe-se que o erro é ainda maior, ao não desenvolver a história em torno dele, e não contra ele.
O Peter Parker de Andrew Garfield ainda é interpretado com competência e concilia humor e drama no limite do que o ator consegue nas linhas do texto que conduz a trama, e nesse quesito percebe-se que o erro é ainda maior, ao não desenvolver a história em torno dele, e não contra ele.
E infelizmente, a seguir
vem essa panela de vilões, tão desencontrados no filme que
providenciam um efeito inesperado: o filme O Espetacular Homem-Aranha
2 parece mais um seriado.
Explico.
Parece aqueles casos em
que se reúne alguns episódios em sequência pra parecer um filme.
É mais ou menos como se o Batman sessentista protagonizasse a versão do Tim Burton, ou a do Burton estrelasse a trilogia do Nolan, ou se o soturno interpretado pelo Christian Bale estivesse na origem da paródia da Feira da Fruta.
Os vilões de Homem-Aranha parecem cada um ser ideal pra um tipo de filme completamente diferente, e isso com certeza não é nenhuma qualidade.
Só assim pra tentar
entender o que é tudo que envolve o personagem Electro.
A caricatura que Jamie
Foxx compôs é coisa de quem tinha a visão mais equivocada possível sobre o que deveria ser um inimigo de um super-herói atualmente, o que só não é algo mais
constrangedor do que a canalhice de incluir o personagem Rhino no
cartaz e trailers apenas pra vender action figures, quando o
personagem tem cenas o bastante somente pra que se constate que
ninguém na produção sabia que não é sábio desperdiçar bons
atores só porque tem dinheiro sobrando na carteira.
Paul Giamatti desempenha
uma função que poderia muito bem ser realizada pelo Seth Rogen, ou
pelo Jack Black.
No andar dessa bagunça narrativa,
existem vários bons momentos, e ideias legais envolvendo o uso dos
efeitos especiais, além de a movimentação do Homem-Aranha estar em
níveis de competência CGzística acima dos padrões.
Isso além de que existe algum esforço
em tornar ao menos Harry Osborn em um personagem que tenha alguma
serventia, ou melhor, potencial.
É ele o único no qual alguém buscou o grau de empatia que a trilogia
original conseguiu com seus primeiros dois vilões, mesmo que na baderna de inimigos ele se perca em um roteiro que tem por único propósito criar um trailer de 2hs e 22min.
Mas nem mesmo esse personagem resiste diante da falta de foco.
Enquanto isso, o drama do protagonista se repete orbitando nos mesmos temas do
primeiro filme.
E é realmente estranho porque várias
das cenas conseguem ser realmente legais individualmente, mas
resultando em um filme medíocre, quando vistas na totalidade.
O estrago é tamanho que, no momento em
que acontece o grande ápice dramático da história a cena passa e
consegue apenas representar uma jogada previsível de roteiro, tão
desprovida de importância quanto qualquer anúncio de evento
bombástico pros quadrinhos de heróis.
O Espetacular Homem-Aranha 2 não é a
história de Peter, ou da Gwen. Nem do vilão Electro, ou do Duende
Verde, e com certeza não é a história dos pais do protagonista.
Muito mais importante do que tudo isso, é a história da
Oscorp.
Do personagem frio e inexpressivo que
vai ser a gênese das próximas ameaças à vida do herói, e a
garantia de lucro fácil em spin-offs que são a saída pra
reconstruir de maneira rápida e prática uma franquia abalada por
uma transição conturbada, e que não parece tão preocupada com o desenvolvimento do roteiro, desde que ainda existam vilões dos quadrinhos pra superpovoar os teasers.
No mesmo 2014 que teve nas telas de
cinema Capitão América: O Soldado Invernal, Guardiões da Galáxia, e X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, todos com grande preocupação com o roteiro, O Espetacular Homem-Aranha 2 é um notório
retrocesso.
Quanto vale:
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça
de Electro. Recomendado para: incentivar a procurar os dois primeiros
filmes do Raimi com a mesma velocidade que se esquece os fatos
"marcantes" do segundo filme do Webb.
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça
de Electro
(The Amazing Spider-Man 2)
Direção: Marc Webb
Duração: 142 minutos
Ano de produção: 2014
Gênero: Ação/Aventura
Sign up here with your email
EmoticonEmoticon