3 filmes pareciam muito, mesmo. Só que, pelo menos, "Lá e de Volta Outra Vez" era um título que soava bem demais. Evocava uma espécie de significado que é o mínimo esperado de uma nova trilogia no universo ambientado na Terra-Média. Quem sabe pudesse ser uma tentativa de Peter Jackson de mais uma vez adaptar a obra de J. R. R. Tolkien com atenção corretamente dividida entre o respeito e admiração pelo texto original e as doses ideais de efeitos especiais embasbacantes e batalhas aproveitando cada instante dos momentos certos pra acontecer.
Mas o título mudou, e "A
Batalha dos Cinco Exércitos" apenas levantou ainda mais
rumores sobre essa já questionado terceiro ato, muito antes de ser
lançado.
Na medida do que é
possível, o que se apresenta de começo consegue ser fiel, mas não
ao livro, e sim ao universo alternativo-fantástico apresentado em
"Uma Jornada Inesperada" (2012), e que se distanciou com
convicção dos escritos de Tolkien n"A Desolação de Smaug".
Não é que seja
necessariamente melhor com as adaptações e alterações, mas sim
que, o princípio do terceiro filme está devidamente alinhado com o
que foi o longa-metragem de 2013.
A partir do minuto
inicial, o pandemônio instaurado a base de labaredas pelo
dragão Smaug (Benedict Cumberbatch) é um
esperado modo de (re)apresentar a odisseia de Bilbo, que
mais uma vez não será protagonista de sua própria história, o que
é outra escolha do roteiro da saga no cinema, com créditos pra Fran
Walsh, Philippa Boyens, Guillermo Del Toro, e pelo próprio Peter
Jackson.
Fora isso, a presença
de Legolas (Orlando Bloom), Tandriel (Evangeline
Lilly) e o triângulo amoroso mexicano envolvendo o
anão Kili (Aidan Turner), mesmo que uma
adição equivocada a uma epopeia tão alongada e correndo o risco da
superficialidade a cada nova cena de ação, agora é apenas parte de
uma exigência atendida pelos roteiristas, como forma de tornar o
filme em um blockbuster de verão, mesmo que ao custo de sua
essência.
Desse modo, "A
Batalha dos Cinco Exércitos" precisa ser encarado como
sequência de seu antecessor, e não como adaptação do livro que o
originou. A partir dA Desolação de Smaug isso se faz
pré-requisito, pois com certeza os detalhes adicionais não sumiriam
de um filme pra outro. Mas de repente poderiam ser dessa vez bem
empregados. Com essa perspectiva, até que o enredo funciona
inicialmente a contento. Afinal, com o título definitivo do terceiro
filme, ninguém poderia esperar algo diferente de embates
incessantes.
No entanto, uma grande
falha já se apresenta pela escolha de encerrar "A Desolação
de Smaug" em um momento crítico, deixando suas
consequências para o ano posterior: toda a gravidade e urgência que
se visava construir, acabou se perdendo no intervalo de 365 dias,
ficando uma batalha colossal perdida e sem real impacto.
Mas o espetáculo visual
é algo indescritível, realmente. Com o amparo do 3D em 48 quadros
por segundo, uma terceira vez o diretor se esbalda em possibilidades
de utilização do recurso, e a noção de profundidade, o realismo,
e imersão a partir de cada detalhe favorecem o que se dependesse do
roteiro seria algo bem menos impressionante.
Na maior parte do tempo,
a grandiosidade parece estar muito mais no que o 3D HFR proporciona,
e nos numerosos exércitos, do que no envolvimento com o drama
escanteado de seus personagens.
As exceções atendem
pelos nomes Martin Freeman, e Richard Armitage.
Respectivamente os
intérpretes de Bilbo Bolseiro, e Thorin Escudo
de Carvalho, eles são o resquício do que o enredo tem de menos,
e que faz falta até os créditos finais.
Isso porque toda a
batalha tem poucos momentos capazes de rivalizar com diálogos e
momentos de decisão dos personagens, que espelham humanidade em
dilemas sobre ambição, amizade, e honra.
Vendo o material
que Peter Jackson tinha em mãos, fato é que
liberdades eventualmente seriam tomadas pra que o livro infantil
de Tolkien obtivesse um maior alcance nas
bilheterias, mas sem sombra de dúvidas a conversão de 1 único
livro em 3 filmes inchados sofreu pela escolha de criar tanto
material inexistente e incoerente com a trama original.
Isso, além de fragilizar
a narrativa principal, afastou o público de seus protagonistas, o
que é com certeza um erro crasso em se tratando de uma trilogia que
faz questão de trazer à tona seguidamente sua ligação com outra
trilogia, que é um dos marcos modernos do cinema, e que dobrou
Hollywood, e as atenções do público-médio a uma proposta
diferenciada de blockbuster.
Tão frágil torna-se "A
Batalha dos Cinco Exércitos", que os incontáveis embates
se alimentam de clichês e cliffhangers óbvios, por
vezes minuto a minuto, e se algumas certezas já haviam pelo fato de
a trilogia inteira ser um prequel, outras tantas existem apenas pela
canastrice da direção, que desavergonhadamente eleva a trilha
sonora forçando um caráter épico, pra reduzir o volume a seguir
fingindo calmaria, para repetir o processo várias vezes na mesma
luta.
Somar isso com o romance
dramalhão, a frustrante quase-batalha entre os exércitos, que perde
espaço pra que Thorin e Legolas protagonizem
as sequência de alguns dos piores clichês mencionados acima, e
aparições relâmpago de personagens importantes, é pelo menos
injustiça em qualquer caso de comparação com O Senhor dos
Anéis, e por isso vou evitar analisar por esse viés um filme
tão prejudicado pelos seus desacertos.
Com isso, as qualidades
existentes forçam na memória muito mais um Michael
Bay pirotécnico e repetitivo, do que um Peter
Jackson objetivando contar uma história. Isso porque,
história mesmo, praticamente não há.
E quando as baixas da
batalha se apresentam, e quem tinha que chorar já o fez, e é
percorrido o caminho pra casa depois do temporal de espadas, lanças,
e flechas, o vazio que permanece é por ser perceptível que "O
Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos" não disse o que
veio contar, e que apesar de 3 filmes de mais de duas horas, Peter
Jackson inventou muito e transmitiu pouco de verdadeiro no que era
fundamental na questionável nova franquia que tem seu nome como
chamariz.
O filme parece uma versão
com cenas adicionais na ação, e cortes na construção de
personagens, e no que houve de desenvolvimento deles (e até mesmo
dos novos personagens que acabam perdidos no carnaval de batalhas
incompletas), mas dessa vez, eu com certeza vou ficar na curiosidade,
e deixar passar a versão estendida.
Quanto vale:
O Hobbit: A Batalha
dos Cinco Exércitos. Recomendado para: um possível derradeiro
vislumbre do sensacional 3D 48 quadros por segundo, ao menos por umas
temporadas, ainda que acompanhado por um magistralmente medíocre e
equivocado roteiro.
O Hobbit: A Batalha
dos Cinco Exércitos
(The Hobbit: The
Battle of the Five Armies)
Direção: Peter
Jackson
Duração: 144
minutos
Ano de produção:
2014
Gênero: Ação/Aventura/Fantasia
Gênero: Ação/Aventura/Fantasia
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