O HOBBIT: UMA JORNADA INESPERADA (2012)



Após assistir a “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”, um amigo me questionou: “Então. O filme atendeu tuas altas expectativas?”.
Minha resposta pode ter soado vaga, mas acontece que neste momento percebi que nessa situação e filme específicos, o que se esperava dele iria definir se ele é realmente satisfatório ou não para o público.
Novamente, uma afirmação vaga.
Mas eu me explico.



Há mais de uma década atrás, quando “O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel” (2001) estreou, ainda que fosse o pretendido pelo estúdio MGM, era inesperado um resultado tão positivo quanto foi em bilheteria e crítica este primeiro filme e sua consequente trilogia.
Agora em 2012, o previsto é no mínimo o mesmo que a trilogia “O Senhor dos Anéis” representou para o cinema e para uma geração de espectadores.
Então, naturalmente, o esperado dessa trilogia “O Hobbit” é que seja um novo “The Lord Of The Rings”, e se esse for o seu pensamento, há um equívoco que pode resultar em frustração.

E com isso eu não eu estou dizendo que há algum decréscimo de qualidade neste novo trabalho do diretor Peter Jackson.
O que ocorre é que o diretor, em sua busca por fidelidade ao livro que originou o filme, traz muito do clima dessa obra com uma abordagem mais infantil escrita por J. R. R. Tolkien.
Então, o diferencial entre “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit” principia já na proposta de ambos.
Assim, tendo já lido o livro, minha expectativa já considerava esse viés presente na contraparte literária do longa-metragem.
Tivesse “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” sido lançado em 2001, não teria que entrar em choque com a tendência pseudo realista/sombria que impera na maioria das adaptações de obras fantásticas para o cinema.


De qualquer forma, isso é algo de que o diretor não fez questão de fugir, até porque o clima de filme-pipoca-familiar apenas favorece em se tratando de arrecadação em bilheteria.


Assim sendo, desde os minutos iniciais quando ele dedica espaço para revisitar sua trilogia obra-prima, até a chegada dos personagens que já conhecíamos, agora em sua versão de 60 anos antes, tudo conspira para uma trama leve em que os personagens reúnem uma comitiva que partirá em uma viagem em busca de um propósito maior do que qualquer um deles já viu.


Pareceu similar a “O Senhor dos Anéis” em algum ponto?
Pois nisso não há no que culpar Peter Jackson, afinal a própria obra de Tolkien trazia esse desenrolar, ainda que em vários momentos os salvamentos de última hora tirem muito dos sensacionais embates, que ganham desfecho previsível dessa forma.
Novamente, a aura aventuresca está presente nesse blockbuster de apelo infanto-juvenil, sem que isso seja um grande demérito.
É necessário o entendimento de que este é sim um filme voltado a contar uma historia de maneira diferente de LOTR, para que as carrancas de “achei ele mais infantil do que O Senhor dos Anéis” dêem lugar à satisfação de haver pago para assistir uma competente produção de entretenimento bem realizado.


Quanto à parte técnica da produção não é preciso nem este discernimento quanto a “o que o filme é” e “o que eu gostaria que o filme fosse”.

O trabalho desenvolvido dessa vez eleva o nível de realismo visual a um patamar tão assombrosamente elevado que a vasta gama de elementos fantásticos evidentemente apenas possíveis de ser obtidos por meio de CG tornam-se absolutamente indistiguíveis do que é efeito de maquiagem ou reconstrução de cenários reais.
As qualidades técnicas da trilogia clássica retornam melhoradas conforme era o esperado após o intervalo que separa a última aventura contada na Terra Média e este aguardado regresso.


As hordas de orcs, os trolls, e claro, o merecedor de indicação ao Oscar, Andy Serkis com a interpretação do icônico Smeagol, retornam de modo a extrapolar as barreiras antes impostas pela própria equipe que agora encontra novas formas de surpreender o público.
E nesse ínterim, certamente é necessário reiterar o mérito de Andy Serkis em fazer jus à responsabilidade que lhe cai sobre os ombros, pois ainda que os efeitos especiais que conferem vida a Gollum não fossem tão impressionantes, bastaria sua brilhante atuação para que o personagem fosse um destaque no filme.

Junto a ele, retornam alguns velhos conhecidos do público, sendo que a maioria eu prefiro não mencionar para não estragar algumas surpresas que o roteiro reserva, ainda que apenas a presença de Ian McKellen no papel de Gandalf já seja capaz de conferir credibilidade extra ao elenco ao longo da trama aparentemente simples.
Junto a ele, a adição de Martin Freeman traz um a princípio ligeiramente afetado Bilbo Bolseiro, que vai sendo modificado durante o filme, tornando-se digno da confiança nele depositada por Gandalf.




Além dele, o personagem Thorin, Escudo de Carvalho (Richard Armitage) é outro pilar na aventura a qual Bilbo é conduzido por Gandalf.

E claro, a maior parte do humor do longa-metragem (recurso destinado a tornar o filme menos extenso para o espectador, ainda que nem sempre plenamente funcional) cabe aos demais anões que estão em busca da retomada do que lhes foi roubado pelo dragão Smaug, que há de ser presença marcante em “O Hobbit: A Desolação de Smaug”, com data de estreia prevista para 13 de dezembro de 2013.
Cabe também aos anões alguns outros momentos destacados, dentre eles as sequências em que cantam aos moldes do que o livro relata, o que em uma ocasião é muito divertido, e em outra confere um caráter emocional à busca deles.



É fato que Peter Jackson toma várias liberdades com relação ao livro, mas são mudanças pensadas com fins específicos em uma produção de metragem longa e que se tornou há pouco tempo parte de uma trilogia (originalmente seriam apenas dois filmes), e que servem também para estabelecer uma ligação com a trilogia anterior ao público não conhecedor a fundo da bibliografia de Tolkien.
Além disso, há a inclusão de novos personagens, sendo o vilão Azog (interpretado por Manu Bennett) o principal deles, o qual serve para estruturar esta primeira parte mais aos padrões de confrontação heroi/vilão que se pede de um arrasa-quarteirões.
Somado a isso, o ritmo envolvente da trama repleta de uma singeleza singular, e claro, embates monumentais que povoam o longa-metragem e tornam essa uma aventura verdadeiramente digna do rótulo de filme épico.

Assim, de maneira inteligente o texto escrito por Fran Walsh e Philippa Boyens, e pelo próprio Peter Jackson define os rumos dessa nova odisseia na Terra Média, conseguindo conciliar as exigências de mercado com todo o respeito e fidelidade à obra original que fazem toda a diferença, e que o cineasta sabe transpor às telas com a devida carga dramática a qual tantas vezes fez falta ao cinema de fantasia em tempos recentes, e que funciona em harmonia com a necessidade de ser entretenimento do início ao fim no caso de O Hobbit
Tanto o tempo dedicado à visita dos anões à casa de Bilbo no início do filme, o embate com os trolls, a batalha entre os gigantes de pedra, entre outros momentos inspirados do filme, apenas demonstram que dessa vez, diferente do que ocorreu com a trilogia que antecedeu O Hobbit nos cinemas, Peter Jackson pôde aproveitar e retratar ao máximo do que está nos livros, sem se preocupar em excluir personagens, ou em filmar cenas que somente seriam vistas na versão estendida dos filmes.


Certamente que alguém pode ainda assim até considerar que a falta de uma abordagem sisuda desse material de Tolkien seja algo que diminua este primeiro ”O Hobbit”.
Mas qualquer um que acompanha o meu outro blog, e viu minha ponderação a respeito de Os Vingadores (2012), por exemplo, sabe que a meu ver uma obra tem mesmo que cumprir o que se propõe.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” é entretenimento de altíssimo nível com competência e respeito tanto ao material que visa adaptar quanto ao público,  ignorando as tendências e modismos atuais de elaboração de clima soturno e vestes escuras, ou de ter que sofrer comparação com outros filmes que preferiram um direcionamento diverso.
Dessa forma, contando com seu cativante elenco para envolver a plateia, e com o talento dos envolvidos na sua adaptação, "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada" vale plenamente cada minuto investido, nesse que é apenas o capítulo inicial de uma trama que promete crescer ao longo do que está reservado nos próximos dois filmes até 2014.
Aguardemos.


Quanto vale: 



O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
(The Hobbit: An Unexpected Journey)
Direção: Peter Jackson
Duração: 169 minutos
Ano de produção: 2012
Gênero: Fantasia/Aventura

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