Após assistir a “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”, um amigo me questionou: “Então. O filme atendeu tuas altas expectativas?”.
Minha
resposta pode ter soado vaga, mas acontece que neste momento percebi
que nessa situação e filme específicos, o que se esperava dele
iria definir se ele é realmente satisfatório ou não para o
público.
Novamente,
uma afirmação vaga.
Mas
eu me explico.
Há mais de uma década atrás, quando “O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel” (2001) estreou, ainda que fosse o pretendido pelo estúdio MGM, era inesperado um resultado tão positivo quanto foi em bilheteria e crítica este primeiro filme e sua consequente trilogia.
Há mais de uma década atrás, quando “O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel” (2001) estreou, ainda que fosse o pretendido pelo estúdio MGM, era inesperado um resultado tão positivo quanto foi em bilheteria e crítica este primeiro filme e sua consequente trilogia.
Agora
em 2012, o previsto é no mínimo o mesmo que a trilogia “O
Senhor dos Anéis”
representou para o cinema e para uma geração de espectadores.
Então,
naturalmente, o esperado dessa trilogia “O
Hobbit” é que seja um
novo “The Lord Of The
Rings”, e se esse for o
seu pensamento, há um equívoco que pode resultar em frustração.
E
com isso eu não eu estou dizendo que há algum decréscimo de
qualidade neste novo trabalho do diretor Peter
Jackson.
O
que ocorre é que o diretor, em sua busca por fidelidade ao livro que
originou o filme, traz muito do clima dessa obra com uma abordagem
mais infantil escrita por J.
R. R. Tolkien.
Então,
o diferencial entre “O
Senhor dos Anéis” e
“O Hobbit” principia já
na proposta de ambos.
Assim,
tendo já lido o livro, minha expectativa já considerava esse viés presente na contraparte literária do
longa-metragem.
Tivesse
“O Hobbit: Uma Jornada
Inesperada” sido lançado
em 2001, não teria que entrar em choque com a tendência pseudo
realista/sombria que impera na maioria das adaptações de obras
fantásticas para o cinema.
De qualquer forma, isso é algo de que o diretor não fez questão de fugir, até porque o clima de filme-pipoca-familiar apenas favorece em se tratando de arrecadação em bilheteria.
Assim sendo, desde os minutos iniciais quando ele dedica espaço para revisitar sua trilogia obra-prima, até a chegada dos personagens que já conhecíamos, agora em sua versão de 60 anos antes, tudo conspira para uma trama leve em que os personagens reúnem uma comitiva que partirá em uma viagem em busca de um propósito maior do que qualquer um deles já viu.
Pois
nisso não há no que culpar
Peter Jackson, afinal a
própria obra de Tolkien
trazia esse desenrolar,
ainda que em vários momentos os salvamentos de última hora tirem
muito dos sensacionais embates, que ganham desfecho previsível dessa
forma.
Novamente,
a aura aventuresca está presente nesse blockbuster de apelo
infanto-juvenil, sem que isso seja um grande demérito.
É
necessário o entendimento de que este é sim um filme voltado a
contar uma historia de maneira diferente de LOTR,
para que as carrancas de “achei ele mais infantil do que O Senhor
dos Anéis” dêem lugar à satisfação de haver pago para assistir
uma competente produção de entretenimento bem realizado.
Quanto à parte técnica da produção não é preciso nem este discernimento quanto a “o que o filme é” e “o que eu gostaria que o filme fosse”.
As
qualidades técnicas da trilogia clássica retornam melhoradas
conforme era o esperado após o intervalo que separa a última
aventura contada na Terra
Média e este aguardado
regresso.
As hordas de orcs, os trolls, e claro, o merecedor de indicação ao Oscar, Andy Serkis com a interpretação do icônico Smeagol, retornam de modo a extrapolar as barreiras antes impostas pela própria equipe que agora encontra novas formas de surpreender o público.
E
nesse ínterim, certamente é necessário reiterar o mérito de Andy
Serkis em fazer jus à
responsabilidade que lhe cai sobre os ombros, pois ainda que os
efeitos especiais que conferem vida a Gollum
não fossem tão
impressionantes, bastaria sua brilhante atuação para que o
personagem fosse um destaque no filme.
Junto
a ele, retornam alguns velhos conhecidos do público, sendo que a
maioria eu prefiro não mencionar para não estragar algumas
surpresas que o roteiro reserva, ainda que apenas a presença de Ian
McKellen no papel de
Gandalf já seja capaz de
conferir credibilidade extra ao elenco ao longo da trama
aparentemente simples.
Junto
a ele, a adição de Martin
Freeman traz um a princípio
ligeiramente afetado Bilbo
Bolseiro, que vai sendo
modificado durante o filme, tornando-se digno da confiança nele
depositada por Gandalf.
E
claro, a maior parte do humor do longa-metragem (recurso destinado a
tornar o filme menos extenso para o espectador, ainda que nem sempre
plenamente funcional) cabe aos demais anões que estão em busca da
retomada do que lhes foi roubado pelo dragão Smaug,
que há de ser presença marcante em “O
Hobbit: A Desolação de Smaug”,
com data de estreia prevista para 13
de dezembro de 2013.
Cabe
também aos anões alguns outros momentos destacados, dentre eles as
sequências em que cantam aos moldes do que o livro relata, o que em
uma ocasião é muito divertido, e em outra confere um caráter
emocional à busca deles.
É
fato que Peter Jackson toma
várias liberdades com relação ao livro, mas são mudanças
pensadas com fins específicos em uma produção de metragem longa e
que se tornou há pouco tempo parte de uma trilogia (originalmente
seriam apenas dois filmes), e que servem também para estabelecer uma
ligação com a trilogia anterior ao público não conhecedor a fundo
da bibliografia de Tolkien.
Além
disso, há a inclusão de novos personagens, sendo o vilão Azog
(interpretado por Manu
Bennett) o principal deles,
o qual serve para estruturar esta primeira parte mais aos padrões de
confrontação heroi/vilão que se pede de um arrasa-quarteirões.
Somado a isso, o ritmo envolvente da trama repleta de uma singeleza singular, e claro, embates monumentais que povoam o longa-metragem e tornam essa uma aventura verdadeiramente digna do rótulo de filme épico.
Assim,
de maneira inteligente o texto escrito por Fran
Walsh e Philippa
Boyens, e pelo próprio
Peter Jackson define os rumos dessa nova odisseia na Terra Média, conseguindo conciliar as exigências de mercado com todo o respeito e fidelidade à obra original que fazem toda a diferença, e que o cineasta sabe transpor às telas com a devida carga dramática a qual tantas vezes fez falta ao cinema de fantasia em tempos recentes, e que funciona em harmonia com a necessidade de ser entretenimento do início ao fim no caso de O Hobbit.
Tanto o tempo dedicado à visita dos anões à casa de Bilbo no início do filme, o embate com os trolls, a batalha entre os gigantes de pedra, entre outros momentos inspirados do filme, apenas demonstram que dessa vez, diferente do que ocorreu com a trilogia que antecedeu O Hobbit nos cinemas, Peter Jackson pôde aproveitar e retratar ao máximo do que está nos livros, sem se preocupar em excluir personagens, ou em filmar cenas que somente seriam vistas na versão estendida dos filmes.
Tanto o tempo dedicado à visita dos anões à casa de Bilbo no início do filme, o embate com os trolls, a batalha entre os gigantes de pedra, entre outros momentos inspirados do filme, apenas demonstram que dessa vez, diferente do que ocorreu com a trilogia que antecedeu O Hobbit nos cinemas, Peter Jackson pôde aproveitar e retratar ao máximo do que está nos livros, sem se preocupar em excluir personagens, ou em filmar cenas que somente seriam vistas na versão estendida dos filmes.
Certamente
que alguém pode ainda assim até considerar que a falta de uma abordagem sisuda desse
material de Tolkien seja algo que diminua este primeiro ”O
Hobbit”.
Mas
qualquer um que acompanha o meu outro blog, e viu minha
ponderação a respeito de Os Vingadores (2012), por
exemplo, sabe que a meu ver uma obra tem mesmo que cumprir o que se propõe.
“O
Hobbit: Uma Jornada Inesperada”
é entretenimento de altíssimo nível com competência e respeito
tanto ao material que visa adaptar quanto ao público, ignorando as tendências e modismos atuais de elaboração de clima soturno e vestes escuras, ou de ter que sofrer comparação com outros filmes que preferiram um direcionamento diverso.
Dessa forma, contando com seu cativante elenco para envolver a plateia, e com o talento dos envolvidos na sua adaptação, "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada" vale plenamente cada minuto investido, nesse que é apenas o capítulo inicial de uma trama que promete crescer ao longo do que está reservado nos próximos dois filmes até 2014.
Dessa forma, contando com seu cativante elenco para envolver a plateia, e com o talento dos envolvidos na sua adaptação, "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada" vale plenamente cada minuto investido, nesse que é apenas o capítulo inicial de uma trama que promete crescer ao longo do que está reservado nos próximos dois filmes até 2014.
Aguardemos.
O
Hobbit: Uma Jornada Inesperada
(The
Hobbit: An Unexpected Journey)
Direção:
Peter Jackson
Duração: 169 minutos
Ano
de produção: 2012
Gênero:
Fantasia/Aventura
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