O FANTÁSTICO SENHOR RAPOSO (2009)




É muito fácil simpatizar com o cinema de Wes Anderson.
Em O Fantástico Senhor Raposo a aura "incomum" de seus trabalhos pregressos, retorna.
O charme da animação em stop-motion aqui vem somada a um enredo envolvente e de ritmo frenético, ainda que nunca apressado.
E é dessa forma que somos apresentados à vizinhança do protagonista, que convive com os demais animais falantes próximos até demais de uma ameaça a qual não é nada esperto provocar.
Enquanto isso, somos apresentados ao dia-a-dia do protagonista, tentando um equilíbrio entre a dedicação à família e sua rotina de roubos, vai sendo útil também para que os personagens sejam claramente delineados. Conhecê-los e torcer por eles é fundamental para o que o diretor se propõe, ao adaptar o texto original do livro de  Roahd Dahl.



É certamente divertido acompanhar os planos do Sr. Raposo para assaltar as fazendas vizinhas, provocando a ira dos donos das respectivas terras, mas quando a trama muda de rumo, e as coisas começam a não correr de acordo com o planejado pelo ladrão, é que o roteiro se estabelece em seu real propósito.

Afinal ao mesmo tempo em que mantém a atenção da platéia por meio desses recursos, o diretor Wes Anderson realiza uma manobra simultaneamente para que esses minutos não sejam apenas para ser esquecidos posteriormente.
Ao confrontar-se com os seres humanos, o protagonista vai questionar suas motivações. Uma análise superficial deixaria o Raposo na condição de anti-herói em processo de redenção pela sua vida de crimes, mas somente pra quem não enxergar nas entrelinhas.
Diante disso, o próprio responde: “porque somos apenas animais selvagens.”
Essa afirmação, que é dita durante o filme, expressa o que há de mais forte no discurso presente no roteiro, e que fica e"vidente com a retaliação dos humanos que buscam vingança pelos danos em suas propriedades. Enquanto para o Raposo é o seu instinto que o move a ir em busca do alimento presente nos estoques e galinheiros dos fazendeiros, para os humanos, ele adquire a imagem de uma praga a ser eliminada.



A comparação com os seres humanos, assim, não está apenas no fato de que os bichos também falam e vivem cheios de costumes (e em se tratando de Wes Anderson, eu diria "excentricidades") parecidos com os nossos. Mas também pela forma como os agora caçadores partem para conseguir derrotar seu inimigo sem distinguir meios para esse fim, em sua própria demonstração de selvageria.
E enquanto o embate ocorre, a mídia é representada exercendo seu papel, sem sair ilesa diante do viés crítico da obra, o que fica evidente especialmente quando o repórter afirma que preferia, pessoalmente, que a história terminasse de maneira violenta. A fábula novamente nos mostra que é um retrato surreal da nossa realidade.
O diretor utiliza ainda os outros recursos à sua disposição, para que o tom dramático possa ser realmente envolvente. Tanto o elenco de primeiríssima linha responsável pela dublagem (George Clooney, Meryl Streep, Jason Schwartzman, Willem Dafoe, Bill Murray, e Owen Wilson), quanto à esplêndida escolha de trilha sonora. 



E isso tudo conseguindo ser um filme aventuresco extremamente divertido e inventivo,  com um clima de western e filme de guerra à moda antiga, e trama familiar notável em que a dramaticidade e intensidade podem até parecer maquiadas pelo bom humor da trama.
Porém, o fato é que, em seu estilo marcante o cineasta consegue superar a grande maioria das produções desse segmento cinematográfico, com uma obra madura e inteligente.
No fim das contas, além de ser um ótimo entretenimento, o filme é essencialmente uma homenagem ao cinema, e uma celebração à vida, ou talvez à sobrevivência, em grande estilo.


O Fantástico Sr. Raposo
(Fantastic Mr. Fox)
Direção: Wes Anderson
Duração: 87 minutos
Ano de produção: 2009
Gênero: Fantasia/Comédia/Aventura

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