Matinee - Uma Sessão Muito Louca


George Lucas, John Carpenter, Robert Zemeckis e Steven Spielberg são apenas alguns dos cineastas do primeiro escalão que durante a infância foram submetidos a doses cavalares de ficção científica, seja nos filmes B, seja nos livros, seja na saudosa revista Amazing Stories ou no viajante seriado televisivo Twilight Zone. Ou seja, os caras foram bombardeados pelo que os arautos do bom gosto costumam chamar de “cultura rasteira” e outros predicados que fazem aqueles que apreciam esse tipo de história se sentirem com o QI de um gambá morto.

Outro cineasta visivelmente influenciado pelas pulp fictions (como eram chamadas as revistas de fantasia e ficção científica da épocal) é o Joe Dante que, ao contrário dos outros diretores supracitados, é lembrado principalmente se em uma conversa de amigos alguém falar nos Gremlins. Isso, na verdade, é uma tremenda injustiça, visto que a filmografia de Dante vai além dos Gremlins e tem momentos bem bacanas, tais como o Explores (que tem no elenco um Ethan Hawke ainda imberbe), Grito de Horror e Matinee, que é para mim uma das homenagens mais legais aos filmes B de ficção científica que alguém nesse planeta teve a audácia de fazer.

A maioria dos filmes do Joe Dante fica naquele limiar entre o terror e a inocência de uma aventura sessão da tarde para toda a família. Um exemplo disso é o Gremlins, que pode muito bem ser considerado uma fábula de natal às avessas. Outro exemplo é esse Matinee, lançado em 1993. Matinee une uma reflexão acerca da Guerra Fria com uma singela homenagem a William Castle, um cineasta picareta de filmes de terror que costumava instalar artifícios como cadeiras que dão choques para deixar o público se borrando de medo.


O próprio cinema, como arte, é o cerne que sustenta o filme Matinee. A trama do longa-metragem acontece em 1962, período em que ocorreu a crise dos mísseis e o mundo estava a um passo de se tornar realmente um cenário de produção pós-apocalíptica fuleira. Na narrativa acompanhamos a história de um produtor de cinema (John Goodman) que tenta tirar proveito da paranoia causada pela crise. Sendo assim, ele chega a uma pequena cidade levando seu mais recente produto: um filme sobre um pobre azarado que, devido a um acidente nuclear, sofre uma mutação se transformando em Mant, o Homem Formiga.


A partir daí ocorre uma interessante união que mistura o terror causado pela mídia sensacionalista atormentando o público com uma possível hecatome nuclear, com o terror de uma ficção científica com efeitos especiais dignos de uma produção de fundo de quintal. Aliás, o filme fictício Mant é, por si só, um caso à parte. Seria muito interessante se um dia Dante se acordasse de manhã cedo, tomasse seu cafe da mannhã e decidisse, nem que seja, fazer um curta-metragem baseado no apavorante homem formiga.


E sobre o elenco, vale lembrar para os curiosos de plantão que, se eles procurarem bem, irão encontrar no longa-metragem uma ainda desconhecida Naomi Watts perambulando entre as cenas.

Em suma, Matinee, que recebeu no Brasil o desnecessário subtítulo de Uma Sessão Muito Louca, é uma divertida homenagem aos filmes B e ao ápice da popularidade das salas de cinema nos anos 50, época em que nem mesmo o mais alucinado roteirista de ficção científica iria imaginar que o futuro seria a era dos downloads.


Matinee - Recomedado para: Quem quer ver uma singela homenagem ao próprio cinema, sem sentimentalismo e, ainda por cima, com um cara vestido de formiga.

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