... E Quentin Tarantino será Roger Corman

Roger Corman

Em uma conversa entre amigos sobre cinema na mesa de um bar, eu aposto um sabre de luz que os interlocutores irão tecer longos comentários acerca de George Lucas, Steven Spielberg, Francis Ford Coppola e outros grandes. Mas, por outro lado, citarão o nome Roger Corman apenas como “o cara que realizou alguns filmes B”. Isso é uma injustiça, Corman é mais do que o responsável por uma infinidade de produções toscas. Ele é, antes de tudo, um dos nomes mais relevantes do cinemão norte-americano. Ele catapultou ao estrelato sujeitos como Robert de Niro e Jack Nicholson, também retirou do limbo do esquecimento atores como Boris Karloff e Peter Lorre. Foi também pelas mãos de Corman que Vincent Price se consagrou como intérprete de filmes de terror. Também, por culpa desse cineasta, que hoje temos diretores como James Cameron, Ron Howard, Tim Burton, entre outros. Em resumo: Falar sobre sétima arte sem citar Roger Corman é como falar de futebol e deixar no pé da página Pelé e o Messi. Por isso, não é de se admirar que esse sujeito bacana terá a vida dele contada em um longa-metragem chamado The Man With The Kaleidoscope Eyes. Quem interpretará Corman será o diretor do filme Pulp Fiction... Isso mesmo amiguinhos, o Quentin Tarantino.

Roger Corman e Vincent Price

Roger William Corman iniciou sua carreira nos 50, bem quando o cinema e a TV estavam gradativamente tirando de cena as revistas pulp de terror, suspense e ficção científica, gêneros muitas vezes considerados menores (reparem nas capas dos filmes mostradas ao longo da postagem e vejam como elas lembram aquelas capas apelativas das pulp magazines).

Sendo assim, as incursões de Corman como diretor foram filmes que seguiam essa cartilha mostrando alienígenas, insetos gigantes, ataque nuclear e outros que, de longe, já avisam ao espectador a que gênero pertence ao filme. Um desses filme é The Beast With a Million Eyes ao qual o nome Roger Corman não está creditado, mas sim, o cineasta está envolvido.


Outro exemplar, desse mesmo período, que leva o selo Corman de qualidade é a ficção It Conquered World, lançado em 1956. Esse filme, dirigido pelo cineasta, narra a absurda história de um alienígena que almeja dominar a Terra. Esse alien é oriundo de Vênus. Sim, Vênus. Mas lembre-se: Trata-se de uma filme B de ficção científica, portanto, mande a seriedade passear e esqueça o fato de que o nosso planeta vizinho não comporta estrutura para o desenvolvimento de organismos vivos complexos. 

Apesar dos efeitos típicos da época, esse longa-metragem traz no final um interessante monólogo sobre a condição humana, proferido pelo ator Peter Graves, que interpreta um dos cientistas. Além disso, It Conquered World, que conta com o ator Lee Van Cleef no elenco, mais tarde inspirou o amalucado guitarrista Frank Zappa a compor a canção Cheapnis.


Em 1960, no mesmo período em que dirigiu Jack Nicholson no clássico A Pequena Loja dos Horrores, o cineasta também dirigiu o primeiro de uma safra de filmes inspirados na obra do Edgar Allan Poe, escritor que viveu no século XIX, mas hoje, se você chutar um balde, certamente verá cair dali dezenas de autores influenciados (inconscientemente ou conscientemente) por ele. O primeiro longa-metragem dessa leva é o House of Usher, baseado no conto A queda da casa de Usher.

Nesse filme, Corman trabalhou com a lenda Vincent Price, ator que virou símbolo de filme de terror e que, anos mais tarde, emprestou a sua voz grave para trechos de músicas do Michael Jackson (no famoso Thriller) e da banda Iron Maiden, quando estava em seu ápice. Afinal, é impossível não ouvir o vozeirão de Price e não imaginar as portas do inferno se abrindo.

A adaptação do roteiro de House of Usher ficou por conta do falecido escritor Richard Matheson, outro nome de peso da literatura fantástica e dono de uma vasta obra que inspirou uma caralhada de filmes e séries. Para se ter um exemplo, sabem aquele filme em que o Hugh Jackman é um apostador de lutas de boxe entre robôs? Pois é, Matheson é o autor do conto original.


Ainda nos anos 60, Roger Corman dirigiu o Poço e o Pêndulo e O Corvo, ambos baseados em obras do Poe, sendo que esse último tem Boris Karloff no elenco, outro ator fodão de filmes de terror.

O cineasta possui em seu currículo uma extensa obra como produtor. Em 1975, ele produziu o longa-metragem Death Race 2000, dirigido por Paul Bartel e que traz no elenco David Carradine e um ainda novato Sylvester Stallone. O que chama a atenção desse longa-metragem é a sinopse politicamente incorreta que inspirou determinados games contemporâneos: Em um futuro não tão distante, ocorre uma competição automobilística em que os pilotos aumentam as suas respectivas pontuações quando atropelam e trucidam pedestres.

E se hoje existe uma enxurrada de filmes toscos sobre tubarões, piranhas, polvos, formigas e o que mais a fauna e a mente humana perimitirem, nos anos 70 não era diferente e foi nessa época que Corman produziu Piranha, dirigido pelo seu discípulo Joe Dante, o cara que em anos posteriores dirigiu Gremlins e Matinê.

Nos anos 80, quando Star Wars reinava absoluto em toda a galáxia, Roger Corman também produziu uma space opera para chamar de sua. Sim, estou a dissertar sobre o Mercenários das Galáxias, uma pérola da Sessão da Tarde, dirigida por Jimmy Murakami e que, mal ou bem, não deixa de ser uma disfarçada (e divertida) paródia espacial do western Sete Homens e um Destino. Ainda no assunto espaço sideral, o mestre dos filmes B esteve por trás do Galáxia do Terror, lançado em 1981 e que, ao contrário de Mercenários das Galáxias, vai fundo no exploitation e contém algumas cenas que o papai e a mamãe não gostem que você assista. OBS: Em Galáxia de Terror, foi apresentado como assistente de efeitos especiais um jovem conhecido como… James Cameron.


A quantidade de filmes dirigidos e/ou produzidos por Roger Corman passa tranquilamente a quantidade de 300. Até mesmo um malfadado longa-metragem do Quarteto Fantástico está entre as suas obras, mas, de acordo com o próprio cineasta, o seu único fracasso financeiro foi The Intruder, lançado em 1962 e protagonizado por William Shatner.

Parte da carreira desse produtor e diretor pode ser conferida no documentário  Corman's World: Exploits of a Hollywood Rebel. 


Agora resta conferir o The Man With The Kaleidoscope Eyes, filme que contará a história desse prolífico operário da sétima arte. A cinebiografia será dirigida por Joe Dante.

The Man With The Kaleidoscope Eyes ainda não tem data de estreia definida.
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