Histórias de sobrevivência apetecem os críticos estadunidenses.
Existe sempre aquele ar de aventura destinada à redenção que faz bem pra vender ingressos e fazer o público sair da sessão emocionado e satisfeito.
Além disso, é claro, Hollywood e o Academy Awards são aficionados por fórmulas, e poucos subgêneros cinematográficos conseguem ser um prato cheio pra soluções formulaicas que nem as tramas de herois obstinados lutando pela vida.
Bueno, nesse filme em questão, é de se esperar algo um tanto diferente.
Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, A Aventura de Kon-Tiki acabou perdendo a disputa para o filme Amor, de Michael Haneke.
Mas apesar do viés Academy Awardzeirológico, a expedição iniciada em 1947 pelo pesquisador Thor Heyerdahl (interpretado por Pål Sverre Hagen), em sua versão cinematográfica tem todos os elementos que fariam um produtor norte-americano convencional salivar ao enxergar na mente balaios de dólares em ingressos.
Porém, o fato de ser uma produção de pairagens nórdicas longínquas à América do Norte costuma adicionar novos rumos ou elementos.
No filme dirigido por Joachim Rønning e Espen Sandberg, a construção é tão natural e simples, que isso funciona bem até demais.
Baseado na expedição que tentava comprovar que haviam sido povos da América do Sul os primeiros a povoar a Polinésia, contrariando o que diziam os livros de História que afirmavam ter sido povos do Oeste, o filme remonta os pouco mais de cem dias de viagem em alto-mar em uma balsa rudimentar de madeira, sem deixar de trabalhar a motivação inicial do protagonista, e o desenrolar da base logística necessária pra que a jornada pudesse iniciar.
Ao lado dele, mais cinco pessoas integram a tripulação: Bengt Danielsson (Gustaf Skarsgård), Knut Haugland (Tobias Santelmann), Torstein Raaby (Jakob Oftebro) Erik Hesselberg (Odd-Magnus Williamson), e Herman Watzinger (Anders Baasmo Christiansen), que apesar de existirem oscilando perigosamente próximo ao clichê, não comprometem o enredo milimétrico, que emprega os caras em cena pra um funcionamento que mistura blockbuster com obra pra assistir, e não esperar os momentos de barulho.
Em se tratando de tensão e imersão nos momentos mais intensos da jornada, não há do que reclamar.
Sem pirotecnia ou CG excessivo, o resultado é convidativo até pra quem torce o nariz sempre que vê um poster de filme que não tem um astro caminhando à frente de uma explosão photoshopada.
E ainda que sempre haja quem prefira um filme em que a ação comece já antes do título e prossiga até a cena pós-créditos (momento em que se percebe que em nenhum momento foi dito porque os tiros foram disparados e alguém morreu no final em câmera lenta), A Aventura de Kon-Tiki passa sem problemas pela sua etapa inicial, apresentando com tempo adequado quem precisa ficar na memória do espectador.
Nisso, o grande acerto é não forçar no melodrama, e mesmo nos momentos em que algum desfecho já é conhecido, aquele algo a dizer da obra sustenta a narrativa.
Pra cada momento de calmaria, existe logo à frente algum incômodo satisfatório em se tratando de cinema pipoca, ao mesmo tempo em que funcione na intenção de manter aquela seriedade que se pede de uma história "Baseada em fatos reais".
Da obsessão do protagonista Thor Heyerdahl o resultado foi o livro Expedição Kon-Tiki: 8000 Km Numa Jangada Através do Pacífico, e um documentário premiado com o Oscar em 1950.
O que menos importa.
Em primeiro plano fica sua dedicação em levar suas teorias a outro patamar.
Enquanto é convencionado que toda teoria repetida algumas vezes torna-se uma verdade canônica, ele trilhou o caminho verdadeiramente arriscado.
E assim, a jornada de sobrevivência ganha novos tons, afinal, não foi um acidente que o levou a lutar pela própria vida.
Foi uma escolha.
E isso faz toda diferença.
Quanto vale:
Recomendado para: quem espera mais de epopeias em alto-mar do que algum novo Piratas do Caribe.
A Aventura de Kon-Tiki
(Kon-Tiki)
Direção: Joachim Rønning, Espen Sandberg
Duração: 118 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Aventura
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