O Grande Gatsby (2013)



Passa uma meia hora até que o personagem-título de O Grande Gatsby seja apresentado com as honras para o público.
Até lá, o diretor Baz Luhrmann mergulha em fetiches particulares.
A releitura adaptando o livro de F. Scott Fitzgerald, que ele dirige mantém muito do que é costumaz em sua filmografia.
Ao menos nesse tempo até que o ricaço interpretado por Leonardo DiCaprio tome posse do espaço em cena que lhe é devido.


Enquanto ele não chega, pela voz do narrador interpretado por Tobey “Parker” Maguire a agitada vida de baladas na década de 20 é trazida com a liberdade artística conferida ao cineasta, que repete muito do que lhe consagrou em Moulin Rouge.
Mesma fórmula.
Não tão efetiva, dessa vez.
A verdade é que parece muito mais exagerado do que era nos exageros estilizadamente estilosos de Moulin Rouge.
Então, é um carnaval de cores, músicas contemporâneas, e um resultado forçado com mais cara de afetação que tira completamente a naturalidade e interesse da introdução em que a reconstrução de época emoldura e empalidece os primeiros dizeres da história contada por Nick Carraway (Maguire).
Fora isso, de canto persiste a tentativa de tornar a ausência de Gatsby em aura de mistério.
Não importa muito.


A situação só muda quando com o figura do título passa a ser presença constante, e a trama ganha caminhos bem definidos.
Mas não pela clareza de objetivos, e sim por dois outros motivos.
1. o protagonista está muito bem interpretado.
Com a chegada dele, o personagem de Maguire, muito pouco exigido pelo enredo torna-se importante elemento-auxiliar, e com isso o filme ganha força; e
2. aos poucos, o diretor vai se contendo, e seus excessos vão se resumindo a edição ligeira, muitas vezes, por demais, ainda que comprometa menos do que a música e números de dança querendo se sobrepor ao elenco.

Não sem motivo que a talvez melhor cena do filme é um diálogo acalorado em um hotel de Nova Iorque, sem efeitos especiais, ou trilha sonora de rap, ou coreografia ensaiada com cara de sapucaí.
Nesse ponto o longa-metragem já se encontrou há um tempo, e o passado de Jay Gatsby já tem importância.
É ele que carrega o filme nas costas, com certeza, e os adereços de Luhrmann só funcionam quando quase somem de cena, como se reconhecessem isso.

A atuação de DiCaprio lembra bastante o seu trabalho em O Aviador, ainda que em suas diferenças seja fácil perceber que o ator é capaz de compôr algo novo, sem que seja preciso uma caracterização espalhafatosa.
E isso colabora inclusive pra que o resto do elenco funcione melhor junto à história.
O visual impecável enfim vira background de luxo, e nada mais, enquanto o personagem de Tobey Maguire torna-se elemento necessário, e tanto o rival Tom Buchanan (Joel Edgerton), e sua esposa e peça fundamental do enredo, Daisy Buchanan (Carey Mulligan), são interpretados com competência.
Aliás, muito mais interessante do que as danças durante as festas na mansão do sujeito de passado conturbado, são pequenas ideias, tais quais o uso dos textos de Carraway, que adicionam um elemento visual muito mais significativo do que o figurino bem realizado.


Os “algo mais a dizer” emergem com uma agora adequada direção, quando o longa-metragem ruma pra um ato final intenso e bem escrito pelo cineasta juntamente com Craig Pearce.
Não fosse pela necessidade de tentar reafirmar sua característica pregressa, Luhrmann teria recontado O Grande Gatsby com muito menor impressão de "épico auto-intitulado pelo estúdio".
Ainda assim, o filme de Baz Luhrmann não é nenhuma decepção.
Mesmo que no ato inicial haja desacerto entre estilo e história, não demora muito pra que ambos passem a funcionar em sincronia, e é a partir daí que há verdadeiros motivos pra chamá-lo de um bom filme.

Quanto vale:


Recomendado para: pessoas que não assistem só o que a DC e a Marvel migram pro cinema.

O Grande Gatsby
(The Great Gatsby)
Direção: Baz Luhrmann
Duração: 143 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Drama

Confere NESSE LINK  a crítica de outros indicados ao Oscar 2014.


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