Passa uma meia hora até
que o personagem-título de O Grande Gatsby seja apresentado com as honras para o
público.
Até lá, o diretor Baz
Luhrmann mergulha em fetiches particulares.
A releitura adaptando o
livro de F. Scott Fitzgerald, que ele
dirige mantém muito do que é costumaz em sua filmografia.
Ao menos nesse tempo até
que o ricaço interpretado por Leonardo DiCaprio tome posse do
espaço em cena que lhe é devido.
Enquanto ele não chega,
pela voz do narrador interpretado por Tobey “Parker” Maguire
a agitada vida de baladas na década de 20 é trazida com a
liberdade artística conferida ao cineasta, que repete muito do que
lhe consagrou em Moulin Rouge.
Mesma fórmula.
Não tão efetiva, dessa
vez.
A verdade é que parece
muito mais exagerado do que era nos exageros estilizadamente estilosos de Moulin Rouge.
Então, é um carnaval de
cores, músicas contemporâneas, e um resultado forçado com mais cara de afetação que tira
completamente a naturalidade e interesse da introdução em que a
reconstrução de época emoldura e empalidece os primeiros dizeres
da história contada por Nick Carraway (Maguire).
Fora isso, de canto
persiste a tentativa de tornar a ausência de Gatsby em aura
de mistério.
Não importa muito.
A situação só muda
quando com o figura do título passa a ser presença constante, e a
trama ganha caminhos bem definidos.
Mas não pela clareza de
objetivos, e sim por dois outros motivos.
1. o protagonista está
muito bem interpretado.
Com a chegada dele, o
personagem de Maguire, muito pouco exigido pelo enredo
torna-se importante elemento-auxiliar, e com isso o filme ganha força; e
2. aos poucos, o diretor
vai se contendo, e seus excessos vão se resumindo a edição
ligeira, muitas vezes, por demais, ainda que comprometa menos do que
a música e números de dança querendo se sobrepor ao elenco.
Não sem motivo que a
talvez melhor cena do filme é um diálogo acalorado em um hotel de
Nova Iorque, sem efeitos especiais, ou trilha sonora de rap, ou
coreografia ensaiada com cara de sapucaí.
Nesse ponto o
longa-metragem já se encontrou há um tempo, e o passado de Jay
Gatsby já tem importância.
É ele que carrega o
filme nas costas, com certeza, e os adereços de Luhrmann só
funcionam quando quase somem de cena, como se reconhecessem isso.
A atuação de DiCaprio
lembra bastante o seu trabalho em O Aviador, ainda que em suas
diferenças seja fácil perceber que o ator é capaz de compôr algo
novo, sem que seja preciso uma caracterização espalhafatosa.
E isso colabora inclusive
pra que o resto do elenco funcione melhor junto à história.
O visual impecável enfim
vira background de luxo, e nada mais, enquanto o personagem de Tobey Maguire torna-se elemento necessário, e tanto o rival Tom
Buchanan (Joel Edgerton), e sua esposa e peça fundamental do
enredo, Daisy Buchanan (Carey Mulligan), são interpretados
com competência.
Aliás, muito mais
interessante do que as danças durante as festas na mansão do
sujeito de passado conturbado, são pequenas ideias, tais quais o uso
dos textos de Carraway, que adicionam um elemento visual muito
mais significativo do que o figurino bem realizado.
Os “algo mais a dizer”
emergem com uma agora adequada direção, quando o longa-metragem ruma pra um
ato final intenso e bem escrito pelo cineasta juntamente com Craig
Pearce.
Não fosse pela
necessidade de tentar reafirmar sua característica pregressa,
Luhrmann teria recontado O Grande Gatsby com muito
menor impressão de "épico auto-intitulado pelo estúdio".
Ainda assim, o filme de
Baz Luhrmann não é nenhuma decepção.
Mesmo que no ato inicial
haja desacerto entre estilo e história, não demora muito pra que
ambos passem a funcionar em sincronia, e é a partir daí que há
verdadeiros motivos pra chamá-lo de um bom filme.
Quanto vale:
Recomendado para: pessoas que não assistem só o que a DC e a Marvel migram pro cinema.
O Grande Gatsby
(The Great Gatsby)
Direção: Baz
Luhrmann
Duração: 143 minutos
Ano de produção:
2013
Gênero: Drama
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