12 Anos de Escravidão (2013)



A obsessão dos jurados das premiações cinematográficas por historias baseadas em fatos é algo passível de estudo.
Quase como se haver uma historia verídica servindo de base tornasse o roteiro naturalmente mais dramático, algo que resulta na escolha de vários bons filmes, mas também algumas aberrações, tal qual a indicação de 127 Horas (2010) ao Oscar de melhor filme temporadas atrás.
Esse embasamento em fatos pode resultar em um bom filme, porém tudo depende.


No longa-metragem 12 Anos de Escravidão, o diretor celebrado Steve McQueen relata uma historia que tem os elementos certos pro dramalhão, dependendo do diretor que estivesse no projeto.
Sendo ele, os caminhos são felizmente outros.
Com naturalidade crua é apresentado o protagonista Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), que causa estranhamento ao ser o cidadão negro em uma sociedade que ainda os trata que nem animais. Ele é um músico talentoso, e vive com a esposa e filhos em sua casa, sendo uma pessoa bem-quista e respeitada.
E sabendo os rumos que o título do filme deixa claro, isso não deixa de ser impressionante.
Por isso, a primeira vez em que ele surge acorrentado, em meio às sombras provoca no espectador um desconforto genuíno.


São vários os momentos em que o diretor apenas escolhe um ângulo e deixa a câmera estacionada ali, sem edição videoclíptica ou close nos hematomas. E nesses vários momentos, ele demonstra entender que não é a violência física um causador de uma dor maior do que conhecer o contexto em que essas pessoas vivem.
Momentos de tortura física são uns quantos, e todos eles são efetivos em transmitir o sofrimento dos personagens, ainda que certamente seria algo apelativo sob a direção de um cineasta mais convencional.
A direção de Steve McQueen, no entanto, não explora nenhum excesso de invencionice.
Porém, tudo é construído com excelência, da fotografia, à trilha sonora, com edição coesa e acertada com o tom do filme.
Mas ainda assim bastante simples.


Isso até faz lembrar de quando alguém menciona que tal filme “é bom porque o cenário tá perfeito. Os efeitos especiais funcionaram bem com o 3D. Os personagens e o roteiro são meio clichê, e previsíveis, mas ainda assim, o visual é incrível. Um clássico”.
Então o cara é apresentado novamente a um filme em que a produção é tão competente, que ela funciona pro roteiro, e não acima dele.
Dessa forma, fica ainda mais verossímil a atuação de cada um dos astros que o cineasta reuniu, da parceria revisitada com Michael Fassbender, ao trabalho de Benedict Cumberbatch, Paul Giamatti, Brad Pitt, e Paul Dano, passando pela surpreendente Lupita Nyong'o.
Em seus personagens, cada um desses atores consegue compôr uma retratação de período histórico perfeita, em que humilhação é hábito, e permitindo ao intérprete do protagonista, Chiwetel Ejiofor, a atuação de sua carreira.
Pelas vozes dos personagens, a brutalidade expressa mais em formas de tratamento coloquial do que em espancamentos, ganha contornos que vão além do revoltante, tornando-se algo sufocante e desesperador.
O discurso a respeito de superioridade, que conta ainda com convenientes distorções da Bíblia, e claro, uma pré-convencionada visão de propriedade que torna ainda mais difícil perceber a não-diferença entre mestres e posses, com certeza é muito mais eficiente nessa abordagem do que na dúbia retórica do fanfarrônico Django Livre (2012), que escolheu a caricatura diante de uma das maiores tragedias da Historia da humanidade, ganhando apreço das multidões pelo estilo emprestado dos outros que Tarantino empregou.


No caso do filme “12 Anos de Escravidão”, apesar de bem evidente o interesse em emocionar o espectador, o saldo é mais do que satisfatório pela maneira equilibrada que o diretor Steve McQueen encontrou de relatar a historia sem descambar pra gratuidade da exibição e banalização do efeito da agressão na tela pra impressionar a plateia.
Comovente sem ser melodramático, violento sem ser gore, e impactante sem precisar despejar na tela o que de mais ofensivo ao estômago um cineasta poderia explorar.
Das alternativas do cinema dramático frequentador de premiações, esse filme é uma das melhores alternativas.


Quanto vale:


12 Anos de Escravidão. Recomendado para: fazer parte dos indicados ao Oscar que têm algum mérito cinematográfico pra estar lá concorrendo.

12 Anos de Escravidão
(12 Years a Slave)
Direção: Steve McQueen
Duração: 134 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Drama 


Confere NESSE LINK  a crítica de outros indicados ao Oscar 2014.

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2 comentários

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Anónimo
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6 de agosto de 2014 às 16:18 delete Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
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Anónimo
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6 de agosto de 2014 às 16:20 delete Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
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