A obsessão dos
jurados das premiações cinematográficas por historias baseadas em
fatos é algo passível de estudo.
Quase como se haver
uma historia verídica servindo de base tornasse o roteiro
naturalmente mais dramático, algo que resulta na escolha de vários
bons filmes, mas também algumas aberrações, tal qual a indicação
de 127 Horas (2010) ao Oscar de melhor filme temporadas atrás.
Esse embasamento em
fatos pode resultar em um bom filme, porém tudo depende.
No longa-metragem
12 Anos de Escravidão, o diretor celebrado Steve McQueen
relata uma historia que tem os elementos certos pro dramalhão,
dependendo do diretor que estivesse no projeto.
Sendo ele, os
caminhos são felizmente outros.
Com naturalidade
crua é apresentado o protagonista Solomon Northup
(Chiwetel Ejiofor), que causa estranhamento ao ser o cidadão
negro em uma sociedade que ainda os trata que nem animais. Ele é um
músico talentoso, e vive com a esposa e filhos em sua casa, sendo
uma pessoa bem-quista e respeitada.
E sabendo os rumos
que o título do filme deixa claro, isso não deixa de ser
impressionante.
Por isso, a primeira
vez em que ele surge acorrentado, em meio às sombras provoca no
espectador um desconforto genuíno.
São vários os
momentos em que o diretor apenas escolhe um ângulo e deixa a câmera
estacionada ali, sem edição videoclíptica ou close nos hematomas.
E nesses vários momentos, ele demonstra entender que não é a
violência física um causador de uma dor maior do que conhecer o
contexto em que essas pessoas vivem.
Momentos de tortura
física são uns quantos, e todos eles são efetivos em transmitir o
sofrimento dos personagens, ainda que certamente seria algo apelativo
sob a direção de um cineasta mais convencional.
A direção de
Steve McQueen, no entanto, não explora nenhum excesso de
invencionice.
Porém, tudo é
construído com excelência, da fotografia, à trilha sonora, com
edição coesa e acertada com o tom do filme.
Mas ainda assim
bastante simples.
Isso até faz
lembrar de quando alguém menciona que tal filme “é bom porque o
cenário tá perfeito. Os efeitos especiais funcionaram bem com o 3D.
Os personagens e o roteiro são meio clichê, e previsíveis, mas
ainda assim, o visual é incrível. Um clássico”.
Então o cara é
apresentado novamente a um filme em que a produção é tão
competente, que ela funciona pro roteiro, e não acima dele.
Dessa forma, fica
ainda mais verossímil a atuação de cada um dos astros que o
cineasta reuniu, da parceria revisitada com Michael Fassbender,
ao trabalho de Benedict Cumberbatch, Paul Giamatti, Brad Pitt, e Paul Dano, passando pela surpreendente
Lupita Nyong'o.
Em seus personagens, cada um desses atores consegue compôr uma retratação de período histórico perfeita, em que humilhação é hábito, e permitindo ao intérprete do protagonista, Chiwetel Ejiofor, a atuação de sua carreira.
Em seus personagens, cada um desses atores consegue compôr uma retratação de período histórico perfeita, em que humilhação é hábito, e permitindo ao intérprete do protagonista, Chiwetel Ejiofor, a atuação de sua carreira.
Pelas vozes dos personagens, a
brutalidade expressa mais em formas de tratamento coloquial do que em
espancamentos, ganha contornos que vão além do revoltante, tornando-se algo
sufocante e desesperador.
O discurso a
respeito de superioridade, que conta ainda com convenientes distorções da
Bíblia, e claro, uma pré-convencionada visão de propriedade que
torna ainda mais difícil perceber a não-diferença entre mestres e
posses, com certeza é muito mais eficiente nessa abordagem do que na
dúbia retórica do fanfarrônico Django Livre (2012), que escolheu a
caricatura diante de uma das maiores tragedias da Historia da
humanidade, ganhando apreço das multidões pelo estilo emprestado
dos outros que Tarantino empregou.
No caso do filme “12
Anos de Escravidão”, apesar de bem evidente o interesse em
emocionar o espectador, o saldo é mais do que satisfatório pela maneira equilibrada que o diretor Steve McQueen encontrou de relatar a historia sem descambar pra gratuidade da exibição e banalização do efeito da agressão na tela pra impressionar a plateia.
Comovente sem ser
melodramático, violento sem ser gore, e impactante sem precisar despejar na tela o que de mais ofensivo ao estômago um cineasta poderia explorar.
Das alternativas do
cinema dramático frequentador de premiações, esse filme é uma das
melhores alternativas.
Quanto vale:
12 Anos de
Escravidão. Recomendado para: fazer parte dos indicados ao Oscar
que têm algum mérito cinematográfico pra estar lá concorrendo.
12 Anos de
Escravidão
(12 Years a
Slave)
Direção: Steve
McQueen
Duração: 134 minutos
Ano de produção:
2013
Gênero: Drama
Confere NESSE LINK a crítica de outros indicados ao Oscar 2014.
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