Nos
antigamentes, quando ouvia falar dos tais indicados ao Oscar, eu
acostumado a assistir Cine Trash na Band, e Corujão na Globo, além
das sessões de cinema pancadaria das eras áureas de Jet Li e
Jackie Chan, pensava na minha ignóbil consciência que os filmes
concorrentes a tal premiação eram sempre verdadeiras obras de arte
e de visual de incompreensível primor inventivo.
Atualmente
eu vejo com desdém grande parte dos filmes-pipoca selecionados
porque se fingem de emocionantes, ou trazem algum ator de
comediazinha fazendo cara de choro, ou porque o diretor deixou final
em aberto pra público ficar discutindo o óbvio sobre um pião ou
qualquer coisa do tipo.
E até
por isso foi interessante assistir o filme “A Grande Beleza”,
e perceber que pra bem ou pra mal, o longa-metragem do diretor Paolo
Sorrentino é sim um filme de arte.
Nas
primeiras cenas de A Grande Beleza, a direção de fotografia do
Luca Bigazzi já mostra a que veio.
É um
baita aproveitamento da paisagem-personagem, que chega a resultar em
uma morte devido à sua (perdão por ter que re-utilizar a palavra)
beleza.
Mas a
seguir, tal qual o choque do personagem falecido, é muito similar o
do público diante do freak show estrelado pela burguesia italiana,
em uma festa de poucos precedentes em se tratando de chinelagem e breguice.
Todos
ostentando suas posições sociais enquanto vamos sendo apresentados
ao amigos do convívio do protagonista e aniversariante da ocasião:
o cínico escritor de um livro apenas, Jep Gambardella (uma
baita atuação do Toni Servillo).
A
busca pela tal “grande beleza” é o que norteia a vida dele, mas
sem muito ser dito a respeito.
O
filme simplesmente passeia pelos dias sem se preocupar nem um pouco
em estruturar as coisas pro público.
Em
grande parte o roteiro deixa aquele tipo de pista que muito cinéfilo
curte pra depois conjecturar significados.
Sem
dúvidas, amparado pelo trabalho do diretor de fotografia e a trilha
sonora composta por Lele Marchitelli, o cineasta
possui os recursos pra criar a sua homenagem ao cinema de
Federico Fellini, mesmo que isso implique em
semelhanças tantas que por vezes pese o pensamento de que, ainda que
um filme bem feito, na originalidade ele perca o status de obra-prima
que parece ter sido cuidadosamente imaginado pra ser.
Além
disso, momentos arrastados dispersam o seu efeito quando as longas
festas, e demais arestas sobrando no roteiro povoam (e se repetem) no longa-metragem.
Mas o
que o filme faz muito bem é a crítica.
É
sutil por vezes, e em outras de maneira muito direta, seja na ligação com a
própria arte (não posso acreditar que as perfomances artísticas
apresentadas no filme não tenham sido pra provocar riso), com a
religião, ou com a degradação dessa sociedade romana decadente chafurdando em suas
posses.
Serve pra demonstrar este último, uma coleção esdrúxula de amigos e conhecidos do protagonista que exemplificam de modo seguidamente risível os porquês de essa alta sociedade estar buscando investir seus dias no efêmero e vazio, e que parece ser exatamente o que o personagem de Servillo quer abandonar, algo que ele logo passa a fazer acompanhado da atriz Sabrina Perilli, que aliás, também integra essa cambada de gente sem nada que preste pra fazer.
Serve pra demonstrar este último, uma coleção esdrúxula de amigos e conhecidos do protagonista que exemplificam de modo seguidamente risível os porquês de essa alta sociedade estar buscando investir seus dias no efêmero e vazio, e que parece ser exatamente o que o personagem de Servillo quer abandonar, algo que ele logo passa a fazer acompanhado da atriz Sabrina Perilli, que aliás, também integra essa cambada de gente sem nada que preste pra fazer.
Ainda
assim, na comparação com outros filmes cadenciados no limite, A
Grande Beleza é bem menos coeso do que o filme “Amor” de
Michael Haneke, por exemplo.
Paolo
Sorrentino dirigiu seu filme sem saber se desvencilhar de suas
influências o que enfraquece sua obra, mesmo que, sabendo onde o
filme “Avatar” conseguiu chegar, é capaz de o júri nem ser
capaz de perceber.
A
Grande Beleza. Recomendado para: quem curte filmes de arte pra ficar argumentando significados depois.
A
Grande Beleza
(La
Grande Bellezza)
Direção:
Paolo Sorrentino
Duração:
142 minutos
Ano
de produção: 2013
Gênero:
Drama
Confere NESSE LINK a crítica de outros indicados ao Oscar 2014.
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