O filme mal começa e a
comparação se torna inevitável.
Martin Scorcese teve
outra oportunidade de revisitar seu clássico estilo empregado em “Os
Bons Companheiros” e
“Cassino”, e não desperdiçou.
Mas é verdade que ficar
preso na comparação seria uma cagada.
O objetivo aqui é bem
outro.
Ao apresentar
simplesmente todo e qualquer aspecto da vida de ostentação, drogas,
e mulheres, do protagonista Jordan Belfort, corretor da bolsa
de valores, tendo por base sua autobiografia, o diretor se direciona
pra um relato que mira mais no humor do que nos aspectos
criminais das atividades do cara.
O personagem do Leonardo
DiCaprio é o centro do filme a ponto de não deixar espaço pra
quase ninguém.
Todos os outros
personagens servem apenas pra que o cotidiano dele transpareça na
tela com mais detalhes que reiterem e reforcem a necessidade dele de
ascender financeiramente sem ligar a mínima pra quem quer seja.
Nisso, ele aprende bem
com as lições do personagem do Mathew McCounaghey, que em
mais uma atuação sensacional, nos seus poucos minutos em tela é o
único que consegue manter o personagem de DiCaprio longe
desse pedestal de tamanho destaque, a ponto de ofuscar tudo e todos
os demais no filme.
Assim sendo, mesmo com a
hilária atuação do Jonah Hill, em uma espécie de amálgama
do personagem de Joe Pesci, na filmografia legendária do
Scorcese, misturado com o personagem Alan,
de “Se Beber Não Case”, a primeira hora e meia é
destinada a mostrar essa vida de excessos do protagonista
assumidamente viciado em drogas, e que tem sua ascensão com um
empreendedorismo fora do comum.
Com acidez que sempre
recai cirurgicamente no mencionado humor, a nada politicamente correta vida do pilantra visa resumir o modo de vida de tantos outros que
nem ele, e por isso é natural centralizar no protagonista o único
desenvolvimento de personagem.
Afinal, além do mais, o
ator escolhido pra uma nova parceria com o cineasta não tem
dificuldade nenhuma em chafurdar na rotina do seu personagem, e usar
o exagero do contexto pra se desvencilhar da imagem que ele carrega
com suas caracterizações físicas similares.
No andamento, “O
Lobo de Wall Street” é um longa-metragem muito dinâmico.
O visual e trilha sonora
garantem uma atmosfera mais leve do que o esperado com as frequentes
orgias (de mulheres, barbitúricos, e pó), além, é claro, de
contar com o uso do absurdo (ainda que espelhado em fatos) em benefício do filme, o que envolve, obviamente, discursos inflamados e motivacionais pra uma plateia que está pronta
a tirar a roupa e cair na gandaia ao menor indício de que alguém
tenha falado em ganhar dinheiro entre as frases.
E são tantas cenas que
beiram o bizarro que fica difícil escolher alguma.
De momento, acho que vou
escolher a da paralisia, e a do barco em alto-mar, mesmo que o
diálogo em pensamento com o suíço, o quase flerte com a tia, a
primeira vez fumando crack, as primeiras lições ensinadas aos
corretores traficantes, e... a lista é realmente longa, de cenas que
conseguem provocar riso, e fazer as 3 horas passarem rápido.
A questão nem é essa.
O que fica no ar é que
muitas das cenas de farra, e detalhismo nas mesmas, simplesmente soam
repetição.
Divertidas,
porém prolongam o filme além do que parece necessário. E mesmo que
não seja algo que torne arrastado assistir, não parecem mesmo ter
tamanha função. Afinal, algumas sequências já deixam claro quem
Jordan Belfort é, e o tipo de entretenimento que ele e seus asseclas
curtem.
A perfeição narrativa de "Goodfellas", por exemplo, passa pela constatação de que há sempre fatos novos na trama, e que não estão ali pra reiterar algo já assistido minutos antes, e causar somente impacto imediato.
É tudo imprescindível pra trama. E nesse caso se justifica a metragem extensa.
É tudo imprescindível pra trama. E nesse caso se justifica a metragem extensa.
Em “O Lobo de Wall
Street”, várias cenas, caso não estivessem na versão final, não deixariam parte do que tinha que ser dito incompleto. Do jeito que ficou, o aspecto cômico acaba tão forte que vai diminuindo
a impressão de que qualquer forma de ameaça que se apresente possa
ser levada a sério. E as tais ameaças eventualmente surgem, no
entanto, sem efeito algum, a não ser pra servir de escada ao humor
que ressurge a cada 5 minutos.
Engraçado é, mas também
vai parecendo algo cada vez mais vazio e desimportante.
Banal a ponto de praticamente nada do que é pra ser repulsivo, realmente incomodar.
Banal a ponto de praticamente nada do que é pra ser repulsivo, realmente incomodar.
Algumas cenas não seria incorreto chamar de "um American Pie inspirado em fatos reais e com pretensões críticas".
Mesmo que sendo um filme do gênio Scorcese o espectador seja favorável a receber a hora a mais de metragem pela diversão, e porque elas separadamente são todas cenas hilariantes na sua dose alta de escracho.
Mesmo que sendo um filme do gênio Scorcese o espectador seja favorável a receber a hora a mais de metragem pela diversão, e porque elas separadamente são todas cenas hilariantes na sua dose alta de escracho.
Acontece que, mesmo sendo
apenas material eficaz, fica bem evidente que após uma
hora e meia é que começa enfim o ponto mais dramático do
longa-metragem (que ainda permanece muito engraçado), em que fica evidente que as viagens alucinógenas dos personagens
servem de contextualização, e não como crítica pontual.
A partir da segunda metade permanece a diversão e o
humor, porém mais focado.
Ainda assim, com o passar dos minutos, o que realmente faz falta é qualquer efeito convincente na vida dos personagens. O que se sobressai é essa ilusão de drama e tragedia, tal qual um filme em que o protagonista leva um tiro no ombro pra fingir que ele também pode ser ferido, quando isso não é nem sentido por ele, e nem interfere nas suas estrepolias futuras.
Em "O Lobo de Wall Street" a trajetoria de Jordan Belfort não representa nada.
Ele começa e termina o mesmo. Nada a ser aprendido. Nada verdadeiramente importante, e apenas faz pensar se o frenético circo dos aproveitadores do cenário financeiro não poderia ser muito resumido.
Ainda assim, com o passar dos minutos, o que realmente faz falta é qualquer efeito convincente na vida dos personagens. O que se sobressai é essa ilusão de drama e tragedia, tal qual um filme em que o protagonista leva um tiro no ombro pra fingir que ele também pode ser ferido, quando isso não é nem sentido por ele, e nem interfere nas suas estrepolias futuras.
Em "O Lobo de Wall Street" a trajetoria de Jordan Belfort não representa nada.
Ele começa e termina o mesmo. Nada a ser aprendido. Nada verdadeiramente importante, e apenas faz pensar se o frenético circo dos aproveitadores do cenário financeiro não poderia ser muito resumido.
Mesmo sem forçar nas
comparações, “O Lobo de Wall Street” não chega a ser o
novo clássico Scorcesiano que muitos gostariam. Muito longe disso.
Essas suas obras-primas
ainda são algo de tempos atrás.
No seu mais novo trabalho, Scorcese escolhe a acidez do discurso enquanto essência, e narrando com estilo consegue criar mais um divertido filme.
Mas o esperado é que ser apenas "divertido" não seja o objetivo dele a partir de agora.
No seu mais novo trabalho, Scorcese escolhe a acidez do discurso enquanto essência, e narrando com estilo consegue criar mais um divertido filme.
Mas o esperado é que ser apenas "divertido" não seja o objetivo dele a partir de agora.
O
Lobo de Wall Street. Recomendado para: 3 horas do tipo raro de historia de "superação" que não quer te emocionar.
O Lobo de Wall Street
(The Wolf of Wall
Street)
Direção: Martin
Scorcese
Duração: 180 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: ComédiaSign up here with your email
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