Eu Matei o Libório



Quando o cara lê uma HQ de alguém que conseguiu visionar tantos pequenos contos fantásticos em um livro, mas que dessa vez investe em uma narrativa mais longa, dentre todas as incertezas que surgem ao conhecer uma obra de potencial originalidade, ainda consegue se destacar a certeza de que agora com mais páginas pode sim resultar algo fora do comum.
A leitura do livro em quadrinhos "(Sic)", do Walmir Orlandeli, apesar de bastante agradável, era uma representação de um mundo menos, como é que eu vou dizer... bonito. Acho que é essa a palavra.
Desde a arte, passando pela representação de contextos e claro, de personagens, tudo tinha um ar mais sujo, e de certa forma sombrio.
Mas sem deixar de ser divertido. Nunca.

Em "Eu Matei O Libório", a sujeirada meticulosa retorna, com a sensação de traços espontâneos preenchendo a página, com a precisão cirúrgica de quem faz daquilo mais do que os riscos que em uma folheada poderiam enganar um desinteressado ocasional.
Bastam algumas páginas devidamente lidas pra que os traços nada convencionais pareçam a única forma correta de representar o mundo ao qual somos apresentados na história.
História essa que é um humor negro que desperta até nostalgia.
De clássicos cinematográficos tais quais "Jogue a Mamãe do Trem", e a "Guerra dos Roses", que nem sei se o Orlandeli assistiu, ou se curte, mas foram obras que me vieram à mente.

Só que a história do infeliz que vive à sombra do Libório, não é remake homenageando os outros. Não parece mesmo se resumir a isso.
O protagonista sem nome é alguém que talvez não fosse tão loser se não fosse pelo fato do tal Libório ser figura onipresente onde quer que ele esteja desde a infância.
Por isso, qualquer fase da vida longe dele é um alento.
O humor construído dessa vez é mais direto do que em (Sic), e funciona de outra forma, ainda que a divisão em capítulos crie um efeito episódico de tempo em tempo.
E dessa vez, apesar de sombrio, o roteiro parece muito menos opressor do que eram várias tiras em (Sic).
É a proposta da vez, e mesmo que o título seja um possível odioso spoiler, a narrativa flui com naturalidade e fatos novos que tornam muito agradável essa história de vingança em que talvez não haja nenhum motivo válido pra algo ser vingado.

Eu Matei O Libório. Recomendado para: ver um protagonista assassino se justificando na cara de pau, e se divertir com a ineficácia do argumento do cara.

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