Eu aposto um blu-ray dos Vingadores com um striptease da Scarlett Johanson nos extras que, nesse exato momento, em uma sala de reuniões, algum grupo de executivos de Hollywood está a escolher algum clássico para ser refilmado.
As refilmagens já são uma constante no cinema mainstream e a chance de tais obras serem achincalhadas em praça pública é real. Isso porque os remakes compreendem uma história que já foi contada e, sendo assim, soam como se fossem reles caça-níqueis que, após serem lançados, resultam em um trabalho sem personalidade. Não por acaso muitas refilmagens quando chegam ao público são metralhadas tal qual algum desafeto do Don Corleone.
Todavia, há refilmagens que por não serem tão fiéis ao produto original e também por adotarem uma nova abordagem, conseguem se tornar uma história interessante e, em determinados casos, eclipsar até mesmo a obra de origem, fazendo os incautos espectadores acreditarem que ainda há gente na indústria do entretenimento com alguns neurônios em funcionamento. Um exemplo de refilmagem decente e que se torna superior ao original é o longa-metragem O Enigma do Outro Mundo.
Esse filme, lançado em 1982, é a refilmagem de um filme de 1951 chamado O Monstro do Ártico que, por sua vez, é baseado em um conto publicado em 1938 sob o título de Who goes there?, escrito por John Campbell.
O Enigma do Outro Mundo marca a parceria entre o ator Kurt Russel e o diretor John Carpenter em um filme que destaca o clima de tensão e desconfiança criado pelos personagens. Além disso, Carpenter acertou em cheio em apenas usar a ideia central da produção dos anos 50 e a partir dela pariu um filme com personalidade e “original”.
Contudo, O Enigma do Outro Mundo aterrisou em nosso planeta justamente no ano em que Spielberg lançou o seu ET afável e fofucho, fato esse que atraiu os olhares do grande público e o considerou mais aprazível que o alienígena dominador e maléfico do Carpenter.
Para mim, o único defeito da versão carpenteriana é a ausência da presença feminina no elenco, pois assistir a um grupo de barbudos na neve não é o meu ideal de diversão, mas justiça seja feita, a narrativa concisa compensa esse deslize.
Em 2011 lançaram um prólogo do Enigma do Outro Mundo. Apesar do tal prólogo apresentar mulheres no elenco, inclusive uma delas é interpretada pela Mary Elisabeth Winstead, o filme ainda assim é um caça-níquel tão desnecessário quanto uma buzina em avião.
Nos anos 80, o canadense David Cronenberg também foi buscar nos anos 50 a inspiração para uma refilmagem. O filme da vez foi A Mosca da Cabeça Branca, lançado em 1958, protagonizado pelo eterno Vincent Price e baseado em um conto de George Langelaan.
Jeff Goldblum |
Na visão de Cronenberg, o filme possui a mesma premissa da sinopse original: cientista obcecado se submete ao seu próprio invento (uma máquina de teletransporte) e se funde com uma inocente mosca que, sem se dar conta, estava na hora errada e no lugar errado.
É possível afirmar que esse longa-metragem, lançado em 1986, caiu como uma luva para o cineasta David Cronenberg, que nunca escondeu seu interesse em abordar as transformações físicas (e psicológicas) dos seus personagens. Nesse caso, o processo de metamorfose do cientista interpretado por Jeff Goldblum foi resultado de um primoroso trabalho de maquiagem e rendeu cenas perfeitas para fazer até o espectador mais sisudo fazer cara de nojinho.
Mas vale destacar que por trás de todas as cenas viscerais e grotescas, reside uma bela metáfora sobre os dilemas da tecnologia e a busca da perfeição, tais elementos foram abordados em um roteiro soberbo redigido por George Edward Pogue e o próprio Cronenberg.
No entanto, nem sempre um remake se torna melhor que o original. Há vários casos em que ele se torna tão bom quanto. Esse é o caso do longa-metragem Sete Homens e um Destino, um Clássico com “C” maiúsculo dirigido por John Sturges e baseado em um filmaço chamado Os Sete Samurais, lançado em 1954 e dirigido pelo mestre Akira Kurosawa.
Sete Homens e um Destino, lançado em 1960, é aquele caso em que tudo funciona perfeitamente. Vejamos: elenco impecável com Steve McQuenn e Charles Bronson no auge das suas capacidades de serem fodões, cenas antológicas, tiroteios em quantidades generosas e uma imponente trilha sonora composta por Elmer Bernstein e que faz arrepiar pelos que o cara nem lembra que possui. Por tudo isso, Sete Homens e um Destino é tão marcante que o argumento dele inspirou outras produções como a comédia Os Três Amigos, dirigida por John Landis, e a aventura espacial Mercenários das Galáxias, um Star Wars dos pobres produzido pelo mestre ROGER CORMAN.
E quando uma refilmagem é decente, atrai olhares para a obra original. Foi exatamente isso que o diretor Paul Schrader conseguiu ao lançar, em 1982, o longa-metragem A Marca da Pantera, remake do filme francês Sangue da Pantera, dirigido por Jacques Torneur e que em 1942, ano do seu lançamento, não obteve o devido reconhecimento.
A Marca da Pantera dos anos 80 possui todos os ingredientes necessários para uma fábula adulta. Há doses de suspense, erotismo, insinuações incestuosas e até terror psicológico, tudo temperado na medida certa e sem dramalhões xaropes. O elenco conta com o famoso ator Malcolm McDowell (que atuou em Laranja Mecânica e Calígula), mas quem se destaca é a deliciosa Natassja Kinski, que na vida real é filha do temperamental ator Klaus Klinski.
Além disso, para quem aprecia música, A Marca da Pantera tem trilha sonora do David Bowie e do Giorgio Moroder. O primeiro é um compositor britânico que dispensa apresentações, já o segundo é um italiano responsável por um extenso trabalho no cinema e na música eletrônica. Uma das contribuições de Moroder foi, em 1984, restaurar o épico da ficção científica Metrópolis, dirigido por Fritz Lang em 1927.
E é também da França que veio o filme que originou True Lies. É sim, incauto leitor, True Lies, protagonizado pelo Arnold “Terminator” Schwarzenegger, é a refilmagem de um filme chamado La Totale!, lançado em 1991. A trama do original é semelhante ao remake, ou seja, há o marido que é um espião secreto e mente para a esposa que é um cidadão comum.
Lançado em 1995, True Lies é, para mim, o último filme realmente divertido do diretor James Cameron. Até porque, não são todos os dias que Cameron e Schwarzenegger unem forças em um filme com cenas de ação absurdas e a Jamie Lee Curtis ainda gostosa.
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