Monstro do Pântano

 
Atualmente Marvel e DC Comics, duas grandes potências das revistas em quadrinhos, garantem alguns trocados nos bolsos todas as vezes que levam alguns dos seus respectivos personagens para a tela grande. A indústria cinematográfica, a partir do início do século XXI, encontrou uma lucrativa fonte de renda meio ao aproveitar heróis e vilões que até até então faziam sucesso nas páginas das revistas. Contudo, a situação nem sempre foi favorável e durante as décadas de 80 e 90, filmes de super heróis demandavam muito custo na produção e pouco retorno financeiro. 
 
Com a exceção de alguns blockbusters de respeito, tais como o Superman do Richard Donner (imortalizado pelo Christopher Reeve, em 1978) e do Batman do Tim Burton (com o Jack Nicholson barbarizando como Coringa em 1990). Exceto por esses dois personagens que fazem parte do primeiro escalão da DC Comics, os outros heróis (tanto Marvel quanto DC) renderam produções fuleiras que, na maioria das vezes, iam direto para circuito do VHS abastecer as estantes das vídeo-locadoras. Como exemplo disso há o Quarteto Fantástico do Roger Corman e o espalhafatoso Capitão América do Albert Pyun, ambos lançados no início dos anos 90.

Porém antes disso, mais precisamente em 1982, a DC Comics ousou apostar em um personagem das HQs para protagonizar um longa-metragem. 
 
 
Curiosamente, tal personagem não era nenhum dos seus super heróis de uniforme multicor, mas sim, uma criatura vegetal que não era oriunda de um planeta distante, não dominava técnicas de luta e seria a última alternativa para defender os fracos e oprimidos. Esse personagem, desconhecido do grande público, era o Monstro do Pântano.

A Casa dos Segredos

O bicho do banhado foi um personagem criado para protagonizar apenas uma aventura destinada a ilustrar o número 92 da revista House of Secrets, publicada em julho de 1971. A House of Secrets é uma antiga publicação da DC voltada para histórias de terror, ficção científica e suspense.
 
 
Em apenas 8 páginas, o roteirista Len Wein e o ilustrador Bernie Wrightson entregaram a trágica trama de um cientista chamado Alex Olsen, que sofre um atentato friamente calculado pelo colega Damian Ridge.
O invejoso Ridge almejava conquistar Linda Olsen, a esposa do colega. Para cumprir tal intento, planejou uma explosão no laboratório onde Alex trabalhava. A explosão, aliada aos produtos químicos e um pântano localizado nas proximidades, fez com que o cientista voltasse à vida na forma de um grotesco monstro vingativo, provando que cobiçar a mulher no próximo, pelo menos na ficção científica, não é uma boa ideia.
Após a vingança ter sido realizada, a “coisa do pântano” (Swamp Thing, no original) sem poder explicar para Linda que ele, apesar de verde e gosmento, era o seu marido, teve que retornar melancólico e solitário para o pântano.

Pronto. Uma história simples, mas que caiu no gosto do público. Cientes do potencial de vendas, a editora que publicava histórias da Liga da Justiça convocou novamente o mesmo roteirista e o mesmo ilustrador para escreverem regularmente histórias do homem que virou um bicho pantanoso. No entanto, a dupla de artistas deixou de lado o conceito adotado para a House of Secrets e criaram um novo personagem, também cientista, chamado Alex Holland, que viria a se transformar no novo Monstro do Pântano.

A nova abordagem durou de 1972 a 1976 e apresentou um monstro mais heróico, combatendo toda a espécie de vilania, desde ladrões fuleiros até feiticeiros e ameaças sobrenaturais. A história que é o passo inicial dessa fase é a Gênese Sinistra, publicada em Swamp Thing nº 1, em novembro de 1972. (Vale lembrar que este material foi republicado no Brasil pela Editora Panini em um álbum chamado Clássicos do Monstro do Pântano: Raízes - Volume 1).

Do pântano das revistas para afundar na areia movediça dos filmes

Foi no início dos anos 80 que os produtores Michael E. Uslan e Benjamin Melniker decidiram realizar um longa-metragem protagonizado pelo monstro. Até porque, o filme do Superman de 1978, produto da DC Comics, foi uma aventura que angariou êxito comercial e rendeu boas críticas. 
 
Ray Wise e Adrienne Barbeau
 
Os produtores estavam empolgados também com um longa-metragem do Swamp Thing, pois também poderia divulgar para um público mais amplo as revistas. Ou seja, a velha união da “fome com a vontade de comer”.

Para dirigir o filme, foi convocado Wes Craven, cineasta oriundo do terror mais casca-grossa, tais como The Last House on the Left (1971) e Quadrilha de Sádicos (1977). Mas naquele período, Craven passava por um período de vacas magras e angariava trocados na direção de filmes eróticos e, inclusive, alguns pornográficos.
 

Wes Craven chegou, em 1978, dirigir um filme para a TV chamado Stranger in our house, que tinha a Linda Blair (a guria do Exorcista) no elenco. Ao receber a proposta de sentar na cadeira de diretor do Monstro do Pântano, Craven foi com sede ao pote. Tinha tudo para ser um filme, no mínimo decente. Infelizmente o resultado passou a anos-luz disso.
 
O roteiro do filme do Monstro do Pântano (lançado em 1982) adotou várias liberdades poéticas em relação ao Monstro que é o protagonista dos quadrinhos. Tais liberdades seriam perdoáveis se não tirassem da criatura aquela aura de herói trágico que tanto fez sucesso nas páginas da House of Secrets. Outro problema é o visual pobretão do personagem principal, uma esdrúxula roupa verde com tecido de borracha e que, certamente, não seria usada nem para um cosplay nas Comic Cons da vida. Quem vestiu e sentiu na pele o que é ser o Monstro do Pântano foi o falecido dublê Dick Durock.
 
 
No elenco há o ator Ray Wise interpretando o desafortunado cientista que se transforma em monstro. Wise, anos mais tarde, ganhou destaque na série Twin Peaks, ao interpretar o pai da Laura Palmer.
Há também o vilão Ferret, interpretado por David Hess, que anos antes já havia trabalhado com Craven em The Last House on the left.

E tem também a presença da atriz Adrienne Barbeau interpretando a agente Alice Cable. Curiosamente, em um filme que é para ser censura livre, Barbeau em um dado momento aparece com os seis expostos quando, em uma cena, toma banho em um açude. Valeu Craven!!

Depois do filme...

O longa-metragem não obteve o êxito necessário e apenas não afundou a carreira de Wes Craven no lodo do ostracismo porque em 1984 ele lançou A Hora do Pesadelo, filme que se tornou uma marco do cinema de terror oitentista.

Já a DC Comics aproveitou para publicar até uma adaptação do filme em quadrinhos. Nos anos seguintes, a revista foi rebatizada com o nome de A Saga do Monstro do Pântano e quem assumiu o comando dos roteiros foi Martin Pasko. O fato é que as histórias, envolvendo uma criatura quase super heróica já não atraíam mais tanto atenção. Foi assim que, prestes a ser cancelada, a DC chutou o balde e em 1984 chamou um até então quase desconhecido roteirista britânico. Esse cidadão, chamado Alan Moore, gozou de liberdade para fazer o que bem entendesse com aquela revista de morte cerebral praticamente decretada. 
 
 
O fato é que a mente esvoaçante e enciclopédica do escritor britânico carregou as páginas com conceitos filosóficos, ecológicos e outros temas que até então eram vagamente trabalhados em uma HQ dita comercial. Em alguns casos o próprio Monstro do Pântano se tornava coadjuvante. Esta fase do bicho do banhado mais querido da DC foi publicada no Brasil na década de 90 pela editora Abril.
 
 
O resultado foi satisfatório. Alan Moore, nessa fase, introduziu também na revista um personagem ocultista, fumante e fisicamente parecido com o Sting, baixista e vocalista da banda The Police. Tal ocultista é John Constantine, personagem tão dúbio, reclamão e egocêntrico que em 1988 ganhou uma revista para chamar de sua: Hellblazer. O resto é história.

Um outro filme

O Monstro voltou em uma sequência ainda mais capenga chamada A Volta do Monstro do Pântano, lançada em 1989. Quem dirigiu a bagaça foi Jim Wynorski.
O Monstro do Pântano também invadiu a mídia televisiva entre 1990 e 1993, em uma série que contou com 100 episódios.
 
 
Ah! E os produtores Uslan e Melniker, que em 1982 colocaram pilha para o pessoal fazer o filme do Swamp Thing, retornaram em 1990 quando colocaram o Batman (um dos grandes personagens da DC Comics) nas mãos de um sujeito chamado Tim Burton.
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