Era Uma Vez em Nova York (2013)



Na década de 20, a guerra força duas irmãs polonesas a fugir de seu país em busca do sonho de uma vida estadunidense repleta das liberdades e potencial com que o american way of life é panfleteado.
Mas claro, as coisas não saem tão bem assim, e a protagonista precisa ir por caminhos adversos pra tentar garantir um futuro pra ela e pra irmã.
Esse é o mote inicial do mais recente filme do diretor James Gray, e que apesar do título grandiloquente na versão brasileira, é com certeza muito mais o que o título original sugere: uma história de uma imigrante.



Não é com desdém que eu escrevo isso. Não tem nada de errado com o título original, e ele apenas faz mais justiça ao que o filme se propõe.
Isso porque não é de títulos pretensiosos que precisa a jornada da personagem principal, Ewa, interpretada pela Marion Cotillard.
O drama inerente já lhe é suficiente, mesmo que pra fins de bilheteria, por aqui tenha sido considerado que não.
Ela é uma imigrante em busca de sonhos de felicidade, tal qual tantos outros, e isso é o bastante pra que seus objetivos ecoem a vida de tantas outras pessoas, algo que bem desenvolvido já teria apelo pra que seu público saísse da sessão com a sensação de ingresso bem investido.
Mas enfim.
O filme começa mesmo quando o personagem de Joaquin Phoenix aparece, nessa que é a quarta parceria com o diretor.
Além de ser um baita ator, o personagem que ele interpreta é que transforma os rumos da vida da Ewa, que vai aprendendo mais a respeito de sobrevivência em um choque de realidade que torna cada vez mais difícil associar sua utópica expectativa ao contexto que agora conhece.


Pra variar, direção de fotografia, figurinos, e toda composição de época são impecáveis, e resgatam o período tirando-o do imaginário e da lembrança e pra que se faça presente de novo durante a sessão de cinema.
A produção primorosa, no entanto, não esconde as limitações do roteiro, que lida com vários momentos potencialmente marcantes, sempre deixando uma sensação de sub-aproveitamento, muito devido aos seus personagens complexos, trabalhados de maneira superficial.
O grande conflito central divide o interesse da personagem de Cottillard entre Bruno (Joaquin Phoenix) e Orlando/Emil (Jeremy Renner), e sendo o que desencadeia os maiores embates dramáticos do enredo, é nesse mesmo ponto que o longa-metragem fraqueja.
E isso não não fica na conta das atuações. Talvez pese mais sobre o Jeremy Renner, mas não seria um motivo fundamental.
Os 3 parecem realizar suas funções em mais uma demonstração de capacidade dos atores, com alguns altos e baixos, porém o quanto o envolvimento deles foi aprofundado é que é o problema.



Esse relacionamento fica no quase, no quesito intensidade, e as agruras pelas quais Ewa passa não chegam a incomodar tal qual se esperaria do que o filme relata.
Não chega a ser ruim, ou tedioso, apenas não desencadeia tamanho envolvimento, ou desconforto que algumas cenas sugerem.
A favor do longa-metragem, no entanto, algo genuinamente consistente é a química entre Marion Cottilard e Joaquin Phoenix.
Ela transmitindo fragilidade e obstinação na mesma medida, enquanto ele se transfigura em um personagem que apesar de aparentar poder, não é nada mais que outro qualquer buscando o melhor que o sonho americano parece oferecer a poucos.
Essa dinâmica rende os melhores diálogos, e cenas nas quais as falhas de condução da história podem ser esquecidas.


Apesar de suas qualidades notáveis, "Era Uma Vez em Nova York" é um filme bem menos épico do que o marketing tenta vender.
Um drama a respeito de ambições e sonhos que se desfazem diante de anseios e vontades simples, e que denotam a humanidade de seus personagens.
Personagens estes que mesmo bem atuados, se enfraquecem na trama que trabalha melhor o contexto do que os seus relacionamentos.
Por isso, "Era Uma Vez em Nova York" não é um filme surpreendente ou sensacional quando a qualidade técnica é somada ao restante, mas ainda assim cumpre razoavelmente seu papel, e graças a Joaquin Phoenix e Marion Cotillard vai além de ser uma obra descartável.


Quanto vale:


Era Uma Vez em Nova York. Recomendado para: uma tentativa de cinema cult, com mais aparência do que resultado.

Era Uma Vez em Nova York
(The Immigrant)
Direção: James Gray
Duração: 120 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Drama

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