Malévola (2014)




Nessa briga louca por bilheteria, de todas as modas reincidentes, a de reaproveitar contos de fadas é ainda uma das mais lucrativas. Muitas vezes a mais sem graça, também.
Não sem motivo esse interesse em faturar com releituras ligadas a essas histórias também tem sido presença constante nos seriados na tv, enquanto permanece uma certeza entre os lançamentos anuais.
Afinal, além de ser possível vir na forma de conto moral, que seria justificativa pros adultos escolherem aquele filme pra assistir com seus filhos, existe a própria possibilidade de ser assistido por toda família, contendo frequentemente efeitos especiais de aceitável qualidade, e ultimamente, batalhas de grandes proporções genéricas.



A investida dos estúdios Disney traria uma proposta inicial inesperada, fazendo dessa vez da vilã bruxa de sempre, a protagonista.
O roteiro que chegou nas mãos do diretor Robert Stromberg tinha esse detalhe pra não ser mais um filme de contos de fadas, e com isso faturar mais que a concorrência.
Isso funcionou, na certa.
"Malévola" rendeu mundialmente mais de $750 milhões, e é a maior bilheteria de um filme estrelado pela Angelina Jolie, isso muito porque o longa-metragem atende plenamente os requisitos que eu mencionei acima.
Mas ainda assim, não é que "Malévola" realmente venha com a ousadia no seu produto final.
Esse não era mesmo um pré-requisito. Era só uma coisa interessante pra vender em cartazes e trailers.




A grande comprovação que o resultado comercial do filme aponta é que esse amontoado de efeitos especiais, um drama arrastado e meloso, envolto em uma auto-afirmação de roteiro audacioso é exatamente o necessário pra faturar umas vezes o que se investiu, e se tornar o maior êxito financeiro em live-action da carreira da atriz em torno da qual a produção gira.
Eu não diria que haveria relaxo da parte de ninguém na realização de "Malévola". Esse não é o problema.
O que acontece é que se trata de um filme tão comum e sem nada pra destacar que eu só posso considerá-lo horrivelmente medíocre.
O tipo de cinema que alguém passar a vida inteira sem assistir não representaria perda nenhuma.
Aparentando estar ciente disso, o vilão (o de verdade) interpretado pelo Sharlto Copley é de longe o personagem mais caricato e formatado pra ser ameaça rasa que foi possível criar.
Quanto a Angelina Jolie, sua personagem está mais pra heroína trágica, e ainda que finja maldade nas conversas com seu corvo (Sam Riley), demonstre esforço e experiência em sua interpretação, e algum carisma que ninguém mais do elenco é capaz, não torna menos óbvios os rumos da história, que nas mãos do diretor se encaminha palatável pra todos os públicos mais por ser contada de forma simplória do que pela sua efetividade narrativa.


Esse filme encaixotado e imaginado pra atender desde as cenas de batalhas envolvendo exércitos, embates com poderes e chamas em profusão, até momentos de redenção e traições descaradamente esperadas, só não pode ser considerado um blockbuster aceitável devido à condução da trama pelo diretor.
Porque vários filmes de roteiro mediano e atuações fracas conseguiram resultado melhor com uma intervenção incisiva do cineasta responsável.
Coisa que não ocorre em "Malévola", porque o Robert Stromberg parece ter apenas ouvido as orientações do estúdio e seguido tal qual um operário padrão, sem nada diferente do que qualquer outro operário padrão faria.
Pode até ser que o tom de aventura romântica e desilusão implique em aceitação do filme nesse momento do cinema pós-Crepúsculo, e vendo dessa forma, a produção alcançou plenamente o seu objetivo, que não era necessariamente criar um bom filme.
Porque a sinopse com alguma ousadia é apenas isso: um argumento pronto pra depois da compra do ingresso justificar uma sessão de cinema das mais desinteressantes.



Quanto vale:



Malévola. Recomendado para: cumprir tabela na temporada.


Malévola
(Maleficent)
Direção: Robert Stromberg
Duração: 97 minutos
Ano de produção: 2014
Gênero: Aventura/Fantasia


Confere a crítica de outros indicados ao Oscar 2015 NESSE LINK.

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