Tangerines (2013)




Existe uma diferença grande de critérios, ao que tudo indica, na escolha de indicados a melhor filme e melhor filme estrangeiro, no Academy Awards.
Tangerines, o filme que nomeia esta postagem eu assisti mesmo por causa da tal indicação, e pelo meu ganha-pão no Satélite Vertebral.
Não é que o filme me parecesse ruim ou desinteressante.
Apenas questão de prioridades e quantidade de filmes acumulados.
Mas sobre os critérios que eu mencionei, é tão mais comum encontrar bons dramas dentre os filmes falados em língua estrangeira e limitados a uma categoria a parte no Oscar, e ao mesmo tempo bem habitual algum blockbuster de poucas qualidades mas mergulhado em hype bem cotado na lista de indicados a "melhor filme".
A verdade é que, pra quem procura os tais bons dramas, e algo mais valioso que "a história é meio previsível, mas a fotografia, e a direção de arte compensam" pode muito bem encontrar o que busca dentre os indicados de fora de Hollywood.



O trabalho do cineasta Zaza Urushadze, por exemplo, demonstra nesse seu filme "Tangerines" um desinteresse completo por efeitos especiais, ou qualquer coisa que pareça atrair multidões pro cinema.
Afinal, no geral mesmo, os dramas têm maiores chances de lotar as salas de exibição depois que são indicados a alguma coisa, e não pelo seu cartaz (a menos que seja um drama protagonizado por um astro de outro gênero cinematográfico).
A história de "Tangerines" se passa em meio a uma guerra civil entre chechenos e georgianos lutando pela região da Abecásia, em meados dos anos 90.
No meio disso tudo, vemos um senhor tranquilo na sua lida, construindo caixas de madeira em um local remoto.


Não demora pra que alguns soldados se aproximem do cara, que se chama Ivo (interpretado pelo Lembit Ulfsak), e desde então se perceber que mesmo em meio ao conflito, Ivo mantém uma personalidade que não olha uniformes e distinções de lados na batalha antes de ver pessoas.
Com sabedoria ele dialoga com os militares, não apenas esses, mas com os demais que haverão de passar pela sua casa.
Dois deles vão ser o gatilho da história que vai se desenrolar com roteiro preciso e atuações minuciosas: Nika (Misha Meskhi), um soldado georgiano, e Ahmed (Giorgi Nakashidze), um soldado checheno.
É mais que óbvio que a inimizade vai se fazer presente a partir de então, e a maneira como o o enredo vai se desenvolver a partir daí é que faz "Tangerines" injustiçado por não chegar nem perto da lista de melhores filmes.
Com um elenco reduzido, que conta ainda com o amigo de Ivo, Margus (Elmo Nüganen), a maior parte do longa-metragem se desenrola em um mesmo local, e de maneira intimista traz à tona todo o ódio contido pelos inimigos em função da guerra, mas que em determinada situação precisam se tolerar.


A simplicidade com que o cineasta acompanha as discussões e manifestações preconceituosas de ambos lados só aumenta a sua capacidade de transformar essa quase hora e meia de filme em uma obra ainda mais reflexiva e singular.
Graças em boa parte às atuações desses quatro protagonistas, que esse filme de metragem irrisória se comparado à moda de exceder muito as duas horas, se tornou um libelo pacifista sem melodrama algum, e de uma crueza que vai dizer a que veio como resultado da sessão.
Mesmo que seja ignorado por quem insistir em atentar apenas pro que a Academia julgou os 8 melhores filmes da categoria principal do Oscar, "Tangerines" merece um espaço na memória de quem ousar ir além da tal categoria principal: "melhor blockbuster dramático de 2014".


Quanto vale:


Tangerines. Recomendado para: se perguntar como é que tem gente que não precisa de 3 horas de metragem pra criar um bom filme.

Tangerines
(Mandariinid)
Direção: Zaza Urushadze
Duração: 87 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Drama/Guerra

Tem mais Críticas dos Indicados ao Oscar 2015 NESSE LINK.

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