George Miller - O homem que salvou o cinema de ação



Ao contrário da literatura e das histórias em quadrinhos, eu sempre considerei que o cinema foi feito mesmo é para registrar cenas de ação. Afinal, dessas três mídias citadas, a única que utiliza imagem e movimento é mesmo o cinema. Reparem nos filmes mudos do Charles Chaplin e Buster Keaton, ninguém falava nada, mas esses diretores superavam a ausência das palavras em cenas de comédia física que foram as precursoras das atuais cenas de luta e perseguição. George Miller, por exemplo, viu as cenas de trem em A General, comédia de Buster Keaton, e dali tirou a base para filmar o seu ballet de destruição conhecido como Mad Max.

A General - Filme do Buster Keaton
George Miller estreou no cinema em 1979, com o primeiro filme da franquia Mad Max. Esse filme, oriundo da seara exploitation do cinema australiano, trata-se de uma trama de vingança que pode muito bem ser considerada a versão em quatro rodas de Desejo de Matar.

George Miller

Em 1982, Miller, com mais dinheiro no bolso, dirigiu o que pode ser considerado o filme definitivo sobre um futuro distópico e sem regras, muito imitado e nunca superado: Mad Max - Road Warrior. E é nesse longa-metragem que as cenas de ação ganharam um status de arte.

O terceiro filme da franquia é o mais morno dos três e foi lançado em 1985. Antes disso, em 1983, o cineasta dirigiu um curta-metragem que integrou o filme Twilight Zone. O episódio é bem bacana, é baseado em um conto de Richard Matheson e que, mais tarde, inspirou um episódio dos Simpsons.

O fato é que depois de três filmes do Mad Max, o diretor seguiu uma carreira errática. Nesse meio tempo ele dirigiu o divertido As Bruxas de Eastwick, o drama Óleo de Lorenzo e entrou os anos 90 e 2000 por trás das câmeras de filmes infantis como Babe - O Porquinho e a animação Happy Feet.

Diante disso, quando surgiram rumores do seu retorno ao universo Mad Max, houve muita desconfiança se o velho Miller teria cabelo no peito para segurar as cenas de ação da sua mais famosa (e idolatrada) saga. E para jogar mais combustível na baixa expectativa dos pessimistas, Mad Max poderia ter o mesmo destino de refilmagens ridículas, tais como Robocop, Vingador do Futuro e demais tranqueiras, que caíram rapidamente no limbo do esquecimento e não chegaram sequer fazer cócegas nas suas matrizes originais.



Contudo, notícias boas surgiram no horizonte quando foi avisado que Mad Max não era uma refilmagem e que as cenas iriam fugir do CGI. Pois bem, recentemente o filme foi lançado e a crítica em peso já considera Mad Max o melhor filme de ação de 2015, quiçá também dos anos posteriores.

Em Cannes o longa-metragem foi aplaudido de forma entusiasmada. Nada mal para uma produção que, segundo o próprio diretor, começou a ser idealizada já ainda nos anos 80 e reuniu uma numerosa equipe no deserto da Namíbia, onde lá ficaram por sete meses sob temperaturas que facilmente superavam os 40 graus.

Há ainda também o aspecto de centralizar a trama em fortes personagens femininas. Não importa se George Miller está cumprindo pauta da agenda feminista, o que interessa é que quem viu o filme afirma categoricamente que Charlize Theron caiu como uma luva na personagem.



E quando o assunto é a presença feminina, quem editou o material foi Margaret Ann Sikel, a esposa do cineasta. Miller conta que queria uma mulher na montagem para que este não fosse um filme de ação igual a todos os outros.

O fato é que em 1999 um roteiro para o quarto filme da franquia já estava concluído. As filmagens iriam ocorrer em setembro de 2001, mas os fatídicos atentados daquele dia jogaram tudo por terra. Nos anos seguinte, o desinteresse de Mel Gibson e a fuga dos investidores que temiam apostar em um filme com temas delicados esfriaram ainda mais a realização. Até mesmo o ator Heather Ledger foi cogitado a encarnar o guerreiro da estrada.

Diante de tantos percalços, Miller se concentrou em outros projetos, mas nunca deixou de amadurecer a ideia para um retorno do Mad Max. Sorte nossa, pois o longa-metragem chegou em 2015 chutando bundas de todo e qualquer filmeco de ação pretensamente adulto. Nada mal para um diretor que iniciou a sua carreira lá em 1979, misturando coisas que ele mais gostava: filmes mudos, clima de faroeste e aventura.


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