Ainda
hoje é fácil eu lembrar do filme “Brother”.
É um
dos DVDs que loquei em tempos longínquos, mas que permanece na
memória, tanto na forma de referencial de bom filme de máfia,
quando influência pros meus trabalhos.
O nome
em comum entre esse filme e o que intitula esta postagem é o seu
diretor: Takeshi Kitano, ou Beat Takeshi (conforme também é
chamado).
O
cineasta japonês, que também dirigiu “Outrage”, “Dolls”,
“Zatoichi”, e uma série de outras produções devidamente
assinadas pelo seu estilo autoral, já entrou pro rol de lendas vivas
do cinema, e adiciona mais público apreciador de sua filmografia a
cada novo lançamento.
E
apesar de eu estar bem atrasado na tarefa de assistir todos os filmes
do cara, uma coisa perceptível é uma crueza muito legítima na
perspectiva que ele apresenta da realidade que retrata, e em
“Hana-Bi: Fogos de Artifício”, isso é a medula da qualidade da
obra.
Quando
somos apresentados ao protagonista Nishi (interpretado pelo
próprio Takeshi Kitano), o roteiro não faz acrobacias pra
esclarecer do que se trata. Tampouco é manobrado pra criar no
espectador a sensação iminente de uma reviravolta que desvenda as
coisas.
A
plateia assiste e recebe novas informações no andamento ritmado da
produção, mas sem que macetes fílmicos fiquem sinalizando a hora
de se surpreender, se emocionar, etc.
As
coisas simplesmente acontecem, e cabe ao público unir as peças.
Se
passando em duas épocas diferentes, o roteiro mostra o aparentemente
otimista Nishi (digo aparentemente, porque é da natureza do
personagem, e das interpretações do Kitano, ser alguém difícil de “ler”), um ex-policial que tem
de lidar com uns fatos do passado, suas consequências no presente,
e com a doença de sua esposa.
Tudo
sem alarde, ou clima de dramalhão arremessado na cara do espectador.
Corretamente resumido pelo minimalismo da atuação do Takeshi Kitano, em mais
um papel quase mudo, e que torna seu personagem muito mais
significativo do que se ficasse traduzindo o que pensa em palavras a
todo momento. Isso porque a exigência para a plateia é de desvendar
o que se passa, tendo na maioria das vezes que decifrar o que
Nishi pretende, ou suas motivações, sem o amparo do que ele
teria a dizer.
Nas
ocasiões em que a violência emerge, é de acordo com a mesma crueza
que retrata os momentos dramáticos.
Porém,
da forma que o diretor e roteirista os relata, acabam sendo bem mais
importantes pra trama do que as cenas dedicadas a derrotar um
oponente na base do tiro na cara.
Por
isso que a situação do ex-chefe da polícia Horibe (interpretado pelo Ren Ôsugi), ou todo o ato mais voltado à esposa doente (a
atriz Kayoko Kishimoto) exercem maior influência e merecem
todo o tempo a eles dedicados.
Isso porque a ação, em "Hana-Bi" é o entorno da obra, que se sobressai a cada diálogo com o ex-chefe Horibe, ou suas pinturas melancólicas, e também nos ternos momentos que Nishi faz questão de dedicar à esposa, contrastando com a forma encontrada pelo cineasta pra transformar as cenas violentas, também marcantes.
Isso porque a ação, em "Hana-Bi" é o entorno da obra, que se sobressai a cada diálogo com o ex-chefe Horibe, ou suas pinturas melancólicas, e também nos ternos momentos que Nishi faz questão de dedicar à esposa, contrastando com a forma encontrada pelo cineasta pra transformar as cenas violentas, também marcantes.
Inclusive,
enquanto algum ou outro recurso cênico parece datado hoje em dia, o
enredo voltado aos personagens ainda funciona muito bem. Isso se mostra um diferencial ainda mais forte quando comparado
com os amontoados de filmes policiais que passam pelos cinemas apenas
pra alimentar a corrida desesperada pelo bilhão, que faz pra muita gente mais interessante acompanhar o Box Office Mojo do que os filmes propriamente ditos, que no geral nascem exatamente pra habitar os torrents,
ao alcance de quem não tiver filme melhor pra baixar.
Enquanto
produção que habitou a prateleira dos filmes policiais nas videolocadoras (lembra delas?), “Hana-Bi:
Fogos de Artifício” corre sério risco de decepcionar quem
pressupor seu conteúdo pela capa.
Nada
que impeça o espectador mais paciente de se encontrar no ritmo
narrativo do filme, e então se envolver com o que a história de teor intenso e emocional tem de
destaque.
Afinal,
o cinema de Takeshi Kitano é daqueles em que a obra se completa no momento em que o
público embarca na jornada silenciosa com olhar atento, e disposição
pra ser co-autor dos significados que o longa-metragem reserva.
Hana-Bi:
Fogos de Artifício. Recomendado para: revisitar o cinema
policial/samurai do cineasta, em que a edição videoclíptica, ou a verborragia não
fazem nenhuma falta.
Hana-Bi:
Fogos de Artifício
(Hana-Bi)
Direção: Takeshi Kitano
Duração: 103 minutos
Ano de
produção: 1997
Gênero:
Ação/Policial/Drama
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