Filmes
musicais, apesar de sujeitos a todos os critérios padrão pra serem
considerados bons enquanto cinema, conseguem muitas vezes deixar uma
boa impressão, caso a música seja legal.
Há
alguns exemplos recentes que exemplificam cada caso, e há os que são
bons sem precisar da música ("Alabama Monroe",
"Whiplash", e "Inside Llewyn Davis",
ainda que nos três a música seja muito massa), e os que precisam
dela exclusivamente pra tapar os furos da produção ("Coração
Louco", é um exemplo que teve a música e a atuação do
Jeff Bridges pra equilibrar as coisas, e "Mesmo se
Nada der Certo" seria um exemplo em que nem a música o
salva de sua poderosa mediocridade).
"Sonhos à
Deriva", apesar de eu nem
saber que tinha algo a ver com música, na ocasião em que fui
assistir, parte dessa encruzilhada em que pode ser apenas um
videoclipe de hora e 40 ou um filme.
O
filme de estreia na direção do sempre elogiado ator William H. Macy não veio com hype nenhum, nem grandes pressões.
A
escolha do tema, e o aspecto visual apresentado no cartaz (não
assisti o trailer previamente)
funcionam afastando interessados em obras pseudo-cults, ainda que também tenha servido pra deixar a pressão da opinião pública lá embaixo.
funcionam afastando interessados em obras pseudo-cults, ainda que também tenha servido pra deixar a pressão da opinião pública lá embaixo.
No
filme do cineasta estreante, ele acompanha a vida do protagonista
Sam, desde momentos antes de uma tragédia que vai destruir a
estabilidade de sua vida, e narrando as formas que ele encontra de
lidar com isso a partir de então.
Sam,
interpretado pelo Billy Crudup,
é um cara que curte fazer um som, mas que agora passa os dias entre
a rotina de um emprego meramente pra se manter ocupado, e as
beberagens antes de voltar pra sua casa/barco. E numa dessas acaba
por encontrar nas músicas compostas pelo seu filho Josh
(Miles Heizer) uma forma de
conhecer o filho de uma forma que as conversas entre eles não
conseguiam.
Nesse
ponto, um personagem é essencial pra essa época de aprendizado.
Quentin (Anton
Yelchin) vem com uma
verborragia empolgada e intencionadamente motivadora, que pro Sam
é ruído desnecessário no seu
dia-a-dia.
O
diretor do filme trabalha com esses recursos que o roteiro lhe
disponibiliza, em um primeiro ato bem comum, simples, e em partes,
previsível.
Só
que parte dessa simplicidade são cartas guardadas pro ato final, e
com isso o filme cresce.
O
jeito de filme familiar (apesar da censura R) não o torna mais
interessante, mas esconde a intensidade que chega com a banda
Rudderless, e que através de suas músicas faz o roteiro soar
completo. Faz entender e conhecer os personagens em suas buscas
pessoais, e objetivos que são muito mais do que faturar alto com
turnês, etc.
William
H. Macy, além de atuar, narra o roteiro escrito por ele, Casey
Twenter e Jeff Robison, e permite espaço pras atuações
convincentes do elenco, o qual tem em Billy Crudup, Anton
Yenlchin, Felicity Huffman e Laurence Fishburne, seus
pilares de sustentação.
Billy
Crudup e Felicity Huffman são os que possuem mais
material pra trabalhar seus personagens, porque os pais divorciados
vivem uma escalada de dilemas que, no momento em que o público passa
a acompanhar no mesmo ritmo, se torna mais envolvente
O
que não reduz a importância de cada pequena influência que todos
exercem nos outros na história.
Um
drama humano com jeito intimista, e que na tentativa de seus
personagens de superar traumas os leva a expor fragilidades, e vencer
o conforto da inércia, e da autopiedade.
Conforme
dito anteriormente, parte essencial pra harmonizar tudo isso são as
músicas, escritas de forma direta e impiedosa com os problemas de
quem escreve, e genuinamente amargas, apesar de um tom de otimismo
verificável a cada verso.
Uma
certa ânsia adolescente eterna de expressar nas músicas o que
palavras não ritmadas, e sem rima várias vezes não conseguem
traduzir.
Tudo
isso conduz o filme, transformando o que em certas ocasiões parece
apressado, e que no final épico (nesse tipo de circunstância que eu
considero adequado usar essa palavra, e não quando heróis se
espancam destruindo prédios em uma luta daquelas de olhar pro
relógio de minuto em minuto) se mostra reflexo de uma direção
consciente do que o longa-metragem tinha por motivações principais,
e do que deveria ser o saldo na lembrança do espectador quando a
metragem se encerra.
Mesmo
quando o tal otimismo se mostra não tão exagerado, é mérito do
roteiro manter os pés no chão, e não cair no erro de fingir um
esquecimento dos problemas que levaram todos até onde estão.
Sob
o comando de William H. Macy isso é evidente no protagonista,
e inclusive os coadjuvantes interpretados pelo Ben Kweller, e
pelo Ryan Dean não passam pelo filme pra fazer número, tendo
isso impacto na história deles.
Tal
qual uma banda de rock a qual se preze, todo integrante exerce papel
fundamental, por menos que aparece diante dos holofotes.
O
diretor entendeu isso, e na medida do possível reverteu algumas
primeiras impressões dos minutos iniciais, conseguindo ao menos em
intensidade um dos filmes memoráveis de 2014, e que vale uma
revisita qualquer hora dessas.
Sonhos
à Deriva. Recomendado para: pensar em encontrar um pessoal
pra iniciar uma banda de rock.
Sonhos à Deriva
(Rudderless)
Direção: William H.
Macy
Duração: 105 minutos
Ano de produção:
2014
Gênero: DramaSign up here with your email
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