007 Contra Spectre (2015)





Foi até rápido pra o público iniciar os palpites de quem seria o próximo 007, dessa vez.
Até gerou certa polêmica a sugestão de que o Idris Elba pudesse assumir o papel do icônico agente secreto.
Mas fato é que, de algo muito promissor, o personagem interpretado pelo Daniel Craig ficou monótono.
Em grande parte apenas mantido uma alternativa aceitável pelo primeiro filme, “Cassino Royale”, e seu jogo de lutas sujas com um pastiche de relance.
Depois vieram o muito criticado “Quantum of Solace”, e o tenteando estilo “Skyfall”, sem que nenhum deles tenha replicado a aura bem aceita no primeiro filme, e que apostava na tendência dos agentes JB (Jason Bourne, Jack Bauer, e agora o próprio personagem do Ian Fleming).
Spectre” existe com esse fardo nas costas. De quem sabe ser o sopro de fôlego novo, ou um aceno de despedida.




A trama se abastece inicialmente do que todo mundo já viu.
É uma sequência louca de ação louca em que James Bond aparece com uma bond girl, e depois persegue alguém em locação movimentada, pra depois resultar em morte e destruição.
Quem, por qual motivo, ou qualquer outra informação irrelevantes são.
Depois, claro, uma dose de familiaridade que vem junto com a constatação de que o protagonista é tipo aqueles policiais oitentistas quebrando regras e causando perda de prestígio de seus superiores.
Principalmente é ruim pro M (interpretado pelo Ralph Fiennes, substituindo a Judi Dench), que não faz muito no filme além de resmungar um pouco.
Pro Daniel Craig tá tranquilo, porque a missão dele não envolve muito uso de massa encefálica, e ele apenas parte em busca de seu próximo alvo sempre a partir de alguma informação mínima balbuciada pela última pessoa que ele interroga, e depois parte pra espancar mais gente.
Isso tudo sem nada que faça parecer que esse é um filme dirigido pelo oscarizado Sam Mendes. Se mesmo em “Skyfall” o cineasta havia vez ou outra mostrado intenção de apresentar inventividade, “Spectre” é comum. Apenas.
Isso é visto infectando tudo.
De elenco a cenas de ação.



Ao ponto de mesmo contando com atores que poderiam certamente impulsionar tensão e algum drama, o máximo obtido é um filme de tiroteio genérico.
E se alguém poderia até duvidar da capacidade da bond girl interpretada pela Léa Seydoux, ainda não seria de negar que a Monica Bellucci poderia ter papel melhor na trama, além de que o mesmo Dave Bautista que sob a direção do James Gunn foi parte do aplaudido “Guardiões da Galáxia”, dessa vez não protagonizou sequer uma cena de luta que preste, mesmo sendo o vilão truculento principal do filme.
Porém, é a apatia do próprio 007 e de seu inimigo o que mais incomoda.
Daniel Craig, vivendo relutantemente um retorno ao personagem vive o modo automático de atuação que torna o roteiro sem reviravoltas ainda mais frustrante.
Diante dele, o premiadíssimo Cristoph Waltz que amarga um personagem raso e mal explorado, fazendo com que sempre a plateia fique na busca pela cena em que ele vai se apresentar enfim ameaça à altura.
No entanto, o grau de perigo só diminui. Muito mais interessante era quando a Spectre era apenas mistério, e quando o algoz estava afundado nas sombras, cochichando ordens a um subalterno, porque depois disso tudo fica direto demais, e sem graça demais.
Completam o elenco principal Naomie Harris, Andrew Scott (como é que o cara desperdiça o Moriarty?), Rory Kinnear, e Ben Whishaw, todos sem grande culpa no resultado do filme, e sem emprestar muito pra elogiar.




A parte técnica é desempenhada no nível de competência típico da franquia, de modo a contornar as peripécias do protagonista com som e visual de primeira.
Isso colabora pra que as 3 grandes explosões do filme serem ainda mais chamativas, e pra que o longa-metragem de alto orçamento e nomes estelares a ele ligados pareça com isso, ainda que na essência seja apenas uma chance jogada no ralo.
O roteiro não vai adicionando novos fatos criando um vínculo entre eles que leve o espectador à urgência com a qual devem ser solucionados os mistérios diante do herói.
Apenas se empilham informações desimportantes, revelações do passado, e locais destruídos, com uma tentativa inicial de enganar, de que vai ser difícil, porém sem chegar ao ponto de convencer mesmo que o 007 não vai resolver tudo facilmente daqui a pouco.
E o pior é que isso se prolonga por quase 2 horas e meia.



Tendo faturado um amontoado considerável de $ pra um blockbuster, “Spectre” quem sabe pareça um êxito.
Enquanto obra cinematográfica não é, mas tendo em vista que o próprio diretor Sam Mendes aceitou retornar ao universo que havia lhe permitido o bastante medíocre “Skyfall”, numa dessas o objetivo de aquisição de cifrões mascare tudo isso, e pareça que a franquia está de vento em popa, e que em time que está ganhando não se mexe.
Seria uma pena.
Principalmente pelo fato de ter sido dirigido pelo mesmo cara que realizou “Beleza Americana” e “Estrada para Perdição” espero que o futuro do 007 opte por um novo rumo, com novo cineasta, e com algo mais de qualidade do que qualquer “Transformers” consegue.


Quanto vale:



007 Contra Spectre. Recomendado para: não entender qual o critério pra um filme de ação comum ter mais de 2 horas.

007 Contra Spectre
(Spectre)
Direção: Sam Mendes
Duração: 148 minutos
Ano de produção: 2015
Gênero: Ação
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