Nessa
enxurrada de spoilers, e trailers que contam o filme todo, uma
pequena conquista do dia-a-dia é conseguir chegar na sessão de
cinema e não saber nada (ou quase) a respeito do que vai acontecer
na história.
Bastante
raro, mesmo que o cara opte por não assistir os trailers.
Mas
alguns roteiristas, cineastas, e demais envolvidos nesse "Rua
Cloverfield, 10"
possuem as manhas.
Dentre
os caras creditados em alguma função de roteiro ou produção estão
J.
J. Abrams, Bryan Burk,
Damien
Chazzelle
(do já clássico "Whiplash"),
Drew
Goddard
(d"O Segredo da Cabana"
e do seriado "Demolidor",
da Netflix),
e
Matt Reeves (do
found footage "Cloverfield:
Monstro").
Além
dos méritos vistos em exemplares da carreira de todos os envolvidos,
o nome do Matt
Reeves também
é uma pista pros entendedores.
Mesmo
que a ligação com "Cloverfield: Monstro" deva existir em
algum ponto além do título, "Rua
Cloverfield, 10"
é muito mais filme em si mesmo do que uma sequência, ou spin-off.
Todas
as possíveis ligações com o found-footage mencionado caem por
terra tão logo as atuações assumem suas posições, e a personagem
Michelle
(Mary Elizabeth Winstead)
sofre o acidente que a levará a uma situação de trincar os dentes
em que a maior barreira não são nem paredes, ou portas de ferro, e
sim paranoia e desconfiança.
Acontece
que este não é um filme de monstros. Ou meio que é.
Só
que trabalhando o lado psicológico dos personagens é obtida uma
forma de monstruosidade muito mais interessante pra história.
Algo
similar ao que Danny
Boyle obteve
em "Extermínio",
no qual os zumbis não importam muito. Eles são um mero catalisador,
que poderia ser substiuído por alguma intempérie do dia-a-dia
levando os personagens a expor sua capacidade latente de cometer
atrocidades.
Em
"Rua
Cloverfield, 10"
o interessante é a dinâmica das 3 pessoas enclausuradas no abrigo
construído pelo Howard
(interpretação
desossante do
Jonh Goodman).
É
ali que o enigmático anfitrião estabelece as regras pra um cada vez
mais tenso cotidiano envolvendo além dele a já mencionada Michelle,
e também o Emmett
(John Gallagher Jr.).
Os
três oscilam tentativas de confiar nos demais com momentos em que
fica mais do que claro que tem algo errado, e que a situação vai
ficar feia mais cedo ou mais tarde.
Isso
tudo operando no campo da eficácia plena, e transpondo cada vez mais
humanidade nos seus personagens, que em atuações coerentes com o
contexto vão ficando cada vez mais reconhecíveis e familiares ao
público, mesmo que os segredos deles, e o que reside atrás da porta
que nunca deve ser aberta permaneçam.

Afinal,
trata-se de um longa-metragem em que 3 pessoas vão ficar conversando
durante quase a metragem toda. E ainda que pareça fácil pensar que
não, esse é um baita filme.
Muito
disso também recai nos ombros principalmente do John
Goodman e
da Mary
Elizabeth Winstead,
ele apresentando dualidade e complexidade em um por vezes amigável e
em outras brutal personagem, enquanto ela não se deixa levar pela
facilidade de ser a mocinha em perigo resultando em uma protagonista
forte e que não fica acuada mesmo quando não parecem haver
alternativas de escape.
Bem
editado, e de competente direção de fotografia, apesar de uma
trilha sonora um tanto quanto óbvia e insistente, vez ou outra, "Rua
Cloverfield, 10" ainda reserva um final surpreendente e que
esbanja coerência com a proposta do projeto.
Ainda
que lhe falte hype pra figurar em memes e demais fomentadores de
opinião de público-médio, "Rua
Cloverfield, 10"
é com certeza dos mais instigantes suspenses dos últimos tempos.
Uma pérola que põe a criatividade do roteiro em primeiro plano, e
não as sacadas certas pra sucesso comercial que começam com
vinculações a franquias, e terminam em CG e destruição do início
ao fim.
Do
mesmo modo que em "O Segredo da Cabana",
quem vencer o pré-conceito forçado por Hollywood após ratear
seguidas vezes com subgêneros de cinema fantástico vai encontrar um
dos poucos filmes de monstro em que a palavra originalidade ainda não
é mero adjetivo sarcástico.
Quanto
vale:
Rua
Cloverfield, 10. Recomendado
para: complicar rotulação de gênero cinematográfico, e torcer que
a franquia continue arriscando caminhos inusitados.
Rua
Cloverfield, 10
(10
Cloverfield Lane)
Direção:
Dan Trachtenberg
Duração: 104 minutos
Ano
de produção: 2016
Gênero: Thriller/Suspense
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