Se
no extremamente ambicioso "Birdman"
o diretor mexicano Alejandro
González Iñárritu
havia se mostrado um cineasta muito mais fora do comum do que se
poderia supor, qualquer que fosse seu trabalho seguinte viria com a
responsabilidade de comprovar ao grande público se ele era essa
ousadia toda, ou se o seu oscarizado trabalho havia apenas de alguma
forma agradado os fetiches da Academia.
"O
Regresso"
ter sido indicado não é surpresa.
A
questão é: qual o algo a mais que ele apresenta?
Nesse
filme de vingança e caçada inspirado em fatos, adaptado do livro "The Revenant: A Novel of Revenge" do
Michael Punke, o diretor encontra espaço pra exercitar os
planos longos que devem ter virado fichinha pra ele depois do
plano-sequência de "Birdman",
e isso torna várias sequências em belos recortes da trama intensa
que se propõe a contar.
Nela,
Leonardo
DiCaprio
é Hugh
Glass,
um explorador que viaja com seu filho Hawk
(Forrest Goodluck) ditando os caminhos pra um grupo tentando esquivar de índios e levando o maior punhado de peles de animais selvagens que puder.
No
comando está o Capitão Andrew Henry (Doomhnall
Gleeson,
dos também indicados "Ex Machina",
e "Star Wars: O Despertar da Força"),
tendo ainda a antítese ambulante na forma de Fitzgerald
(o Tom
Hardy do
amplamente indicado "Mad Max: Estrada da Fúria"),
além do primo Eustáquio Will Poulter.
Logo
cedo, tudo sai errado, e gente é morta em profusão, em uma
sequência muito bem filmada que lembra o desembarque na Normandia de
"O
Resgate do Soldado Ryan"
sob efeito do rewind.
Até
esse ponto, ainda que muito seguro em sua atuação, Leonardo
DiCaprio
é apenas a convicção de quem almeja sobreviver em uma situação
de perigo.
O
que torna o filme realmente imprevisível é um ponto de virada que
vem logo a seguir, e faz pensar de que forma o personagem dele vai
conseguir chegar vivo ao final da metragem.
Iñárritu
vai contando com uma desavergonhada despreocupação com a
preservação física de seu protagonista, que logo é um farrapo de
gente literal por quem só resta lamentar.
Equilibrado
entre o frenético e o que poderia também ser um dramalhão, o
diretor brinca com a situação movendo os olhares dos envolvidos pra
formas de sobrevivência possíveis, enquanto mantém o
longa-metragem uma incessante sucessão de fatos que justificam a
Hugh
Glass permanecer
vivo, e ansiar por um acerto de contas.
O
aspecto sujo de tudo à volta carrega o filme de uma atmosfera
desconfortável de exposição de um mundo em que a injustiça e a
degradação existem pra todos, pessoas mais nobres ou menos. Não
importa.
Ao
longo disso, o roteiro faz questão de acrescentar cenas emblemáticas
pra revelar o que mais vai sendo abordado no filme além das formas
de flagelo às quais seus personagens estão sujeitos nas montanhas
impiedosas em que transitam.
Paternidade
e selvageria convivem e são retratadas tanto em relações humanas,
quanto de animais nativos da região, causando um choque ao
evidenciar a crueza da atitude dos arautos de costumes ditos
civilizados quando confrontados com uma continuada sessão de tortura
em forma de andança na floresta congelada.
Mas
apesar de todos estarem aptos a sofrer as lacerações, suportar o
frio descomunal, e eventualmente morrer, ninguém se ferra mais que o
protagonista.
Ele
seguidamente vai ser arrebentado e ter que lidar com isso, se
empurrando à frente pro próximo momento que a trama reserva pra
piorar as coisas.
Enquanto
isso torna a história ainda mais intensa, também cria elementos
complicadores, principalmente quanto ao envolvimento com um enredo
que a partir de certo ponto pede cada vez mais suspensão de descrença
quanto às condições físicas do personagem do Leonardo
DiCaprio.
Isso
não impede que a soma de qualidades técnicas, atuação absurda do
protagonista, e desenrolar de eventos prendam a atenção na maior
parte. Apenas diminui esse efeito um pouco. Sem entrar nos méritos da recuperação do personagem parecer extremamente rápida tendo em vista as injúrias por ele sofridas, vale lembrar que o relato pode se tornar mais ou menos convincente de acordo com os recursos empregados pelo diretor (e roteirista junto com Mark L. Smith). Sendo uma sequência de fatos fora do habitual, a maneira de encarar o ocorrido pode facilitar ou dificultar a imersão da plateia ao que assiste.
Apesar disso, trilha sonora, direção de fotografia, e edição adicionam intensidade à trama, desta que é com certeza uma produção que merece figurar nas listas de indicados a melhores de 2015.
Apesar disso, trilha sonora, direção de fotografia, e edição adicionam intensidade à trama, desta que é com certeza uma produção que merece figurar nas listas de indicados a melhores de 2015.
Porém, é mesmo o ator quem surpreende frente a
tantas oportunidades de extrapolar a intensidade da atuação da cena
anterior e aproveitando cada uma delas. Seja nas ocasiões que flertam com o gore, ou no que pede
maior dramaticidade da parte dele, o longa-metragem fica à mercê do que
o moribundo Hugh
Glass
ainda ousar fazer estando cada vez menos completo (psicologicamente e
fisicamente falando), e que é traduzido além do visceral pelo ator que rouba o filme para si, no embate ferrenho contra a natureza e qualquer humano disposto a deixá-lo pra trás.
Mesmo
quando a história se dirige pra algo bem menos ousado em narrativa e
soluções apresentadas, com inclusive um maior índice de
coincidências por cena, o personagem vive um conflito que testa o
espectador junto com ele, enquanto enfrenta inimigos que vão maiores do que os golpes desferidos contra ele. Afinal, a paisagem remota é o
nêmesis implacável contra ele e todos os demais, e que é muito bem
utilizado no filme.
Clamando
bem menos pelo status cult dessa vez do que em Birdman, o trabalho do Alejándro
G. Iñárritu é um baita de um filme de vingança, com ação de trincar os dentes, e cenas inspirando desconforto na plateia.
Uma exposição do que de pior reside no ser humano em forma de filme de ação.
Uma exposição do que de pior reside no ser humano em forma de filme de ação.
O
Regresso. Recomendado
para: testar os limites do protagonista, e do espectador que embarcar nessa jornada.
O
Regresso
(The
Revenant)
Direção: Alejandro González Iñárritu
Direção: Alejandro González Iñárritu
Duração:
156 minutos
Ano de produção: 2015
Gênero: Ação/Thriller
Confere NESSE LINK a crítica dos outros indicados ao Oscar 2016.
Ano de produção: 2015
Gênero: Ação/Thriller
Confere NESSE LINK a crítica dos outros indicados ao Oscar 2016.
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