O
diretor Danny
Boyle
sempre foi lembrado por um grau de afetação em seus trabalhos. Uns
flertes com o gore e outros elementos adicionados pra provocar nojo
no público-médio.
O
cara de "Cova
Rasa",
"Trainspoiting",
"Extermínio",
"Quem
Quem Ser um Milionário",
e "Sunshine:
Alerta Solar"
vem frequentando premiações nos últimos tempos, mesmo quando se equivoca, conforme "127 Horas"
exemplifica.
Enquanto
isso, Steve
Jobs,
figura real que o diretor ousa retratar nesse filme, também tinha
associada a suas realizações um alto teor de excentricidade, que em
outras tentativas acabaram amenizadas por escolha da produção, ou
por incapacidade pra narrar direito, mesmo.
Em
"Steve
Jobs",
o personagem-título é enfim mostrado de modo a ser mais importante
do que suas obras, e em meio a diálogos do início ao fim do filme,
vamos conhecendo quem ele é, nessa revisita da biografia dele pelo
Boyle.
Cheia dos perrengues desde antes de começar a ser filmado, o longa-metragem seria estrelado pelo Leonardo DiCaprio, que saiu do projeto, e o Christian Bale acabou desistindo pelo mesmo motivo que ele, pra não se incomodar com a esposa do Jobs.
Por
fim, Michael
Fassbender,
outro dos grandes atores em atividade, topou estrelar o filme,
comprando a bronca e o desafio de não ser apenas mais um intérprete
do personagem.
O
longa-metragem do Danny
Boyle,
seguindo o roteiro do Aaron Sorkin tem muito
material pra trabalhar nesse sentido, enquanto adapta a biografia de autoria do Walter Isaacson.
Sempre
visitando os minutos anteriores a algum dos lançamentos amplamente
aguardados capitaneados pelo criador da Apple (a saber: o Macintosh, a NeXT, e o iMac), a história se passa nos
bastidores em diálogos que só terminam pra que o próximo comece.
Dessa
forma, tanto conhecemos as pessoas que foram essenciais pras
realizações dele, quanto somos apresentados a novas peças pra
compor quem foi o cara que virou ícone de uma eternamente
competitiva indústria.
Michael
Fassbender,
pra variar, aproveita isso muito bem, e se já conseguiu se destacar
até em filmes que nem o "Prometheus",
imagina em um trabalho bem dirigido por um cineasta que se
reencontrou sem alguns excessos de sua filmografia.
Essas
sequências de conversa nunca são tediosas, e tornam-se cada vez
mais interessantes, ainda que o protagonista permaneça a seu modo ainda um enigma.
E
se por um lado lembra o clima do "Birdman"
do Iñárritu,
não passa a sensação de afetação pelo protagonismo do
experimentalismo empregado no vencedor do Oscar passado.
Além
da ótima atuação de Fassbender,
estão muito bem também Kate
Winslet,
no papel da paciência encarnada, Joanna Hoffman, Seth
Rogen,
o Steve
Wozniack
onipresente na vida de Jobs, Michael Stuhlbarg interpretando Andy Hertzfeld, e a também conflituosa relação profissional com o CEO da Apple John Sculley,
personagem do Jeff Daniels.
Nisso
tudo, enquanto discute fracassos e expectativas exageradas a respeito
de vendagens, além de alternativas pra tentar se manter em evidência
mesmo quando se torna carta descartada no baralho de muita gente que
já não acredita na chance de um retorno, "Steve
Jobs"
conta com um aprofundamento de temas menos difundidos acerca do
tantas vezes chamado gênio. Assim, a questão da paternidade e de
adoção tornam as personagens Chrisann (Katherine Waterson), e
a filha de paternidade rejeitada pelo Jobs, Lisa (interpretada por Makenzie Moss, Ripley Sobo, e Perla Haney-Jardine em fases
diferentes da vida) muito significativas pro filme, ao mesmo tempo em
que Steve Jobs vai sendo exposto cada vez menos gênio, e mais humano
do que em qualquer outra versão cinematográfica.
A complexidade e momentos brilhantes de Steve Jobs acabam muito bem representadas no trabalho de Sorkin e Boyle, multifacetando nas telas alguém a imagem de alguém que respirava contradição e ambição em medidas equivalentes.
Mesmo com a necessidade de se restringir a um filme conclusivo em uma história que não precisava disso, a produção se mostra um entretenimento dramático dos mais coerentes. De diálogos dinâmicos e capacidade de empregar bem a competência do ator que transita entre épocas de uma figura popular e marcante sem se perder.
Mesmo com a necessidade de se restringir a um filme conclusivo em uma história que não precisava disso, a produção se mostra um entretenimento dramático dos mais coerentes. De diálogos dinâmicos e capacidade de empregar bem a competência do ator que transita entre épocas de uma figura popular e marcante sem se perder.
Tivessem
tirado "Brooklyn"
da disputa de melhor filme nesse Oscar e incluído "Steve
Jobs",
mesmo que pra cumprir tabela, não seria nenhuma injustiça.
Steve
Jobs. Recomendado
para: não precisar mais de outra cinebiografia do Steve Jobs.
Steve
Jobs
(Steve
Jobs)
Direção:
Danny Boyle
Duração: 122 minutos
Ano
de produção: 2015
Gênero:
Drama
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