Spotlight: Segredos Revelados (2015)



Com certeza o filme mais polêmico da cartela de indicados ao Oscar 2016, e um dos mais polêmicos dentre todos já alguma vez indicados, "Spotlight: Segredos Revelados" é mais um dos que chega pra dividir as listagens de favoritos do público, em uma temporada que permite mais do que a dicotomia de dois mais hypados.
E nem me refiro a favoritos pra levar a estatueta, porque isso não importa.
A lista de filmes ruins já vencedores da honraria é extensa.
"Spotlight" é um dos favoritos a ser o melhor filme de 2015 que o espectador assistiu.



Baseado em fatos, o filme do diretor Tom McCarthy (o mesmo de "Trocando os Pés". Não pré-julgue por isso) não segue fórmulas emocionais, exercícios estéticos ou narrativos, ou qualquer coisa que vem impressionando a Academia ao longo de gerações.
É principalmente seu roteiro ácido na medida aliado à solidez das atuações o que ele tem a oferecer. Mais do que o suficiente pra um filme ser bom filme, diga-se de passagem.
Na sua forma comedida de narrar a história, o cineasta não parece interessado em interferir muito no rumo das coisas.
Parece que pra ele basta a câmera documentar os eventos, sendo os olhos da plateia com reduzida parcela de influência em opiniões, afinal, há bastante nas linhas do roteiro pra que o espectador encontre empatia, repúdio, ou surpresa frente ao que a equipe do jornal Boston Globe vai desenterrando.
Catalisador nisso é Marty Baron (interpretado por um convincente Liev Schrieber que já foi um Dentes-de-Sabre em um péssimo "X-Men Origens: Wolverine" e também um ótimo diretor em "Uma Vida Iluminada"). O novo editor do jornal tira os seus comandados dos rumos pré-estabelecidos, e os põe em rota de colisão com nada menos do que a igreja católica.
As reações de Mike (Mark Ruffallo, de "Foxcatcher"), Sacha (Rachel McAddams, de "Nocaute"), Robby (Michael Keaton, de "Birdman"), Matt (Brian d'Arcy James) e Ben (John Slattery, de "Mad Men") são diversas, mas no fim das contas, o mistério envolvendo os subsequentes casos de pedofilia envolvendo padres é instigante o suficiente pra mobilizar todos.
Em uma cidade de Boston retratada em tons acinzentadas, com jeito provinciano, e muitos interesses envolvidos, principalmente pra sumir com documentação relacionada ao caso, a investigação é conduzida de maneira brilhante pelo roteiro escrito pelo próprio diretor em parceria com Josh Singer.



As idas e vindas por tribunais, ambientes administrativos, e a burocracia da gestão arquivística não parecem jamais algo enfadonho devido aos diálogos providenciados pela dupla de roteiristas.
Contando com isso, resta a McCarthy explorar os desdobramentos dando espaço pras atuações realizarem a partir de fachadas frias de personalidade um inteligente jogo de caçada por informação.
Dentre todos, Mark Ruffallo é o que possui o personagem mais fácil de dialogar com a atônita plateia, que presencia cada nova informação que aponta pra um novo patamar de corrupção e esquemas de acobertamento de erros deflagrados por clérigos.
Evitando descambar pra excessos narrativos, McCarthy estabelece uma linha a qual está decidido a não ultrapassar, fazendo com que o relato mantenha-se fiel ao clima de algo que não precisa de adornos cinematográficos pra prender a atenção ou gerar repulsa.


Muito condizente em estética e narrativa com uma proposta sóbria de enfoque nos personagens/trama, "Spotlight" derrapa algumas poucas vezes pela inclusão de elementos que o tornam mais "cinematográfico" e menos retrato do ocorrido em forma de filme.
Ainda assim, é exemplar de bom cinema, e uma importante fonte de reflexão a respeito dos rumos de uma instituição que em essência teria que possuir muito melhores testemunhos a serem destacados pela mídia.
Obras que nem "Spotlight" são potenciais ferramentas pra revisitar erros recorrentes, e tal qual a equipe do jornal fez, deixar registrado o que não deve ser esquecido ou ficar impune.


Quanto vale:


Spotlight: Segredos Revelados. Recomendado para: lembrar que a ferida continua aberta.


Spotlight: Segredos Revelados
(Spotlight)
Direção: Tom McCarthy
Duração: 128 minutos
Ano de produção: 2015
Gênero: Drama
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