O
nome de Steven
Spielberg
no cartaz de um filme recente, mais do que impulsionar interesse em
assistir, evoca nostalgia de monte.
Apesar
de continuar na ativa, e ver ele indicado a alguma premiação ainda
ser algo comum, o cineasta ainda é muito mais lembrado por produções
que não são pra chamar de novas, sejam blockbusters de CG
vitaminado, ou dramas de guerra, e comédias espertas.
Mesmo
não tendo virado um Riddley
Scott,
Spielberg
não
é mais o mesmo.
Ou
quem sabe o cinema é que mudou demais?
"Ponte
dos Espiões"
testa isso ao se mostrar uma oportunidade para que o diretor revisite
o gênero dos dramas em período de guerra, no qual os efeitos
especiais não são o grande chamariz.
Muito
mais importante nesse caso é o domínio do diretor, tanto da
condução da trama, quanto na forma de explorar o máximo do elenco
pra compor personagens que carreguem a história e o peso do contexto
nas costas.
Nesse
sentido, pelo simples fato de ter o protagonismo nas mãos do Tom
Hanks,
muito dessa responsabilidade acaba dividida.
Um
ator que nem ele já mostrou diversas vezes como tornar o que seria
um filme comum, se estrelado por alguém menos competente, em um
longa-metragem memorável. Apesar disso, o próprio ator também vive
recorrentes esforços pra voltar àquela forma de candidato certeiro
em premiações, restando trabalhos mais ou menos que nem o "Capitão Phillips".
No
trabalho mais recente da dupla o período da Guerra
Fria
é o escolhido pra que ambos façam uso do roteiro do Joel e do Ethan Coen na
tentativa de criar uma obra pra abocanhar prêmios.
Mas
conforme eu disse, e se o cinema tiver mudado muito?
E
se o que funcionava antes, apesar de um evidente apuro técnico,
parecer sem sal?
O
filme inicialmente se arrasta de maneira desinteressante, ao abordar
o desafio do advogado James Donovan (Hanks)
em agir com toda ética do mundo pra defender o espião Rudolf Abel (Mark Rylance, nada impressionante em sua atuação), que acabou sendo descoberto em solo
estadunidense.
Mesmo
com a inquestionável capacidade de todos envolvidos, o marasmo é
inevitável diante de uma tão pasteurizada trama, em que nenhuma
verdade é simulada com eficácia frente à plateia, e tudo parece
ter desfecho óbvio.
Cada
resposta, cada personagem novo que era pra ser enigmático, e cada
tomada exalam previsibilidade.
Quase
como se fosse aquele filme antigo do qual os clichês relevamos por
de repente ser precursora dos recursos que hoje, devido à
recorrência chamamos de clichê.
Mas
"Ponte
dos Espiões"
é um filme de 2015.
Não
existe esse álibi pra justificar assistir cena após cena,
reconhecendo ser muito bem filmado, e muito pouco envolvente ou
convincente.
Tudo
é correto. E tudo é falso demais.
Os
dilemas do protagonista são diluídos de tal forma que a tensão é
carta fora do baralho no filme que era muito dependente disso, até
por não contar com sequências de tiroteio ou reviravoltas
mirabolantes.
Somado
a isso a relativa facilidade com que soluções são encontradas pra
que a negociação alcance o resultado almejado pelo extremamente
simpático e íntegro personagem do Tom
Hanks,
só enfraquecem o todo dessa produção com jeito de filme-família
dos mais descartáveis.
Enquanto o Tom Hanks apresenta a sua tradicional segurança no papel, Mark Rylance dosa o humor com um fiapo de viés dramático, e o Spielberg é a precisão técnica de sempre, nada disso encontra efetividade pra convencer que as ameaças aos personagens são mais do que bravata de roteiro pré-fabricado pra premiação de medalhão de Hollywood.
Sem dúvidas "Ponte dos Espiões" possui os trejeitos de filme dramão pra premiação.
Sem dúvidas "Ponte dos Espiões" possui os trejeitos de filme dramão pra premiação.
Daqueles
que busca mostrar na figura de um personagem uma almejada conduta
ideal norte-americana diante de épocas de conflito, e que até por
isso tem a cara de juri mais interessado no nome dos envolvidos e na
moral da história.
O
filme é o saldo final de um trabalho dedicado de gente que entende
do ofício, e que não vai ser lembrado na filmografia de nenhum
deles.
Ponte
dos Espiões. Recomendado
para: concorrer ao Oscar, e desaparecer logo depois.
Ponte
dos Espiões
(Bridge
of Spies)
Direção:
Steven Spielberg
Duração:
142
minutos
Ano
de produção: 2015
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