Ponte dos Espiões (2015)



O nome de Steven Spielberg no cartaz de um filme recente, mais do que impulsionar interesse em assistir, evoca nostalgia de monte.
Apesar de continuar na ativa, e ver ele indicado a alguma premiação ainda ser algo comum, o cineasta ainda é muito mais lembrado por produções que não são pra chamar de novas, sejam blockbusters de CG vitaminado, ou dramas de guerra, e comédias espertas.
Mesmo não tendo virado um Riddley Scott, Spielberg não é mais o mesmo.
Ou quem sabe o cinema é que mudou demais?



"Ponte dos Espiões" testa isso ao se mostrar uma oportunidade para que o diretor revisite o gênero dos dramas em período de guerra, no qual os efeitos especiais não são o grande chamariz.
Muito mais importante nesse caso é o domínio do diretor, tanto da condução da trama, quanto na forma de explorar o máximo do elenco pra compor personagens que carreguem a história e o peso do contexto nas costas.
Nesse sentido, pelo simples fato de ter o protagonismo nas mãos do Tom Hanks, muito dessa responsabilidade acaba dividida.
Um ator que nem ele já mostrou diversas vezes como tornar o que seria um filme comum, se estrelado por alguém menos competente, em um longa-metragem memorável. Apesar disso, o próprio ator também vive recorrentes esforços pra voltar àquela forma de candidato certeiro em premiações, restando trabalhos mais ou menos que nem o "Capitão Phillips".
No trabalho mais recente da dupla o período da Guerra Fria é o escolhido pra que ambos façam uso do roteiro do Joel e do Ethan Coen na tentativa de criar uma obra pra abocanhar prêmios.
Mas conforme eu disse, e se o cinema tiver mudado muito?
E se o que funcionava antes, apesar de um evidente apuro técnico, parecer sem sal?



O filme inicialmente se arrasta de maneira desinteressante, ao abordar o desafio do advogado James Donovan (Hanks) em agir com toda ética do mundo pra defender o espião Rudolf Abel (Mark Rylance, nada impressionante em sua atuação), que acabou sendo descoberto em solo estadunidense.
Mesmo com a inquestionável capacidade de todos envolvidos, o marasmo é inevitável diante de uma tão pasteurizada trama, em que nenhuma verdade é simulada com eficácia frente à plateia, e tudo parece ter desfecho óbvio.
Cada resposta, cada personagem novo que era pra ser enigmático, e cada tomada exalam previsibilidade.
Quase como se fosse aquele filme antigo do qual os clichês relevamos por de repente ser precursora dos recursos que hoje, devido à recorrência chamamos de clichê.
Mas "Ponte dos Espiões" é um filme de 2015.
Não existe esse álibi pra justificar assistir cena após cena, reconhecendo ser muito bem filmado, e muito pouco envolvente ou convincente.
Tudo é correto. E tudo é falso demais.
Os dilemas do protagonista são diluídos de tal forma que a tensão é carta fora do baralho no filme que era muito dependente disso, até por não contar com sequências de tiroteio ou reviravoltas mirabolantes.
Somado a isso a relativa facilidade com que soluções são encontradas pra que a negociação alcance o resultado almejado pelo extremamente simpático e íntegro personagem do Tom Hanks, só enfraquecem o todo dessa produção com jeito de filme-família dos mais descartáveis.


Enquanto o Tom Hanks apresenta a sua tradicional segurança no papel, Mark Rylance dosa o humor com um fiapo de viés dramático, e o Spielberg é a precisão técnica de sempre, nada disso encontra efetividade pra convencer que as ameaças aos personagens são mais do que bravata de roteiro pré-fabricado pra premiação de medalhão de Hollywood.
Sem dúvidas "Ponte dos Espiões" possui os trejeitos de filme dramão pra premiação.
Daqueles que busca mostrar na figura de um personagem uma almejada conduta ideal norte-americana diante de épocas de conflito, e que até por isso tem a cara de juri mais interessado no nome dos envolvidos e na moral da história.
O filme é o saldo final de um trabalho dedicado de gente que entende do ofício, e que não vai ser lembrado na filmografia de nenhum deles.



Quanto vale:



Ponte dos Espiões. Recomendado para: concorrer ao Oscar, e desaparecer logo depois.

Ponte dos Espiões
(Bridge of Spies)
Direção: Steven Spielberg
Duração: 142 minutos
Ano de produção: 2015
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