Nada
que um péssimo título no Brasil não possa restringir a conhecer
por acaso.
Afinal,
quem nos dias de hoje ainda se interessaria por um filme chamado “Uma
Noite de Crime” ?
E é
uma pena que no mercado nacional este empecilho possa afastar tanta
gente do longa-metragem que no original possui um título bem mais
interessante.
The
Purge (O Expurgo) de certo modo resume muito do que é o mais
inquietante nessa sociedade futurista em que uma vez por ano, tal
qual uma celebração qualquer, um feriado nacional, um black friday,
halloween ou o que seja, a população estadunidense vive às voltas
com uma celebração inusitada, e apenas mais chocante devido ao
realismo com que é apresentada pela mídia aos “cidadãos de bem”,
que a partir das 19hs do dia em questão, possuirão 12 horas de uma
forma peculiar de “liberdade”, conforme eles mesmos se referem.
Pois
bem.
Neste
evento em particular, qualquer um pode a seu livre critério, cometer
o crime que pretender, e isto inclui roubos, assassinatos, e
quaisquer outros atos de violência de qualquer tipo.
Sem
qualquer intervenção da polícia, bombeiros, ou serviços de
emergência, os quais permanecem fora de funcionamento ao longo desta
metade de dia.
De
acordo com os dados apresentados pelos noticiários, o índice de
desemprego é irrisório, tal qual a criminalidade, graças a esse
sistema de descarrego de agressividade, e expurgo social, em que
obviamente as classes sociais menos favorecidas acabam sendo os alvos
mais fáceis.
Fato é
que, os mais afortunados podem instalar sistemas de segurança, o que
é o caso do protagonista interpretado pelo Ethan Hawke (sujeito
responsável por vender o referido sistema de segurança), que
garante à sua esposa interpretada pela Lena Headey e seus
filhos passar pela ocasião sem ter que se preocupar com “gostosuras
ou travessuras”, nessa versão mais hardcore.
Claro
que as coisas saem errado neste ano, e eles, queiram ou não, vão
ter que deixar o blu-ray de lado pra participar das “festividades”.
Isso
nem é spoiler. É óbvio.
Mas o diretor James DeMonaco ao menos consegue construir as fissuras no relacionamento familiar e criar um contexto em que a espera pelas complicações da noite seja envolvente o suficiente.
Mas o diretor James DeMonaco ao menos consegue construir as fissuras no relacionamento familiar e criar um contexto em que a espera pelas complicações da noite seja envolvente o suficiente.
Assim
sendo, não é um gore evidente o que toma conta do filme, e sim um
climão de thriller que o faz parecer um “O Quarto do
Pânico”, em rota de colisão com o terror “Eles”.
Mais
psicológico do que a violência pela violência, e com uma atmosfera
crescente de urgência que vai fazendo a situação ficar mais
angustiante.
O
vilão (ainda que, no mundo do filme, sejam apenas pessoas de bem, e
quem interfere na rotina de esquartejamento é quem está contra a
Lei) é bem atuado por um desconhecido chamado Rhys Wakefield, e
só adiciona mais tensão às escolhas que terão que ser feitas.
É
verdadeiramente incômodo pensar que, pra se safar dessa e proteger
sua família, o protagonista precise optar por ser totalmente
indiferente ao que acontece, e aceitar com naturalidade a morte dos
outros, ainda que sejam vitimados sem nenhuma acusação além de
serem pobres, ou moradores de rua.
Tá
certo que a partir de um ponto, proliferam soluções forçadas, e no
ato final ocorre uma meia dúzia de salvamentos de última hora tão
previsíveis quanto saber que um filme do Nolan vai tentar se
fazer de Cult com final em aberto, mas ao menos o questionamento
forte presente até essa parte é realmente forte, e bem contado.
Além
disso, há a necessidade em haver heroísmo e em determinado momento
isso ocorre de maneira brusca e sem um desenvolvimento convincente.
Mas
apesar disso, pouca coisa é tão realista quanto à exploração da
mídia na véspera da Noite do Expurgo, ressaltando os prós desta
iniciativa do governo vigente.
Não tivesse optado pelo caminho fácil no ato final, o longa-metragem não teria subaproveitado seu potencial de clássico das obras do gênero.
Ainda
assim, mesmo com os atalhos desse tipo de produção em um roteiro
que não aproveita plenamente a sensacional premissa, The Purge
consegue ser divertido e questionador em grande parte.
O
filme de James DeMonaco, no fim da sessão é um soco no estômago
que pega de raspão, mas ainda assim consegue causar o tipo de
desconforto que vai além das vísceras expostas que são o fetiche
dos thrillers atuais.
Quanto
vale:
Recomendado para: repensar muitas das aparentemente inocentes convenções sociais de hoje em dia.
Uma
Noite de Crime
(The
Purge)
Direção: James DeMonaco
Duração: 85 minutos
Ano
de produção: 2013
Gênero: Thriller/Terror
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