Por
fatores inóspitos ao entendimento, a escalada do cinema de HQs se fez
de forma bastante capenga por tempos demais, até um dia ascender ao
panteão do acúmulo burlesco de dinheiro.
Na
gênese desse bom momento, uma das franquias essenciais nesse lance
todo principiou com um filme bastante rejeitado ou esquecido por
muitos hoje, que ao se depararem com um trecho durante o rito do
zapeamento de canais, focalizam nos bem menos impressionantes efeitos
especiais e recursos disponíveis no longínquo ano de
2000.
Nessa
temporada em questão, o cineasta Bryan Singer traria sua versão
vestida de preto, dos mutantes da Marvel, e X-Men: O Filme
surpreendeu público e crítica, garantindo a sequência na forma do
ótimo X-Men 2, e claro, uma franquia pra pagar as contas pelo resto
da vida dos envolvidos e suas descendências.
Depois
de uns altos (o excelente X-Men: Primeira Classe) e baixos (X-Men: O Confronto Final, X-Men Origens: Wolverine, e Wolverine Imortal), Bryan
Singer volta na função de diretor na franquia.
O
compromisso que ele comprou envolvia mais do que arrecadar as
finanças das platéias nas bilheterias, e além de estar à altura
do filme dirigido pelo Matthew Vaughn, incluía remendar a
esculhambação que havia virado o universo cinematográfico mutante
ao longo dos filmes.
E isso
pra não mencionar que a saga escolhida pra adaptação é uma das
melhores de todos os tempos dos personagens nos quadrinhos, resultado
da saudosa era Chris Claremont.
Em
seus primeiros minutos, Dias de um Futuro Esquecido segue bem uma
fórmula que não soa incômoda de maneira alguma, com um prólogo
interessante, e cenas que conseguem ficar na memória mesmo ao fim da
sessão.
O
futuro opressor ao qual os mutantes e os humanos que lhes são
favoráveis são subjugados, é construído com competência, além de trazer as
primeiras sequências de ação de altíssimo nível que a produção
traz consigo.
Com
jeito de easter eggs sucessivos, ser reapresentado aos X-Men
futuristas em sua versão live-action, tem uma importância
diferente pro leitor de HQs adepto da cinefilia.
Não
há o que reclamar das caracterizações de Blink (Bingbing Fan),
Bishop (Omar Sy), Mancha Solar (Adan Canto), e Apache (Booboo Stewart),
além dos já conhecidos no cinema, Tempestade (Halle Berry), Homem de
Gelo (Shawn Ashmore), Lince Negra (Ellen Page), e Colossus
(Daniel Cudmore), que sob o comando de Magneto (Ian McKellen) e
Professor Xavier (Patrick Stewart) enfrentam um inimigo
minuciosamente criado pra tirar de vez as esperanças de vitória no
braço, por parte dos mutantes.
O
enfrentamento é basicamente contra os Sentinelas, que apesar do seu
visual questionado antes da estreia, se provaram uma ameaça maior
do que as primeiras impressões dos resenhistas profissionais de
trailers.
Todas
as lutas nesse segmento inicial possuem peso dramático suficiente,
ainda que não seja destinado tempo de apresentação à nova equipe,
o que na verdade não se mostra necessário.
A função desse primeiro momento é bem executada e direta, não deixando dúvidas de que o futuro dos mutantes vai ser deveras insalubre e ferrado, além de criar a motivação pra que a versão grisalha do Wolverine (Hugh Jackman) tenha sua mente transferida pra sua versão setentista, que terá que interferir na linha tênue do tempo pra evitar tudo isso, contando com uma alternativa funcional do roteiro pra que seja ele o escolhido pra isso, divergindo da HQ.
Essa escolha pelo ator famoso pela sua atuação no seriado Game of Thrones é só um dos sinais mais perceptíveis de que o roteiro encomendado a Simon Kinberg não tinha toda essa preocupação em amarrar por completo a extensa filmografia mutante, ao ignorar o ator que havia interpretado o personagem na trilogia original.
Isso
não compromete, mas deixa bem claro que o roteiro evitaria quando
julgasse necessário certas complicações, invés de encará-las de
frente tal qual ocorreu em Primeira Classe.
A essa
altura, Wolverine já descobre que os X-Men do passado estão longe
de seu apogeu, e encontra um Charles Xavier (James McAvoy) nada parecido com o exemplar
de luta pacifista que o enviou ao passado.
Enquanto
não fique em transições muito recorrentes entre passado e futuro, o
enredo se mantém com um nível aceitável de diversão nessa etapa,
sem ficar confuso (um risco recorrente em histórias envolvendo
viagens temporais) mas também sem encontrar o apelo dramático de
contagem regressiva que a história necessita.
No entanto,
conforme eu disse, ainda é bastante divertido.
Fundamental
pra isso é a presença do personagem Pietro, ou conforme sua
alcunha: Mercúrio. Nem é um exagero de interpretação do
Evan Peters, que faz um trabalho bem feito, mas que tem a seu
dispor algumas das linhas mais inspiradas do texto escrito pelo
roteirista.
Óbvio que a sequência em que ele traz à memória o ainda empolgante prólogo de X-Men 2, é um destaque, e dentre os inúmeros coadjuvantes relevantes, ele é o que se saiu melhor na distribuição de tempo.
Óbvio que a sequência em que ele traz à memória o ainda empolgante prólogo de X-Men 2, é um destaque, e dentre os inúmeros coadjuvantes relevantes, ele é o que se saiu melhor na distribuição de tempo.
E eu
digo isso não me referindo à personagem Mística (novamente a
Jennifer Lawrence), porque no caso dela, apesar de atingir patamar de
quase protagonismo, é algo bem menos efetivo. Quer dizer, é parte
do andamento da trama, e não é que ela fique só de enfeite em
cena.
O problema é que provoca um desequilíbrio narrativo, e
reduz demais o tempo pra desenvolver o drama pré-catástrofe que
conduz Wolverine, Professor Xavier, e Magneto.
Se em Primeira Classe, mesmo trabalhando com uma história de origem de uma equipe Vaughn soube aliar a ação, e intentos apocalípticos do vilão, com o desenvolvimento dos personagens, em Dias de Um Futuro Esquecido a trama apenas avança. Isso permite a ação, e a história ir em frente, mas não aprofunda as motivações dos personagens, contando com o embasamento que o filme anterior providenciou muito bem.
Se em Primeira Classe, mesmo trabalhando com uma história de origem de uma equipe Vaughn soube aliar a ação, e intentos apocalípticos do vilão, com o desenvolvimento dos personagens, em Dias de Um Futuro Esquecido a trama apenas avança. Isso permite a ação, e a história ir em frente, mas não aprofunda as motivações dos personagens, contando com o embasamento que o filme anterior providenciou muito bem.
Isso
não faz do filme de 2014 ruim. Não é isso.
Somente
não o permite explorar a totalidade do potencial do mote
principal.
X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido tem o suficiente de boas cenas de ação, e as atuações convincentes de seu elenco sensacional. E também possui em seu roteiro boas ideias o suficiente pra que ele seja um dos bons filmes da franquia.
X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido tem o suficiente de boas cenas de ação, e as atuações convincentes de seu elenco sensacional. E também possui em seu roteiro boas ideias o suficiente pra que ele seja um dos bons filmes da franquia.
Não
se pode exigir também que todo mundo tivesse a sua psique esmiuçada,
e que todo mutante do filme tivesse o mesmo tempo em cena que alguns
poucos, diante de um elenco desses.
Mas na medida do possível, a maioria tem o tempo certo pra contribuir pro que constitui mais um correto passo nessa nova cinematografia mutante.
Mas na medida do possível, a maioria tem o tempo certo pra contribuir pro que constitui mais um correto passo nessa nova cinematografia mutante.
O resto é o
resto.
Efeitos especiais de primeira, e o cuidado com a produção, que dessa vez
teve menos o apelo retro, ainda que a representação dos anos 70
seja digna de elogios, tal qual a distopia em que os Sentinelas
trucidam mutantes sem grandes dificuldades.
Se não repete a
tradição do segundo filme que supera o primeiro, não é nada que
chegue a desmerecer o recomeço do universo dos X-Men nas telas, que
a partir de agora vai tomar rumos completamente novos, e expandindo a
mitologia da franquia no cinema, conforme fica evidente no anúncio
do terceiro filme que mais uma vez Bryan Singer dirigirá.
E em épocas de Marvel Studios engatilhando trocentos novos projetos live-action, e com uma grande parcela de público afirmando que nada fora do referido estúdio consegue funcionar adaptando quadrinhos da Casa das Ideias, é com certeza uma afirmação relevante ao conferir mais uma vez na franquia mutante um exemplar do cinema de quadrinhos que vale mais do que as cerca de duas horas de metragem.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido é bom o suficiente pra competir de igual com outros grandes similares heróicos no cinema, e ao mesmo tempo manter viva uma das mais longevas cinesséries de quadrinhos.
Longe do desgaste, parece que os mutantes ainda tem potencial pra alguns bons filmes.
Então aguardemos.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido é bom o suficiente pra competir de igual com outros grandes similares heróicos no cinema, e ao mesmo tempo manter viva uma das mais longevas cinesséries de quadrinhos.
Longe do desgaste, parece que os mutantes ainda tem potencial pra alguns bons filmes.
Então aguardemos.
X-Men:
Dias de um Futuro Esquecido. Recomendado para: ajudar a apagar umas burradas do passado mutante no cinema.
X-Men:
Dias de um Futuro Esquecido
(X-Men:
Days of Future Past)
Direção:
Bryan Singer
Duração: 131 minutos
Ano de
produção: 2014
Gênero:
Ação/Aventura/Ficção Científica
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