Aniversariante da semana: John Carpenter


Ontem o cineasta norte-americano John Carpenter completou 65 anos de idade. Eu, particularmente, sou um admirador de boa parte da obra desse diretor que, ao mesmo tempo em que conquista uma legião de fãs, também consegue cultivar inúmeros detratores. 

O amor e o ódio, nesse caso, não é surpresa, já que o cara sempre foi visto como um outsider, que nunca escondeu seu apreço pelo terror e a ficção científica, duas coisas que causam urticárias nos arautos do bom gosto. Sendo assim, eu não poderia passar deixar em branco o aniversário do homem. Obviamente que ele não agrada todo mundo, mas afinal, quem consegue?

Carpenter, o homem por trás de filmes como Halloween, Starman, Fuga de Nova York, entre outros, é diretor, produtor, compositor de trilhas sonoras (principlamente de muitos dos seus filmes) e, aparentemente, gente fina. Ele sempre deixou clara a sua influência pelas histórias clássicas de ficção científica e suspense, por isso, não é de se admirar que em muitos dos seus filmes você se surpreenda exclamando algo como: “Putz... Isso aí poderia estar em um episódio da série Twilight Zone!

Os Aventureiros do Bairro Proibido
Eu também poderia tecer aqui alguns parágrafos sobre Os Aventureiros do Bairro Proibido, O Príncipe das Trevas, Assalto à 13ª DP (esse inclusive foi já refilmado) que em seus lançamentos foram mais achincalhados que mãe de juiz em final de campeonato, porém com o passar do tempo, ganharam status de obras cult. Sendo assim, vou me concentrar em apenas dois filmes desse diretor: o (quase completamente) desconhecido Dark Star e, por fim, o injustiçado Memórias de um homem invisível.

Dark Star, roteirizado por John Carpenter e Dan O’Bannon (que também atua nessa produção), é o primeiro longa-metragem do cineasta e foi realizado com um orçamento de apenas 60 mil dólares (tenho para mim que hoje isso não pagaria nem mesmo a lataria do Optimus Prime em Transformers).


Dark Star segue um ritmo oposto das outras obras de Carpenter. Enquanto os trabalhos posteriores do diretor possuem um tom mais sério, esse aqui é uma comédia destrambelhada que, se é possível tal comparação, funciona como um casamento entre Futurama e 2001 - Uma odisseia no espaço

Na trama, que ocorre no século  XXII, Dark Star é o nome de uma nave da Terra que vasculha o espaço sideral com o objetivo de destruir planetas instáveis que, sabe-se lá o motivo, possam sair das suas respectivas órbitas. 


A missão dura há 20 anos e os astronautas já estão surtados devido ao longo período enclausurado na nave. Os problemas pioram quando uma bomba passa a se comportar como um burocrata de repartição de pública e então começa a questionar a sua função dentro da nave. Os diálogos, nesse caso, são hilários. Para fazer que a bomba cumpra a sua função, os astronautas discutem com ela temas sobre fenomenologia e dúvida cartesiana.


Em Dark Star, os (d)efeitos especiais são tão visíveis, que causariam constrangimento até mesmo na equipe de produção dos episódios do Chapolin Colorado. O elevador da nave espacial, por exemplo, era um poço de elevador real, os painéis da nave eram bandejas furadas com luzes coloridas na traseira. Como se isso não bastasse, o cenário também era feito com isopor, plástico, sucata e toda a sorte de material que pode ser encontrado em qualquer porão de uma casa.


Apesar das falhas, Dark Star já apresenta conceitos que posteriormente serão explorados por John Carpenter em alguns dos seus filmes seguintes, tais como a desconfiança dos indivíduos perante as autoridades e o desconforto em um ambiente hostil.

Poucos anos mais tarde, o ator e roteirista Dan O’Bannon, que junto com Carpenter é um dos culpados por trazer o longa-metragem Dark Star ao mundo, reaproveitou a ideia dessa amalucada ficção científica e escreveu um roteiro mais sério...

… Foi assim que surgiu o filme Alien - O oitavo passageiro, lançado em 1979 e dirigido por Ridley Scott.

John Carpenter só voltou a realizar uma comédia em 1992, quando lançou o injustiçado Memórias de um homem invisível, protagonizado pelo comediante Chevy Chase e Daryl Hannah.

Memórias de um homem invisível


Durante a década de 80, John Carpenter não teve experiências positivas ao trabalhar com grandes estúdios.  Até que no início dos anos 90 a Warner resolveu retirar o cineasta do exílio. Tudo começou quando a empresa resolveu adaptar o livro de ficção científica Memoirs of an Invisible Man, escrito por H.F. Saint.

O roteiro inicialmente passou pelas mãos de vários diretores tal e qual uma batata quente que todo mundo quer se ver livre. Porém, quando o roteiro chegou nas mãos de Carpenter, ele decidiu que iria assumir a direção desde que fossem efetuadas algumas mudanças na história.

E assim, o filme narra as desventuras de Nick Halloway (Chevy Chase), que leva uma vida pacata como corretor de imóveis. Porém, graças a um acidente científico, desses acidentes que já mudaram a vida de Peter Parker e Bruce Banner, o sujeito se torna invisível.


Para piorar a situação, o cara passa a ser procurado por um agente da CIA, um vilão chamado David Jenkins (Sam Neil).

A partir de então, John Carpenter explorou vários momentos criativos envolvendo o personagem invisível. Fato esse que não agradou muito aos fãs do Chevy Chase, que esperavam uma comédia mais escancarada, e aos fãs do Carpenter, que cresceram vendo o cara dirigir filmes de fantasia e ficção científica, mas geralmente mais sérios.


Atualmente a quantidade de gente que aprecia esse filme não enche um fusca, mas devo confessar que ele é muito mais interessante que a refilmagem de A Cidade dos Amaldiçoados, dirigido por John Carpenter em 1994, e que aquele sério, porém enfadonho, O Homem sem sombra, dirigido por Paul Verhoeven em 2000, e que mostra o Kevin Bacon invisível.

Vale destacar também que os efeitos especiais, para o período, são convincentes, principalmente nas cenas em que roupas vestidas pelo homem que ninguém enxerga saem andando sozinhas.


De acordo com o diretor, essa mesma tecnologia originou os efeitos de várias produções que vieram depois, como apagar as pernas de Gary Sinise no longa-metragem Forrest Gump.

No geral, Memórias de um homem invisível pode ser visto tanto quanto uma ficção científica despretensiosa ou, quem sabe, como uma metáfora sobre um indivíduo que não era notado na sua vida cotidiana nem mesmo quando todos poderiam enxergá-lo.
Depois desse longa-metragem, o diretor fugiu das comédias tal e qual um vampiro foge da luz do sol. O trabalho mais recente do diretor é o suspense Aterrorizada, lançado em 2010. Para variar, esse filme dividiu a crítica, mas em se tratando de John Carpenter, isso não é nenhuma surpresa.

Ame-o ou deixe-o, a verdade é que o aniversariante da semana é um dos cineastas mais influentes da geração dele. Que ele continue produzindo as suas obras por mais longos anos, para o bem e para o mal.
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