A Hora Mais Escura (2012)



Uma coisa com a qual eu me preocupo quando faço minha avaliação de uma obra, é se eu estou vendo as qualidades que ela realmente possui, ou se simplesmente tentei ver significados demais onde eles não existiam.

E claro, levei isso em consideração ao assistir o novo filme de Kathryn Bigelow.
Esse tipo de guerra que é contada a partir de um gabinete é bem longe do que eu consideraria um exemplar natural de entretenimento.
Mas claro que isso não é defeito do filme "A Hora Mais Escura", que não tem obrigação nenhuma de ser divertido pra toda família, nem nada, até porque, a velocidade (ou falta de) com que as pouco menos de 3 horas passaram é algo subjetivo.
A questão é muito mais o que a diretora quis contar, e muito menos se é o tipo de cinema que agrada público X ou Z.
Ao menos é com esse pensamento que eu escrevo.

Então, após sermos reapresentados ao 11 de setembro, surge o primeiro questionamento do roteiro, quando um prisioneiro é torturado por agentes da CIA, e até por aí ninguém diz que isso é certo ou errado. É apenas o caminho instintivo pra obter respostas que os noticiários já confirmaram se tratar de algo corriqueiro e parte da cartilha de bons modos das forças estadunidenses distribuindo a paz.
Quem guia os olhos do espectador é a recém-chegada agente Maya (boa atuação de Jessica Chastain) que vai se adaptando muito bem aos métodos de "persuasão" que é o principal recurso de seus aliados na investigação.
Enquanto isso, de uma pista a outra, a politicagem de sempre, em uma trama contada de maneira tão realista quanto extenuante.



"A Hora Mais Escura" é um filme de ação sem ação, fora os atentados que são uma rotina reforçando um aspecto do filme que cada vez mais vai se fortalecendo na retórica do roteiro: aqueles que torturam e maram, são nessa história os nossos heróis.
Ao menos é assim que eles são retratados, mas sempre com o cuidado de não dizer isso com todas as palavras, afinal, o maniqueísmo já não vende o mesmo que antes, mundo afora.

Algo de que eu gostei em "Guerra ao Terror" foi o fato de o soldado, um dos exemplares mais típicos do herói, dessa vez ter sido destituído do discurso da luta em nome de qualquer nobreza ou justiça. Ele vive e se alimenta da violência, ainda que essa o destrua.
Já em "A Hora Mais Escura", os agentes são vítimas do contexto de pavor pós 11 de setembro, e fazem o que fazem para levar os culpados à justiça. Tanto é que assim que pode, um dos torturadores se afasta, voltando aos EUA, pra despairecer do que ele tem sido forçado a ver.
A própria protagonista, ao mudar tomada pela obsessão, torna-se mais do que Hollywood respira, com uma postura de justiceira que enfrenta seus superiores com frases de efeito, em sua obstinada corrida contra o tempo pra restabelecer a ordem e devolver a paz ao seu povo.
Tudo isso de maneita sutil, mas está lá. Reparem bem.


A diretora, de sua parte, é câmera tremendo, e pirotecnia de efeito seco e pragmático.
O ritmo é lento e fica mais devagar pelo fato de que nenhum personagem é desenvolvido a ponto de haver qualquer envolvimento com a plateia, e só parece acelerar quando se percebe que o filme já deve estar próximo do seu final e ainda há muito a investigar pra localizar o inimigo invisível Osama Bin Laden.


Fora isso, resta uma história bem contada, mas sem grande tensão ou arroubos de grandes ideias o que apenas arrasta mais a metragem megalomaníaca da moda.
Qualquer outra grande qualidade, exige a boa vontade do público em acreditar que na sua burocrática narrativa, há algo a mais que signifique alguma metáfora ou inovação no gênero.
Ainda assim, no que diz nas entrelinhas "A Hora Mais Escura" fala mais a respeito de como fazer um filme menor com cara de filme grande, e sobre como foi que Kathryn Bigelow encontrou sua fórmula pra parecer genial mesmo quando não é.

Quanto vale: 




A Hora Mais Escura
(Zero Dark Thirty)
Direção: Kathryn Bigelow
Duração: 157 minutos
Ano de produção: 2012
Gênero: Suspense/Drama/Guerra

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