Dentre todas as
qualidades de “Argo”, a que eu destaco é o humor.
“Mas por que, torpe
cinéfilo?”.
Ora, incauto visitante,
porque não há nada melhor que um filme hollywoodiano esculhambando
Hollywood.
O próprio mote da
historia ruma para o estapafúrdio assim que consegue. E claro, em se
tratando de uma historia baseada em fatos reais, isso é ótimo.
Os tais fatos reais se
referem a uma inusitada tentativa de resgate ocorrida em 1979 na qual a CIA
mobiliza uma operação que envolve a criação de um falso
longa-metragem sci-fi como fachada pra buscar seis norte-americanos que
conseguiram fugir da embaixada do país em Teerã, depois de a mesma
ter sido invadida pela população iraniana enfurecida durante mais
um turbulento episódio político no Irã.
Num mar de péssimas ideias, a que acaba sendo escolhida é das menos ruins.
Num mar de péssimas ideias, a que acaba sendo escolhida é das menos ruins.
Esses são os fatos
históricos. Isso é sinopse.
Evidentemente que existe
muita tensão nessa ousada missão idealizada pelo agente da CIA Tony
Mendez (Ben Affleck), mas durante boa parte do filme o que toma a
dianteira é o senso de humor que traz muita leveza pra essa
historia.
Certamente uma maneira esperta de contar uma historia de espionagem para as massas.
Certamente uma maneira esperta de contar uma historia de espionagem para as massas.
E esperteza,
evidentemente é algo a ressaltar neste terceiro filme dirigido pelo
tantas vezes execrado (com justiça) Ben Afleck.
Em Argo, ao mesmo
tempo em que ele encontra aceitação sem precedentes, após o bom
reconhecimento de “Medo da Verdade” (Gone Baby Gone,
2007), e “Atração Perigosa” (The Town, 2010), ele
investe em um filão cinematográfico em que pra se destacar é
preciso muitas cartas na manga pra não resultar em mais um.
Porém, conforme eu
mencionei, Argo é um filme muito esperto.
O seu diferencial, além
da muito competente direção de Ben Affleck está no roteiro
engenhosamente preenchido com diálogos interessantes e que trazem
muito dinamismo ao andamento, especialmente em toda a etapa de
preparação que escrotiza com um certo ar de nostalgia os bastidores da produção
cinematográfica, sempre com inteligência e boas ideias, o que, se
por um lado favorece nesse aspecto, infelizmente torna a tensão algo
prometido pra uns minutos depois.
Ainda assim, vários dos
melhores momentos do filme ainda estão nessa parte, que traz uma
cara cada vez mais interessante pro que poderia ser apenas mais um
“filme baseado em fatos reais” que se escora nesse rótulo pra
justificar qualquer deslize de diretor preguiçoso.
O filme de Affleck
vai criando uma atmosfera própria e envolvente, não parecendo um
filme de James Bond pra concorrer a Oscar nas
categorias menos prestigiadas.
Obviamente ajuda muito
contar com nomes que nem Bryan Cranston (da série Breaking
Bad), e da dupla entrosada Alan Arkin (interpretando o
produtor Lester Siegel) e John Goodman (no papel do
premiado maquiador John Chambers), mas além de o elenco
acertar em cheio pra equilibrar o contexto absurdo com a realidade
recontada na trama, existe o mérito do cineasta que soube utilizar
isso em prol da construção de um bom longa-metragem.
Somado a isso, há muito
a elogiar na impressionante sequência inicial (com certeza o momento
de maior tensão do filme) e a sequência no bazar.
Até aí, é no clima das
incertezas dos personagens e dos espectadores que Affleck
estava trabalhando, mas infelizmente o roteiro assinado por Chris
Terrio adaptando um artigo escrito por Joshuah Bearman
precisou de uns “algo a mais” pra tornar o produto final mais
hollywoodiano.
Assim, telefones tocando
criando a expectativa de serem atendidos no último instante,
verificações de documentos que na última hora podem levar a missão
ao churume, e nenhuma grande virada conduzem o enredo de maneira
quase anti-climática rumo ao seu término.
Tirando a competência
geral dos envolvidos em tornar crível o contexto, muito se
perde quando as alternativas convergem pra um blockbuster bem mais
convencional, que conta ainda com aquela marota caracterização do vilão árabe que não faz dele algo a temer, e sim a lamentar em sua faceta fílmica clichê nem um pouco imaginativa.
Não faz de Argo um filme
medíocre. Muito longe disso. mas não agrega nada que o favoreça que as grandes
ideias da etapa final sejam criar pequenas complicações que
Hollywood já nos esclareceu que são bem fáceis de serem
contornadas com um pouco de sorte dos protagonistas.
O trabalho de Affleck
acaba muito facilmente delimitado entre abordagens díspares, do
sensacional início de thriller de espionagem com direito a queima de
arquivo (muito legal ver a importância destinada a esse aspecto), à
sátira a Hollywood inspirada na sátira real engendrada pela CIA,
que incluiu o “filme dentro do filme” Argo (um genérico
de Star Wars), e os desdobramentos de suspense fácil e em
alguns momentos eficaz que preenche a metragem nos seus finalmentes.
Assim, quando os créditos finais começam jogando na cara do espectador que por mais difícil de acreditar o longa-metragem é sim baseado em fatos reais, o estilo e
talento demonstrado pelo diretor na verdade ainda despertam outro
ponto a comentar ao fim da sessão: como seria um filme da
Liga Justiça dirigido por Ben Affleck?
Teria sido interessante
descobrir.
Quanto vale:
Argo
(Argo)
Direção: Ben
Affleck
Duração: 120 minutos
Ano de produção:
2012
Gênero: Thriller/
Suspense
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