Argo (2012)




Dentre todas as qualidades de “Argo”, a que eu destaco é o humor.
“Mas por que, torpe cinéfilo?”.
Ora, incauto visitante, porque não há nada melhor que um filme hollywoodiano esculhambando Hollywood.

O próprio mote da historia ruma para o estapafúrdio assim que consegue. E claro, em se tratando de uma historia baseada em fatos reais, isso é ótimo.
Os tais fatos reais se referem a uma inusitada tentativa de resgate ocorrida em 1979 na qual a CIA mobiliza uma operação que envolve a criação de um falso longa-metragem sci-fi como fachada pra buscar seis norte-americanos que conseguiram fugir da embaixada do país em Teerã, depois de a mesma ter sido invadida pela população iraniana enfurecida durante mais um turbulento episódio político no Irã.
Num mar de péssimas ideias, a que acaba sendo escolhida é das menos ruins.


Esses são os fatos históricos. Isso é sinopse.
Evidentemente que existe muita tensão nessa ousada missão idealizada pelo agente da CIA Tony Mendez (Ben Affleck), mas durante boa parte do filme o que toma a dianteira é o senso de humor que traz muita leveza pra essa historia.
Certamente uma maneira esperta de contar uma historia de espionagem para as massas.
E esperteza, evidentemente é algo a ressaltar neste terceiro filme dirigido pelo tantas vezes execrado (com justiça) Ben Afleck.


Em Argo, ao mesmo tempo em que ele encontra aceitação sem precedentes, após o bom reconhecimento de “Medo da Verdade” (Gone Baby Gone, 2007), e “Atração Perigosa” (The Town, 2010), ele investe em um filão cinematográfico em que pra se destacar é preciso muitas cartas na manga pra não resultar em mais um.
Porém, conforme eu mencionei, Argo é um filme muito esperto.

O seu diferencial, além da muito competente direção de Ben Affleck está no roteiro engenhosamente preenchido com diálogos interessantes e que trazem muito dinamismo ao andamento, especialmente em toda a etapa de preparação que escrotiza com um certo ar de nostalgia os bastidores da produção cinematográfica, sempre com inteligência e boas ideias, o que, se por um lado favorece nesse aspecto, infelizmente torna a tensão algo prometido pra uns minutos depois.
Ainda assim, vários dos melhores momentos do filme ainda estão nessa parte, que traz uma cara cada vez mais interessante pro que poderia ser apenas mais um “filme baseado em fatos reais” que se escora nesse rótulo pra justificar qualquer deslize de diretor preguiçoso.

O filme de Affleck vai criando uma atmosfera própria e envolvente, não parecendo um filme de James Bond pra concorrer a Oscar nas categorias menos prestigiadas.
Obviamente ajuda muito contar com nomes que nem Bryan Cranston (da série Breaking Bad), e da dupla entrosada Alan Arkin (interpretando o produtor Lester Siegel) e John Goodman (no papel do premiado maquiador John Chambers), mas além de o elenco acertar em cheio pra equilibrar o contexto absurdo com a realidade recontada na trama, existe o mérito do cineasta que soube utilizar isso em prol da construção de um bom longa-metragem.
Somado a isso, há muito a elogiar na impressionante sequência inicial (com certeza o momento de maior tensão do filme) e a sequência no bazar.


Até aí, é no clima das incertezas dos personagens e dos espectadores que Affleck estava trabalhando, mas infelizmente o roteiro assinado por Chris Terrio adaptando um artigo escrito por Joshuah Bearman precisou de uns “algo a mais” pra tornar o produto final mais hollywoodiano.
Assim, telefones tocando criando a expectativa de serem atendidos no último instante, verificações de documentos que na última hora podem levar a missão ao churume, e nenhuma grande virada conduzem o enredo de maneira quase anti-climática rumo ao seu término.
Tirando a competência geral dos envolvidos em tornar crível o contexto, muito se perde quando as alternativas convergem pra um blockbuster bem mais convencional, que conta ainda com aquela marota caracterização do vilão árabe que não faz dele algo a temer, e sim a lamentar em sua faceta fílmica clichê  nem um pouco imaginativa.
Não faz de Argo um filme medíocre. Muito longe disso. mas não agrega nada que o favoreça que as grandes ideias da etapa final sejam criar pequenas complicações que Hollywood já nos esclareceu que são bem fáceis de serem contornadas com um pouco de sorte dos protagonistas.


O trabalho de Affleck acaba muito facilmente delimitado entre abordagens díspares, do sensacional início de thriller de espionagem com direito a queima de arquivo (muito legal ver a importância destinada a esse aspecto), à sátira a Hollywood inspirada na sátira real engendrada pela CIA, que incluiu o “filme dentro do filme” Argo (um genérico de Star Wars), e os desdobramentos de suspense fácil e em alguns momentos eficaz que preenche a metragem nos seus finalmentes.
Assim, quando os créditos finais começam jogando na cara do espectador que por mais difícil de acreditar o longa-metragem é sim baseado em fatos reais, o estilo e talento demonstrado pelo diretor na verdade ainda despertam outro ponto a comentar ao fim da sessão: como seria um filme da Liga Justiça dirigido por Ben Affleck?
Teria sido interessante descobrir.


Quanto vale: 




Argo
(Argo)
Direção: Ben Affleck
Duração: 120 minutos
Ano de produção: 2012
Gênero: Thriller/ Suspense

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