Robot Holocaust e Heavy Metal


Lá pelos idos da década de 70, surgiu uma revista de histórias em quadrinhos que abordava aventuras baseadas em conceitos da ficção científica e da fantasia. Em tais revistas o leitor poderia encontrar histórias com naves espaciais ou até aventuras medievais, ou quem sabe, as duas coisas ao mesmo tempo. A referida revista atendia pela alcunha de Heavy Metal. Essas publicações se diferenciavam do eixo Marvel/DC devido a algumas peculiaridades, a principal delas eram o grau de erotismo e violência.

Com histórias protagonizadas por guerreiras de corpo voluptuoso, anti-heróis violentos e tramas que, em determinados momentos, rompiam com soluções maniqueístas, podemos dizer que essa é a HQ para quem já tinha “pêlo no saco”.


Heavy Metal é uma publicação que surgiu na França em 1975, sob o título de Métal Hurlant. O nome em inglês veio em 1977, quando nasceu a versão norte-americana dessa publicação.

Apesar do relativo sucesso, eu, particularmente, nunca vi uma versão live-action da revista. Em 1981 surgiu a animação em longa-metragem chamada Heavy Metal - Universo em Fantasia, depois apenas no ano 2000 veio outro longa de animação, chamado de Heavy Metal 2000, mas filme com atores de “carne e osso” baseados na revista, meus olhos nunca testemunharam. 

O máximo que chega perto de um live-action dessa revista são alguns filmes de ficção científica que possuem nos roteiros os elementos que fizeram Métal Hurlant famosa entre os leitores, porém não são baseadas diretamente nos quadrinhos. 
Confira o trailer do primeiro longa-metragem de animação baseado na HQ:


E há também o trailer da animação lançada em 2000:


Vários filmes, principalmente aquelas produções pós apocalípticas feitas nos anos 80, em maior ou menor grau, possuem o “espírito Heavy Metal”. Um desses exemplares é o Robot Holocaust, que apesar de não ser baseado na HQ, mostra cidades em ruínas, criaturas exóticas, guerreiros audazes, entre outros elementos. O problema de Robot Holocaust é somente um: sua tosquice é elevada a níveis exorbitantes.

Dotado de cenários precários, atuações canhestras e figurinos que não seriam aproveitados nem mesmo no teatrinho infantil de uma festa junina, Robot Holocaust é o típico filme que exala em cada cena a essência do trash.

Robot Holocaust, já citado superficialmente aqui nesse blogue em tempos de outrora, é uma ficção científica lançada em 1986. Apesar dos visíveis (e risíveis) defeitos especiais, o longa-metragem tem lá os seus méritos de ser um belo exemplo de que fazer filmes ruins é uma arte.

No Brasil, esse filme foi exibido no Cine Trash, que fazia parte de programação da Rede Bandeirantes e que, infelizmente, hoje faz falta. (Na boa, considero alguns programas evangélicos e determinados noticiários sensacionalistas bem mais “violentos” que qualquer cena do Jason Vorhees esmigalhando miolos alheios). 

Na TV aberta Robot Holocaust foi exibido com o título de Mutantes Carnívoros, por causa apenas de uma cena que sugere tal tema, embora a sinopse desse filme não fale sobre “mutantes”, tão pouco de “carnívoros”.

Na trama, em um futuro pós-apocalíptico, as máquinas dominam a raça humana envenenando o ar. Os poucos (e azarados) seres humanos que restam sobrevivem em esconderijos. Tanto que logo no início dessa simpática tranqueira surge uma narração situando o expectador no caos reinante:
"A última cidade permanece de pé. Foi só o que restou da civilização de New Terra. A sociedade foi destruída durante a Rebelião dos Robôs de 2033, quando bilhões de robôs se voltaram contra seus mestres. O caos resultou num vazamento radioativo, muito mais mortal que qualquer explosão atômica. E o mundo caiu de joelhos diante do... HOLOCAUSTO DOS ROBÔS!".

Só esse início já é suficiente para derrubar por terra qualquer tentativa de levar o filme a sério, para deixar mais engraçado ainda, basta ver que a excelente primeira parte da trilogia Matrix (isso mesmo, o sucesso sci-fi de 1999) tem uma trama levemente parecida. Em Robot Holocaust, os robôs também utilizam os seres humanos para gerar a energia. Além disso, o grande vilão da trama é uma entidade do mal que possui a alcunha de Dark One. No entanto, para salvar a humanidade surge um guerreiro chamado... acreditem... Neo (vivido por um ator canastrão chamado Norris Culf).


Mas as semelhanças acabam aí, se o Matrix contou com cenários e efeitos especiais de qualidade notável, Robot Holocaust possui defeitos especiais dignos de um episódio do Power Rangers sem dinheiro no bolso.

O Neo da ficção científica fuleira, ao contrário do protagonista da franquia Matrix, não aprende a lutar kung fu em uma realidade simulada, mas sim, é uma espécie de guerreiro (???) imune ao gás venenoso da atmosfera e, para completar, é possuidor de dons telepáticos.


Um dos culpados pela existência dessa pérola cinematográfica é o produtor Charles Band, o cérebro por trás de inúmeros filmes tão toscos quanto esse. Band realizou essa aventura pós-apocalíptica e exportou para a Itália, país que na época produzia obras desse mesmo porte, tão indigestas quanto uma massa de pizza mofada.

Na Itália, esse longa-metragem chegou a ser exibido nos cinemas com o título I Robot Conquistano il Mondo, já no resto do planeta, essa tranqueira foi direto para as locadoras, porém se dependesse dos detentores do bom gosto e críticos “sérios”, iria direto mesmo era para a fogueira.

O longa-metragem foi escrito e dirigido por um tal de Tim Kincaid, um dos pseudônimos de Tim Gambiani, diretor que no início dos anos 80 dirigiu filmes pornográficos, bem como outros atentados chamados Mutant Hunt - O Exterminador de Humanóides e Breeders - A Ameaça de Destruição, lançados em VHS no Brasil pela finada Top Tape.

Robot Holocaust é um bom filme? Evidentemente que não, mas graças aos seus deméritos, pode ser visto como uma comédia. Além disso, sua trama, bem ou mal, lembra o estilo de ficção científica e fantasia das HQs e das animações da Heavy Metal.


Robot Holocaust - Recomendado para: sadomasoquistas que não se importam em assistir filmes que não possuem os melhores efeitos que o dinheiro pode comprar.
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