Superman, Batman (a Era iniciada por Tim Burton),
Blade, X-Men, Homem-Aranha.
Todos eles tiveram sua chance e fracassaram.
Mas a esperança de uma boa trilogia de cinema de HQs, com
qualidade ascendente permaneceu.
Quase uma certeza em 2012, que foi obliterada quando o
hypado terceiro Batman de Nolan cagou.
O candidato imediato passava a ser o equivalente da Marvel
no cinema.
Porém, mais do que isso, após o bilhão e meio de dólares
acumulado por Os Vingadores, Homem de Ferro 3 tinha a responsabilidade
de ser o primeiro passo concreto rumo a Os Vingadores 2. E isso não era
pouca coisa.
Claro que, existe uma série de percalços em um terceiro
filme.
Todo nerd ou pseudo sabe.
No caso de Homem de Ferro não foi a interferência do
estúdio, ou diretor megalomaníaco filmando 1hora e meia a mais pra dar
descarga nisso na ilha de edição.
O diretor Jon Favreau era a diferença.
Pois, se o cara havia compreendido o personagem Tony
Stark em sua essência, conciliando humor e ação, agora era a vez de Shane
Black tentar o mesmo, jogado direto num mar de expectativas que resultaram
na certeza de que, Homem de Ferro era sério candidato a "O"
blockbuster de 2013.
Mas claro, Shane Black não é Jon Favreau, e
nem quer ser.
Ele tem estilo próprio, e impõe isso com clima sombrio e menor
investimento no humor.
As piadas permanecem, porém mais pontuais. Meio que dosadas
de modo a marcar presença em uma trama que envolve mais do que o ego do Tony
Stark interpretado pelo Robert Downey Jr..
Em Homem de Ferro 3, os dramas do protagonista são
reduzidos, e o contexto emerge sufocando-o.
No roteiro há influência dos eventos pós-Vingadores,
e é interessante ver as referências políticas/tecnológicas convivendo em
diálogos que mencionam naturalmente alienígenas e deuses.
Sinal que a Fase 1 do Plano Marvel Studios funcionou.
O novo problema de Stark são crises de ansiedade que
mais estão ali pra dizer que estão, do que pra acrescentar o algo mais que o
herói em conflito precisa. Ainda que, pouco desenvolvido não chega a realmente
importar da mesma maneira que a ameaça de morte que o levou a ser escravo da
tecnologia pra permanecer vivo, ou a mudança de postura quanto ao seu papel,
outrora mercador de armas, agora persona heróica.
É um elemento presente da mesma forma que o interesse
romântico ou o alívio cômico. Mas não interessa, realmente.
Mais do que ele é o que está ao redor.
Os coadjuvantes ganham espaço, e seja o leal Happy Hogan
(Jon Favreau), ou o amigo Coronel James Rhodes (Don Cheadle), ou
mesmo o Jarvis com a voz do Paul Bettany, todos aparecem mais do
que o usual na franquia.
Funcionam pro contexto, que agora tem um ar diferente,
afinal, existe um vilão que parece querer mais do que atacar Stark ou
somar uns dólares.
As primeiras aparições do Mandarim interpretado por Ben
Kingsley funcionam muito bem pra construir uma atmosfera de ameaça
intocável que amedronta os USA há tempos.
No entanto, o roteiro dá a entender que dessa vez não vai
haver um embate aos moldes tradicionais, afinal, a questão política interessa
mais do que desavenças pessoais.
Claro que, enquanto produto hollywoodiano, o ataque à mansão
em Malibu é momento fundamental, pois estrutura Homem de Ferro 3 como
filme de ação pirotécnico bem filmado e terceiro ato de franquia,
frequentemente pendendo para o ponto de derrocada do herói.
E isso é deveras divertido.
Fato.
Não vou dizer que as piadas todas sejam eficazes. Porém,
consideremos sutileza, então.
O que incomoda na verdade é a falta de ritmo, um problema
que aflige a jornada de Tony Stark em meio a vários outros problemas em
um roteiro que parece não saber lidar com os objetivos do diretor, querendo
manter o aspecto sombrio e sério, além de piadas coladas ali pra não causar
estranheza ao público habitual.
Quando é engraçado, geralmente é depois de tentar criar
aquela ameaça tão batida e corriqueira que não prende a atenção o suficiente.
Quem conseguir rir e esquecer minutos tediosos que os precederam garante melhor
investimento pro valor investido na sessão.
Caso contrário, fica a sensação de estar lendo aquela edição
mensal da HQ de herói, que de maneira anti-climática e frustrante se mostra
peça descartável na coleção por não apresentar nada verdadeiramente importante
pro que vai ser visto no futuro do personagem.
Vale pelo completismo.
Además, soa que nem um episódio de seriado, com ação bem
dirigida e efeitos especiais competentes. Aquele entretenimento fulgaz,
competindo com outros momentos que nos levam àquela máxima perpetrada ao longo
dos séculos de que "Tudo bem. Não tinha que fazer nenhum sentido. É só um
filme de gibi".
Curiosamente, o mesmo Homem de Ferro que serviu nos
últimos verões pra estabelecer uma abordagem fantástica repleta de elementos
ancorados na nossa realidade, sem perder a essência das boas HQs, aqui se rende
às convenções existindo meramente como produção escorada nos recursos que se
compra com alguns milhões em Hollywood.
De todo modo, uma das que se destacam é uma faca de dois
gumes.
Mesmo que a grande cena do Mandarim tenha sim a sua
inteligência e ousadia, e adicione uma dose cavalar de crítica política ao
filme, vinculando a presença da mídia enquanto espinha dorsal catalisando pavor
no povo estadunidense, e que Ben Kingsley aproveite pra mostrar porque é
um baita ator, é impossível ignorar também que o mesmo efeito poderia ter sido
obtido de várias formas diferentes e que não resultariam em um desperdício de
potencial tão grande pro futuro da franquia e Universo Marvel nas telas.
E se momentaneamente fica aquele entendimento de que o
diretor realizou algo inesperado e por isso interessante, também fica
perceptível que o próprio cineasta não entendeu que tipo de filme estava
realizando.
Pra uma franquia com jeito de eterna, não basta enganar o
público com trailers e juntar dinheiro antes que a máscara caia. Tem um motivo
pra Homem de Ferro 3 ser parte de um PLANO Marvel. Funcionar
individualmente, e de maneira descompromissada não é o suficiente pra criação
de algo que pode levar a lucros muito maiores se seguidas produções arrastarem
multidões pra investir seus dinheiros, alimentando a expectativa de diversão de
duas horas, e somar mais peças do quebra-cabeças rumo ao próximo épico do
nerdismo.
Quando se percebe, tudo que é sombrio é resultado das cenas
noturnas, porque o restante é pastiche disfarçado.
Seja a profusão de armaduras, incluindo o Patriota de
Ferro (meras action figures), ou a destruição de elementos fundamentais da
mitologia do personagem, ou a participação de Pepper Potts (Gwyneth
Paltrow) servindo à aproximação com o que não é memorável nas HQs,
dialogando com os absurdos que não funcionam no live-action, pouco lembra o
equilíbrio visto nas partes anteriores da franquia.
Mesmo assim, o grande acerto da produção é certamente a
parcela de tempo em cena do ator-mirim Ty Simpkins, que devolve
humanidade ao protagonista, que vinha sendo cada vez mais transformado em
repetição de trejeitos de filmes passados, e menos icônico em uma trama que não
consegue sintonia com suas pretensões, e que não precisava em nada de tecnologia Extremis
ou do vilão genérico Aldrich Killian (Guy Pearce).
O saldo final é que Homem de Ferro 3 contém aqueles
minutos de pirotecnia e humor que o tornam uma visita adequada ao cinema. Ainda
que, o que era pra ser o seu maior trunfo consista no que o torna o menos
interessante filme do Marvel Studios já realizado.
Não fosse pelos desacertos do desequilibrado e sem ritmo
trabalho de Shane Black, poderia ser que após assistir o filme ficasse
na lembrança alguma de suas jogadas audaciosas.
No entanto, se a edição aventuresca e super-sentai durante
os créditos finais não é equivocada o bastante, a engraçada porém imprestável
cena pós-créditos só confirma que Shane Black provavelmente não ouviu
falar que um dia haverá um Os Vingadores 2.
Joss Whedon tem mesmo muito pra reclamar.
Homem de Ferro 3
(Iron Man 3)
Direção: Shane Black
Duração: 130 minutos
Ano de produção: 2013
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